Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Tabloidização da grande imprensa

A EUROPA, QUEM DIRIA…

Alberto Dines

Não há guerras à vista, nem crise mundial, nem onda de terrorismo, nem narcotráfico, depressão econômica, desemprego ou crise social. A sofisticada, politizada e culta Europa só enxerga o novo escândalo envolvendo o príncipe Charles. Na verdade é um não-escândalo transformado em notícia de primeira grandeza pelo empenho da Coroa britânica em abafar o caso [veja, abaixo, notas sobre o caso].

E por que razão jornais sérios e respeitáveis como o Le Monde e El País (e outros quinze diários de diferentes países) decidiram cobrir uma fofoca sequer confirmada? No caso do vespertino francês, tudo indica revanche política (ou esportiva ? dá na mesma). Nos outros casos deve ser macaquice e/ou sensacionalismo.

Quem lavrou um tento foi o mais tablóide dos tablóides ingleses, The Sun, que chamou a atenção dos jornalões pela falta de compostura.

O caso pode ser ridículo, vexatório ou insignificante, mas a grande verdade é que a União Européia viveu um perigoso retrocesso quando um distribuidor de jornais na Inglaterra embargou a circulação de veículos de outros Estados-membros para atender a uma decisão judicial local. Arquivou-se a idéia federativa e o conceito da livre circulação de pessoas e idéias no continente.

Ninguém estrilou porque a mídia européia está com a sua auto-estima lá embaixo. Acredita-se dona da verdade mas não consegue apresentar-se como alternativa à imprensa americana. Isto é péssimo para todos.

ASPAS

"Inglaterra: Le Monde vetado", copyright O Globo, 12/11/03

"A edição do jornal francês Le Monde de ontem [terça, 11/11] não foi distribuída na Grã-Bretanha por causa de um artigo sobre os boatos de escândalo sexual nos quais o príncipe Charles estaria envolvido. A decisão, segundo o diário, foi tomada em caráter preventivo pelo distribuidor local depois da publicação de um artigo do correspondente do Le Monde em Londres sobre o caso que há dez dias trouxe a realeza britânica de volta às manchetes.

A imprensa britânica não pode abordar o assunto devido a uma proibição do Supremo Tribunal."

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"Financial Times preferiu não correr riscos", copyright O Globo, 12/11/03

"Segundo uma fonte do Le Monde, o serviço jurídico do jornal Financial Times, que devia garantir a distribuição do jornal francês na Grã-Bretanha, considerou que o diário britânico corria o risco de ser atingido pela ação na Justiça apresentada por Michael Fawcett, ex-empregado de Charles envolvido no escândalo. Com isso, o Financial Times preferiu evitar problemas, impedindo a distribuição do Le Monde.

No sábado [8/11], 15 jornais europeus que falavam sobre o caso, entre eles o francês Le Figaro, o italiano La Stampa e o espanhol El Pais, não foram distribuídos na Grã-Bretanha.

O mais novo escândalo sexual envolvendo a família real britânica estourou com a divulgação de uma história segundo a qual Charles teria sido visto na cama com Fawcett, em 1989, por George Smith, um de seus criados. Smith disse ter presenciado a cena ao levar café para o príncipe em seu quarto. No entanto, um outro ex-empregado de Charles, Simon Solari, saiu em sua defesa alegando que pelo posto que ocupava na hierarquia do Palácio de Kensington Smith não teria jamais acesso ao quarto do príncipe."

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"Tablóide pede para deixarem príncipe em paz", copyright O Globo, 12/11/03

A repercussão do caso levou até tablóides sensacionalistas como o Sun a admitirem que a imprensa está dando corda a uma história sem muito fundamento. ?O Sun não acredita em
uma só palavra, nem conseguimos encontrar quem acredite?, afirmou o jornal num artigo de página inteira que rejeitou a acusação contra o príncipe. ?Deixem-no em paz?, exclamou a manchete, a respeito de Charles."