Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Susto, cansaço, tristeza

DEPRESSÃO NACIONAL

Enquanto a grande maioria da população americana está grudada na TV para assistir à "nova guerra americana", assim chamada pelos âncoras, cerca de três quartos dos americanos se dizem deprimidos por causa dos ataques terroristas; quase metade teve dificuldade de concentração; e um terço apresenta distúrbios do sono. Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, que também afirma que três quartos da população acha assustador assistir à cobertura Da TV e quase dois terços dizem estar viciados no noticiário.

"Os americanos estão mais tristes, mais assustados e mais fatigados pelo que vêem na TV, em relação à Guerra do Golfo", diz a pesquisa. A boa notícia para a mídia, de acordo com Howard Kurtz [The Washington Post, 20/9/01], é que 89% dos entrevistados aprovaram a cobertura noticiosa. Isso, claro, pode mudar, principalmente se as organizações noticiosas comprometerem a segurança nacional caso haja, de fato, uma guerra.

A cobertura 24 horas dos ataques em Nova York e Washington, com imagens de morte e destruição e constantes menções de uma guerra por vir, é um pesado fardo psicológico. Entre as mulheres, 79% se disseram deprimidas, contra 62% dos homens. A pesquisa também revela que 69% das pessoas estão rezando mais. Entre os adultos com filhos, 30% dizem que têm restringido mais o tempo de TV para as crianças.

Por enquanto, poucos criticam os jornalistas. "A cobertura está fornecendo um prisma exato do que aconteceu", afirma Andrew Kohut, diretor do centro de pesquisa. Exagerada ou não, a cobertura está atingindo audiências astronômicas. O desastre e a possibilidade de guerra estão mantendo 81% dos americanos com TV e rádio ligados para as últimas notícias, e 46% da população está mais atenta ao que lê nos jornais.

Na opinião da população, a CNN é a emissora que tem apresentado melhor cobertura, abocanhando o gosto de 24% dos 1.200 entrevistados. Em seguida vêm ABC (14%), Fox News Channel (12%) e NBC (11%). A CBS é a campeã entre emissoras de TV aberta, sendo considerada a melhor para 7% dos entrevistados. A internet, segundo a pesquisa, também está tendo impacto: um terço dos entrevistados afirmaram que recorrem à rede para as últimas notícias.

PALESTINA

O Comitê de Proteção aos Jornalistas enviou carta de protesto ao líder palestino Yasser Arafat pelas ameaças feitas aos jornalistas que cobriam as celebrações no Oriente Médio após os ataques aos EUA.

No dia 11, em Nablus (Cisjordânia), fotógrafos e cameramen foram detidos por policiais armados para que não registrassem as festejos dos palestinos. Um jornalista free-lance da Associated Press foi intimado pela Autoridade Palestina e avisado de que o material gravado não deveria ir ao ar, caso contrário não haveria garantias de segurança. Três dias depois, jornalistas que trabalham na Faixa de Gaza tiveram fitas e filmes confiscados. O material foi devolvido com cortes ? algumas imagens e minutos de vídeo tinham sido apagados.

"Os atos de intimidação e censura violam as formas mais fundamentais de livre expressão", diz a carta. Segundo a Associated Press (18/9/01), o comitê, uma organização sem fins lucrativos, pede a Arafat "que a Autoridade Palestina pare imediatamente de ameaçar jornalistas".

REVISTAS

À exceção dos semanários, que têm maior flexibilidade, as revistas mensais e quinzenais americanas tiveram que se apressar para revisar suas edições após os ataques. Sejam elas publicações de interesse geral ou revistas femininas, os editores sentiram a necessidade de contextualizar artigos que, de outra forma, pareceriam irrelevantes ou insensíveis.

Para as mensais, como Good Housekeeping, a tarefa foi mais difícil, já que as edições ficam prontas semanas antes de chegarem às bancas. Ellen Levine, editora-chefe da revista, disse não ter encontrado soluções para a edição de novembro, que já estava sendo impressa, por isso decidiu anexar um cartão a cada exemplar com uma nota dos editores, dizendo compartilhar o sofrimento que muitos estão sentindo.

Anna Wintour, editora-chefe da Vogue, declarou que pretende mostrar forte apoio à indústria americana de moda, "tão prejudicada pelo desastre" (a Fashion Week, em Nova York, que é anual, foi cancelada).

Algumas publicações optaram por falar de pessoas que estavam nos aviões seqüestrados e tinham relação com o tema da publicação, caso da Vogue e da Sports Illustrated. A primeira publicará artigo sobre Berry Berenson Perkins, fotógrafo da revista nos anos 70, e a segunda pensa em escrever sobre Garnet Baily e Mark Bavis, jogadores de hockey do Los Angeles Kings. Perkins estava no primeiro avião que atingiu o WTC, e os jogadores, no segundo.

A quinzenal Forbes discutiu se deveria desistir do tema da próxima edição, considerado de mau gosto no contexto atual: a lista anual dos 400 americanos mais ricos. Ao final, os editores decidiram manter tudo como estava, embora o editor-chefe, Steve Forbes, atente para o fato de ter escrito sobre os ataques no editorial. Segundo Geraldine Fabrikant [The New York Times, 17/9/01], Forbes ainda se esforça para justificar a relevância da edição: "A lista dos 400 celebra os valores criatividade, liberdade, mobilidade e oportunidade. É a essência do capitalismo democrático e o oposto da agenda deles [dos terroristas]".

O editor da New Yorker, David Remnick, teve quatro dias após a terça-feira fatídica para revisar totalmente sua edição, que será dedicada ao ataque ao WTC, com textos de Toni Morrison e John Updike.

    
    
                     

Mande-nos seu comentário