Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Sérgio Dávila

ELEIÇÕES
AMERICANAS

"Mídia dos EUA tem na gaveta real resultado da eleição
presidencial", copyright Folha de S. Paulo, 3/11/01

"A mídia americana tem em suas mãos o resultado
da recontagem de votos das eleições presidenciais
no Estado da Flórida, que definiriam quem foi o vencedor
de fato do pleito do ano passado, George W. Bush ou Al Gore, mas
não deve publicá-lo tão cedo.

O trabalho custou US$ 1 milhão e foi encomendado por um
consórcio de empresas que inclui os jornais ?The New York
Times?, ?The Washington Post? e ?The Wall Street Journal?, a emissora
CNN, a agência de notícias ?Associated Press? e a revista
semanal ?Newsweek?, entre outros.

A recontagem foi feita pela Organização Nacional
de Pesquisa, Norc na sigla em inglês, renomado instituto de
estatística filiado à Universidade de Chicago. Segundo
Julie Antelman, a assessora de imprensa, ?os novos números
estão prontos e o trabalho está com as pessoas que
o contrataram?.

Profissionais ouvidos pela Folha em um dos jornais nova-iorquinos
dizem que a recontagem daria vitória para o então
vice-presidente democrata, Al Gore, mas as empresas acharam estrategicamente
ruim questionar a legitimidade do governo Bush neste momento. A
Norc não confirmou a informação.

A teoria é defendida pelo jornalista David Podvin, repórter
investigativo que mantém o site Make Them Accountable (www.makethemaccountable.com).
?O consórcio descobriu estupefato que, na recontagem, Gore
venceu sem dúvida nenhuma?, escreveu ele, citando como fonte
um executivo da mídia.

Indagado pela Folha, o assessor de imprensa do ?The New York Times?
confirmou apenas a opção de segurar a reportagem.
?Neste momento, não temos tempo, pessoal nem espaço
no jornal para nos concentrarmos no assunto?, afirmou Toby Usnik.

Segundo ele, o ataque de 11 de setembro, suas consequências
e os atentados bioterroristas são a prioridade atual da publicação.
O artigo com a recontagem da Flórida teria sido ?adiado indefinidamente?
-mas não abandonado.

?Basta fazer as contas?

Em dezembro do ano passado, a Suprema Corte dos EUA ordenou que
a recontagem dos votos na Flórida fosse interrompida, dando
assim a vitória ao então candidato republicano, George
W. Bush. Mas as dúvidas persistiram, principalmente pela
grande presença de votos anulados.

Isso levou, em janeiro último, os principais órgãos
de imprensa do país a contratar um instituto independente
e bancar a recontagem dos votos. Foi o que o Norc fez. Cada uma
das 180 mil cédulas em disputa foi reexaminada por três
pessoas diferentes, num trabalho que levou seis meses.

?Cada repórter e editor designado pelos membros do consórcio
recebeu em agosto os relatórios, que definem exatamente a
condição de cada uma das cédulas?, disse Julie
Antelman, do instituto. ?Basta fazer as contas e ver quem foi o
vencedor.?

O resultado não tem efeito legal, apenas moral. Além
disso, poderia servir como base para qualquer cidadão americano
que quisesse abrir uma ação questionando a legitimidade
de Bush.

Após 11 de setembro, porém, os membros do consórcio
se encontraram e decidiram unanimemente adiar a publicação
da recontagem. Nem o encontro nem a decisão foram noticiados
nos próprios órgãos participantes.

 

"Mídia americana tem o real resultado das eleições
presidenciais", copyright Panorama Brasil, 3/11/01

"A mídia americana já tem o resultado da recontagem
de votos das eleições presidenciais no Estado da Flórida,
que definiriam quem foi o vencedor de fato do pleito do ano passado,
George W. Bush ou Al Gore. O trabalho custou US$ 1 milhão
e foi encomendado por um consórcio de empresas jornalísticas.

Entre essas empresas estão os jornais ?The New York Times?,
?The Washington Post? e ?The Wall Street Journal?, a emissora CNN,
a agência de notícias ?Associated Press? e a revista
semanal ?Newsweek?.

A recontagem foi feita pela Organização Nacional
de Pesquisa, Norc na sigla em inglês, instituto de estatística
filiado à Universidade de Chicago. Segundo Julie Antelman,
a assessora de imprensa, ?os novos números estão prontos
e o trabalho está com as pessoas que o contrataram?.

Alguns especialistas asseguram que a recontagem daria vitória
para o então vice-presidente democrata, Al Gore, mas as empresas
acharam estrategicamente ruim questionar a legitimidade do governo
Bush neste momento."

 

"Presidente Gore?", copyright no. (www.no.com.br), 30/10/01

"A recontagem dos votos na Flórida que levaram George
W. à Casa Branca terminou. Foi encomendada pelos maiores
veículos de imprensa norte-americanos ? nomes de grife quais
?New York Times?, ?Washington Post?, ?Wall Street Journal?, CNN
etc. ? e empreendida pela Organização Nacional de
Pesquisa, NORC, um portento grupo estatístico filiado à
Universidade de Chicago.

E a decisão das melhores grifes da imprensa dos EUA foi
não divulgar os resultados.

?A publicação está adiada indefinidamente?
explicou ao ?Globe and Mail? canadense Catherine Mathis, vice-presidente
de Comunicação Corporativa do Times. ?Quando as coisas
se acalmarem, tenho certeza que estes resultados virão a
público. Mas não será nas próximas semanas?,
reiterou Steven Goldstein, que ocupa o mesmo cargo no ?Wall Street
Journal?.

Em comum todos explicam que a guerra mudou as prioridades. Todos
os recursos das redações ? de financeiros a humanos
? estão dedicados à cobertura de antraz, Afeganistão
e da política em Washington. Tocar na questão da legitimidade
da presidência, hoje, pode disparar uma crise que não
cabe ao momento. Além do mais, a análise dos dados
levantados pela NORC tomaria tempo e gente demais.

Ao ?Daily Telegraph?, de Londres, Julie Antelman da NORC questiona
a decisão. ?Eles estão prontos, poderiam fazer as
contas e conseguir resultados em uma semana de trabalho.? Os dados
estão todos tabulados e requerem apenas um programa de computador
que repasse a planilha e feche a conta. O programa, diz a NORC,
já existe.

À sombra de Bush

Com os números levantados dependendo de uma conta elementar,
a dúvida em pauta é por que não fazer ? ou
se não já foi feito. Ou seja, se o resultado pode
atrapalhar demais neste momento e a desculpa da falta de recursos
e só, afinal, uma desculpa, então é porque
George W. está ocupando a cadeira que pertence a outro.

O consórcio de imprensa, quando se reuniu em janeiro para
disparar a recontagem, imaginava três possíveis resultados.
Cenário 1, George W. ganhou mesmo, não há o
que se discutir. Cenário 2, a coisa de fato era muito confusa
e não dava para cravar ao certo um vencedor. Cenário
3, Al Gore venceu por uma pequena margem, uma pena, mas um erro
possível dado o erro estatístico.

O consórcio descobriu estupefato
que na recontagem Gore vencera com toda certeza. Mesmo após
deixar de lado as cédulas problemáticas e esquecendo
as mal marcadas, Gore havia vencido. Embora os números
precisos ainda não estejam disponíveis, um jornalista
do ?New York Times? que estava envolvido no projeto disse a uma
companheira que Gore havia vencido por uma margem suficiente ?para
criar grandes problemas para a presidência Bush se isso
vier a público.

O parágrafo vem da reportagem de David Podvin, um repórter
freelancer que mantém na Internet o site independente MakeThemAccountable.com.
Podvin cita ainda outro depoimento em off, este de um executivo
de uma das empresas que contrataram a pesquisa. Segundo o jornalista,
?informações anteriores desta fonte provaram-se corretas?.
Al Gore, pois, é o quadragésimo terceiro presidente
dos EUA.

Desconforto estatístico

As dúvidas levantadas pelas eleições do ano
2000 na Flórida viraram assunto de livros, provaram-se traumáticas
e ainda não se resolveram. Em todo o país, Albert
Gore recebeu cento e tantos mil votos a mais que seu oponente, o
então governador do Texas. Mas, nos EUA, eleições
são indiretas. Cada estado decide-se por um candidato e nomeia
eleitores para o Colégio Eleitoral. A vitória por
votos únicos não garante ? como não garantiu
? a Casa Branca.

As 25 cadeiras no Colégio da Flórida é que
decidiram. E, estatisticamente, o voto no estado mais ao sul dos
EUA terminou empatado, um resultado tão próximo que
os parcos 180.000 votos considerados inválidos seriam bem
mais que suficientes para desempatar.

Lá, vota-se através de um sistema de cartões
perfurados mecanicamente. O eleitor coloca o cartão numa
base, dobra uma alavanca na marca certa e o perfura. Os cartões
são, então, jogados numa máquina de contagem
não muito diferente das que tabulavam a loteria esportiva
em Pindorama faz uns dez anos. E assim foi feito. Só que
buracos parcialmente feitos, ou com o papelzinho ainda pendurado,
cédulas corrigidas a mão, todos estes casos são
passíveis de serem recusados pelas máquinas contadoras
quais fossem nulos.

A descentralização das decisões contribuiu
ainda mais para a confusão. Cada um dos 67 condados da Flórida
tinha comitê eleitoral próprio que tomava decisões
independentes. Após o fatídico 7 de novembro eleitoral,
uns decidiram iniciar a recontagem manual, outros decidiram mais
adiante, cada qual optando por critérios próprios.
Papelzinho pendurado preso por três cantos valia voto aqui,
preso por um canto não valia acolá.

As questões que beiravam ao ridículo foram parar
na Justiça. A Suprema Corte da Flórida decidiu que
valia o bom senso. O processo enrolou-se. Katherine Harris, uma
republicana que assessorava o governador Jeb Bush ? irmão
de George W. ? tinha o poder constitucional de oficializar resultados,
e com toda a relutância e a cada momento atrapalhava um pouco
mais o processo.

Quando bateu na Suprema Corte do país, os supremes
decidiram que mais importante que a recontagem era o prazo em 12
de dezembro. Prazo passado, valia pois o último resultado
oficializado por Harris. George W. levou a presidência por
537 votos, no momento em que as recontagens parciais mas jamais
oficializadas indicavam a diferença aproximando-se das dezenas.

Longos vôos

Vai fazer um ano que aconteceu a eleição e o mundo
hoje é outro, politicamente em quase tudo distinto do que
era nesta época em 2000. Os números que estão
nas mãos dos grandes jornais norte-americanos não
são oficiais e jamais mudarão o resultado oficial
da eleição.

No entanto, se Gore tiver ganho por uma margem grande, então
estarão em xeque instituições que vão
da Suprema Corte à eleição, passando pelo Colégio
Eleitoral e toda a forma como se sustenta a democracia no país.
Desconcentraria os EUA num momento em que concentração
é fundamental. Talvez de fato, no momento em que o país
foi atacado, não seja responsável publicar esse tipo
de informação ? se é que tenha sido isso mesmo.
É uma discussão delicada entre jornalistas, mas de
maneira alguma sem critério.

Afinal, na mesma Flórida, enquanto discutia-se o voto cédula
a cédula, um jovem estudante árabe tinha aulas para
pilotar avião. Chamava-se Mohammad Atta."

 

"Adiamento de divulgação da recontagem cria
especulações", copyright O Estado de S. Paulo,
4/11/01

"A poucos dias de completar-se um ano das eleições
que tornaram George W. Bush o 43.? presidente dos Estados Unidos,
um consórcio de órgãos de imprensa americanos
decidiu adiar ?indefinidamente? a divulgação da recontagem
dos votos na Flórida ? Estado que decidiu a eleição
em favor de Bush, dando-lhe os votos eleitorais necessários
no Colégio Eleitoral para tornar-se presidente, embora seu
rival, o ex-vice-presidente democrata Al Gore, tenha obtido a maioria
dos votos populares no país.

O anúncio do adiamento fez surgir especulações
de que importantes órgãos da mídia americana
estariam tentando evitar possíveis desgastes para a presidência
de Bush, caso ficasse comprovado que Gore fora o real vencedor na
polêmica votação daquele Estado.

Este consórcio, formado em janeiro pelas maiores organizações
da mídia americana ? The New York Times, The Washington Post,
The Wall Street Journal, Associated Press e CNN, entre outros ?,
decidiu encomendar a recontagem dos votos da Flórida para
a Organização Nacional de Pesquisa (Norc), ligada
à Universidade de Chicago, a um custo de US$ 1 milhão.

A auditoria está pronta desde o fim de agosto, mas os integrantes
do consórcio ainda não haviam iniciado uma série
de análises que, segundo especialistas, levaria alguns dias
de trabalho, para finalmente que os resultados pudessem ser divulgados.

Contudo, depois dos atentados de 11 de setembro em Nova York e
Washington, o consórcio decidiu não concluir a análise
e adiar indefinidamente a publicação de seu resultado.
A explicação unânime é a de que todas
as atenções estão voltadas à cobertura
da guerra, dos ataques bioterroristas e da crise econômica
e a análise tomaria tempo demais.

O consórcio alega ainda que a história da recontagem
se tornaria irrelevante diante da ofensiva militar. Além
disso, pôr em questão a legitimidade da presidência
de Bush poderia levar a uma crise inoportuna.

E então começaram as especulações:
segundo o site da Internet MakeThemAccountable.com, mantido pelo
repórter independente David Podvin, um jornalista do New
York Times teria dito a um amigo do Partido Democrata que Gore fora
o vencedor da eleição ? embora os resultados finais
ainda não estejam disponíveis para ninguém.

Em entrevista ao jornal britânico Daily Telegraph, Podvin
recusou-se a dizer qual é a sua fonte, mas diz que Gore teria
vencido de maneira inquestionável. O mesmo jornal, porém,
ouviu pesquisadores do Norc, segundo os quais os resultados finais
ainda não foram tabulados e é impossível ter
uma conclusão.

O impasse nas eleições de 7 de novembro foi causado
pelo sistema de votação no qual as cédulas
são perfuradas mecanicamente. Por causa de um desenho confuso,
muitos eleitores alegaram ter votado no candidato errado. A polêmica
chegou até a Suprema Corte, que acabou rejeitando a recontagem
dos votos, o que garantiu a vitória de Bush."

    
    
                     
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