Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Sugestão: inverter procedimentos

Adalberto de A. Barreto Filho (*)

É consenso, nas diferentes esferas da sociedade, que a mídia passou a ocupar, de fato, o espaço designado como Quarto Poder. Ao lado desta constatação, colocada em discussão sobretudo pelos que formulam propostas para a democratização deste poder, há a tendência de os meios eletrônicos, e crescentemente a internet, avançarem irresistivelmente sobre o espaço hoje ocupado pelos meios impressos de comunicação. A ética, ou o comportamento ético dos profissionais do meio, conduz à questão fundamental: o papel do jornalista como agente cultural, político e econômico.

É certo que o dinamismo das telas cinescópicas, videomonitores e o processamento digital de informação cresce e ganha cada vez mais espaço, enquanto os meios impressos sofrem tendências declinantes. Decorrerá muito tempo ainda até que a periferia, o terceiro e o quarto mundos venham a marcar presença competitiva neste novo espaço globalizado de comunicação. Aí então é que a postura de jornais e revistas como fontes de leitura, releitura e reflexão, como documento que não se degrada na instantaneidade de um clique de desconexão, revela seu papel de intermediário informativo e documental. Os grandes jornais de todo o mundo e as revistas não capitularam ainda diante do fluxo gigantesco do sinal eletrônico na transmissão de mensagens.

No Brasil, periferia do sistema capitalista, e a reboque das imposições do Primeiro Mundo, sendo os Estados Unidos detentores das formas pretensamente hegemônicas ditadas a proprietários e agentes da mídia local, o panorama é de predomínio de uma grande imprensa, grandes jornais, como Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo e o Jornal do Brasil, ao lado de revistas de grande circulação como Veja, Época e IstoÉ, entre outras.

Mídia orientada

Ao lado dessa realidade persiste a marcante resistência de um conjunto de jornalistas intensamente envolvidos na elaboração de propostas para o alargamento do acesso da população à informação e à cultura. Neste aspecto, os dados estatísticos nos são extremamente desfavoráveis, face a dimensão e as potencialidades de um país continental e exportador de matérias-primas naturais de seu vasto território: no Brasil se consomem 2,4 quilos por habitante/ano de papéis para impressão, contra 9,1 na Argentina e 46,7 nos EUA, segundo dados do Statistical Year Book da Unesco de 1994.

Aqui vigoram com extrema destreza as imposições desenvolvidas na matriz americana, a construção do consenso, a pauta ditada pelos detentores de jornais e revistas; a rede de factibilidade, por exemplo, quando ocorre a exaustiva repetição de matérias, freqüentemente originadas na rede oficial das agências governamentais. O que vem a se constituir numa receita comum, auto-referenciada, das equipes editoriais que geram a mesmice das manchete diárias dos grandes jornais. Fatos largamente estudados por críticos da comunicação como Noam Chomsky e Gaye Tuchman.

Falta muito para que seja conquistado um espaço verdadeiramente democrático por amplas camadas sociais. Jornalistas de renome revelam nos seus currículos o fel, às vezes duro e amargo do ofício, a exemplo do respeitado Janio de Freitas: “Não tenho visão simpática dos meios de comunicação”, em entrevista concedida à revista Universidade e Sociedade, do Sindicato Nacional dos Docentes de Nível Superior (Andes). Já o decano Barbosa Lima Sobrinho defende, com a insistência dos seus mais de cem anos de resistência, a necessidade premente de defesa dos interesses nacionais, lembrando que nenhum país é tão protecionista como os EUA e advertindo que “o capital se faz em casa”, e que “é preciso combater as forças econômicas que dominam o mercado”, que geram uma mídia meramente orientada por ele, de forma asfixiante.

A questão da técnica

Como ter um ambiente livre e criativo de trabalho no meio jornalístico se ainda imperam formas feudais de controle sobre a produção jornalística, gerando no limite os grilhões invisíveis da autocensura? A busca de ascensão e elevação do status social cria um círculo vicioso de convivência e conivência com as fontes “credenciadas”, “oficiais” ou detentoras do poder e dos anúncios, que limitam o alcance, a forma e o contexto das matérias. Merece compreensão os que fizeram do jornalismo não apenas um meio de sobrevivência e ascensão, mas um motivo para viver.

A difícil e árdua luta dos profissionais que se mantêm no equilíbrio entre a ética e a sobrevivência é igualmente digna do maior respeito e, apesar dos percalços, vai se expandindo. O profissionalismo então é usado como critério e garantia de uma qualidade mínima de trabalho. A questão hoje, contudo, é expressa sob uma forma mais aguda: no momento em que a “cabana eletrônica” acessa instantaneamente um volume de informação sequer imaginável, aumenta o volume de informação circulante e muito mais o de ruído, haja vista a preocupação crescente dos pedagogos com os efeitos perniciosos da medusa petrificante, a tela do computador e da TV, sobretudo a de feição eminentemente mercadológica, sobre a educação infantil.

Há quem defenda, como é o caso do jornalista e professor da UFSC Nilson Lage, a primazia do ensino universitário como padrão de referência a ser obedecido por “uma produção profissional de qualidade, inigualável por amadores” – segundo pronunciamento seu no II Encontro Latino-Americano de Ensino de Jornalismo, em São Paulo, de 8 a 11 de agosto do ano passado.

O que expõe a questão da técnica. Um fotógrafo amador fotografa sua percepção da imagem, sua humana emoção, por exemplo, necessitando do conhecimento para atingir objetivos, mobilizando recursos e efeitos. No caso do jornalismo, precisão, idoneidade, compromisso com o factual e independência. O problema se volta para sua dimensão maior, a necessária solidariedade social, como recurso contrário à apropriação do social por segmentos sociais, sobretudo pelos detentores do poder econômico e político, em detrimento da democratização do acesso à informação.

Jornalismo e sociedade

Acertado em sua proposta de recurso científico como forma de produção de um jornalismo sério e de qualidade profissional, que seja contrário a um certo individualismo místico que tem impregnado as preocupações acadêmicas da área, em seu pronunciamento o professor Lage peca pela discriminação do que não se pode definir com propriedade e precisão – o amador. Pois, assim como não é possível o estabelecimento da “credencial” de leitor para o leitor, a formação e a prática do jornalismo implica processo que antecede aos estudos superiores, como em qualquer arte, acrescenta-se com os recursos acadêmicos e continua por toda a vida, profissional ou não.

O que contraria a discriminação de uma minoria qualquer, mesmo aquela que se possa designar como culta – no Brasil, segundo manifestava o filólogo Antônio Houaiss pouco antes de sua morte, ano passado, lê-se menos de 1 livro por habitante/ano contra 24 na Finlândia. Pois a todos deve ser garantida a participação no processo de crítica e construção da atividade jornalística, sobretudo por ter se tornado o produto desta atividade um bem elevado, aceleradamente, à condição de primeira necessidade, na formação e na tomada de decisão, diante de um mundo cada vez mais impregnado de “globalizada” informação.

Parece mais feliz e acertada a proposição do filósofo Leandro Konder, ao formular a necessidade, sem preconceitos, de que “a sociedade deve se tornar mais crítica do jornalismo e o jornalismo mais crítico da sociedade”.

(*) Professor da Udesc

 

Lucas Stoque (*)

Para muitos, jornalismo é mais do que profissão. É paixão. Quando se decide seguir essa profissão é preciso ter consciência de sua importância. Algumas pessoas têm visão equivocada em relação ao jornalismo. Acreditam que, para informar, deve-se saber um pouco de tudo, ter um conhecimento amplo. O que é importante, mas não o bastante. O jornalista é um pesquisador. Um profissional que busca o conhecimento e que principalmente consegue a informação antes de todas as outras pessoas. Se não é assim, deveria ser. E a obrigação do jornalista é passar a informação adiante, da forma mais coerente possível.

Infelizmente o curso de Comunicação habilitação em Jornalismo não oferece aos estudantes a bagagem de que um profissional precisa. O curso apenas repassa técnicas necessárias para escrever uma matéria, apresentar telejornal e até como fazer planejamento gráfico. O que é insuficiente.

As pessoas lêem jornais e revistas, assistem aos programas de televisão para se informar, divertir, conhecer o mundo. E os jornalistas são responsáveis por “levar esse mundo” até as pessoas. Isso significa que a responsabilidade é grande e a carga, árdua. Dizer que jornalista é formador de opinião é conceito banalizado. Se o jornalista passa credibilidade é capaz de chegar às pessoas. Então, por que não o fazer com seriedade e responsabilidade?

Jornalismo é paixão para aqueles que percebem o papel social da profissão. E exercer a profissão é acreditar na possibilidade de transformar o cotidiano de quem está a nossa volta. Dos que nos escutam. Que lêem nossas palavras, esperam ansiosamente nossa imagem na hora do jantar. Isso não tem preço.

(*) Estudante de Jornalismo em Uberlândia, MG