Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tácito Costa

BAIXO NÍVEL

"Além dos apocalípticos e integrados", copyright Tribuna do Norte, 3/12/01

"As análises sobre a televisão, que têm ocupado muito espaço nos jornais ultimamente, em decorrência do processo acelerado de degradação da programação, ainda se encontram presas ao reducionismo e maniqueísmo que Umberto Eco apontava e tentava superar há mais de vinte ano em seu famoso livro ?Apocalípticos e Integrados?.

De um lado, os que vêem os meios de comunicação de massa como o principal agente da alienação moderna (os apocalípticos). Do outro, os que acham que eles contribuem para melhorar o nível da cultura (os integrados). No meio, os que vêem o que estes meios têm de bom e de ruim. Embora esteja cada vez mais difícil apontar algum programa que ela produza que tenha realmente qualidade ou importância.

Basicamente, as críticas tentam chamar a atenção para o baixo nível da programação e o potencial de alienação, imbecilização, incitação à violência e burrice que eles causam. Quanto ao lixo que vai ao ar, não há o que discutir. Todos concordam. Agora, com relação aos efeitos que essa programação pode provocar, a discussão é polêmica.

Em seu livro ?Teorias da Comunicação?, o italiano Mauro Wolf, cita outro estudioso J. T. Klapper (autor de ?Os efeitos da Comunicação de Massa?), para mostrar que talvez seja ingenuidade acreditar num processo automático de causa e efeito com relação a alienação provocada pela programação dos MCM: ?Os elementos do público não se expõem à rádio, à televisão ou ao jornal num estado de nudez psicológica; pelo contrário, apresentam-se revestidos e protegidos por predisposições já existentes, por processos seletivos e por outros fatores?.

Essa constatação levou Mauro Wolf a seguinte conclusão (que vem no parágrafo seguinte à citação de Klapper), com a qual concordo inteiramente. ?A interpretação transforma e adapta o significado da mensagem recebida, fixando-a às atitudes e aos valores do destinatário até mudar, por vezes, radicalmente, o sentido da própria mensagem?.

O autor italiano, em seu livro, repassa criticamente todas as teorias acerca da comunicação de massa e conclui que ?de uma forma global, todos os estudos acerca da forma da mensagem mais adequada para fins persuasivos, salientam que a eficácia da estrutura das mensagens varia, ao variarem certas características dos destinatários, e que os efeitos das comunicações de massa dependem essencialmente das interações que se estabelecem entre esses fatores?.

E por não levar em conta todos essas variáveis, uma boa parte das críticas sobre os meios de comunicação resulta simplista, pouco fundamentada e às vezes preconceituosa."

 

INFÂNCIA & VIOLÊNCIA

"A infância na mira da imprensa", copyright o Globo, 10/12/01

"Um dos fatos intrigantes dos recentes ataques terroristas foi ver os suicidas afegãos buscarem sentido para suas vidas através da morte. É algo que inquieta e preocupa, sobretudo ao observarmos que o mesmo fenômeno inspira meninos e jovens no Brasil. Se brasileirinhos que entram no tráfico de drogas sabem que são pífias suas chances de sobreviver aos 20 anos de idade, é justo deduzir que também para eles a morte passou a assustar menos que a vida.

Decisão deste porte, de dramáticas repercussões existenciais, familiares e sociais, deveria convencer a imprensa da necessidade de vasculhar as raízes da violência infanto-juvenil e suas soluções. Porém, em geral, não é o que ocorre, a despeito da boa-fé do jornalista.

A violência continua no topo da pauta dos jornais. O brasileiro é confrontado diariamente com um cenário de guerra. A cobertura choca, provoca reações. Contudo, intriga e confunde a superficialidade e descontextualização da maior parte do noticiário sobre a criminalidade envolvendo crianças e adolescentes. Esta situação fica evidente na pesquisa Balas Perdidas, feita pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), tendo como objeto de análise 14.905 textos publicados entre julho de 2000 e junho de 2001 pelos maiores jornais brasileiros. É alarmante, mas a análise mostra que 80% das matérias utilizam como fonte exclusiva de informação os Boletins de Ocorrência das Delegacias de Polícia (os BOs). Ou então a ?boca do delegado?. Isso ocorre apesar de os precários BOs induzirem a erros de informação, quando não a prejulgamentos de suspeitos, com freqüência ?condenados? pelo delegado antes de o juiz bater o martelo sobre o caso.

O resultado são reportagens distorcidas, limitadas à narrativa não raro sensacionalista do delito infanto-juvenil, o que contribui para formar um falso juízo da realidade. Os relatos reforçam o estigma criminoso. Pior, hiperdimensionam a delinqüência, a periculosidade e a impunidade do jovem infrator. Crianças e adolescentes são ?satanizados?, ao ponto de vermos crescer a nociva tese conservadora da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, a qual sustenta que o jovem é o principal responsável pelo aumento da criminalidade e de que, ?brando?, o Estatuto da Criança e do Adolescente incentiva a violência.

No entanto, para questionar essa tese, bastaria uma olhada em outro estudo, do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e o Tratamento do Delinqüente (Ilanud), e no artigo ?A questão da maioridade legal?, do professor de direito da PUC/SP, Oscar Vilhena Vieira, publicado na edição da pesquisa da Andi. Ambos provam que crimes praticados por adolescentes representam apenas 4% do total de crimes, e que dos jovens que chegam à Unidade de Atendimento da Febem de São Paulo, apenas 1,6% são suspeitos de homicídios e 0,3% de latrocínio (roubo seguido de morte). A maioria das infrações juvenis (75%) é praticada contra o patrimônio. Portanto, o perfil é muito menos violento do que faz crer um noticiário que se baseia no BO.

Por não duvidar do BO, e praticamente se limitar a ele, a cobertura da imprensa brasileira sobre a violência juvenil não contribui com reflexões nem com idéias, não contribui para o debate e por conseqüência não interfere nas políticas públicas. A avaliação da Andi mostra que continua corriqueiro o desprezo a fontes imprescindíveis à abordagem ampla do tema, como os Conselhos de Direitos e Tutelares, que detêm informações fundamentais capazes de posicionar corretamente o quadro da violência infanto-juvenil.

É certo que a aprovação, há dez anos, do Estatuto da Criança e do Adolescente inaugurou nas redações uma ótica inspirada nos direitos dos jovens em conflito com a lei, mas mesmo com este avanço não se chegou ainda a uma visão da violência como fenômeno social. Entre os pontos positivos, a pesquisa mostra que a mídia avançou nas referências aos jovens infratores. Cada vez menos o agressor e a vítima são retratados de forma desumana ou depreciativa, embora ainda se continue a chamar infratores pobres de ?menores? e infratores ricos de ?adolescentes?. Uma ótima notícia é que hoje quase nunca se confunde o furto (sem violência) com roubo (com violência), pois ajuda a não superestimar a responsabilidade dos jovens pela criminalidade. Tanto melhor é a abordagem quanto menos o assunto é tratado por editorias de polícia. Não é à toa que entre os jornais mais bem situados no ranking da Andi a maioria aboliu as seções de polícia. Esses últimos dados são indicativos importantes de uma mudança, embora tênue, de uma postura preconceituosa para outra, pró-ativa. Assim como o é a disposição dos jornalistas de dialogar. A pesquisa da Andi será motivo de debate e reflexão, hoje e amanhã, em seminário no Rio de Janeiro. A presença já confirmada de 50 jornalistas é notícia a ser comemorada. Mostra que, ao contrário dos meninos do tráfico, a quem restou uma luta sem esperança, esses profissionais acreditam na força transformadora do seu ofício. (RUBENS AMADOR é editor- executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância.)"

 

PUBLICIDADE CONJUNTA

"Projeto já reúne os dez maiores jornais do País", copyright O Estado de S. Paulo, 10/12/01

"Os jornais Diário Catarinense (SC), Diário de Pernambuco (PE), Gazeta do Povo (PR), O Povo (CE) e A Tarde (BA) são os mais novos integrantes do projeto Anúncio Brasil, que entra em sua segunda fase com dez jornais e uma circulação de 1,574 milhão de exemplares a partir de hoje. Lançado em abril, o projeto foi liderado pelo Estado (SP), O Globo (RJ), Zero Hora (RS), Correio Braziliense (DF) e Estado de Minas (MG) visando oferecer uma opção para anunciantes que abrangesse os principais mercados do País.

Com a ampliação, diz o diretor comercial do Estado, Roberto Mesquita, o Anúncio Brasil atinge, agora, Estados que representam 83% do Produto Interno Bruto (PIB) do País e uma cobertura que nenhum produto impresso oferece, atingindo 45% a mais que a circulação da maior revista semanal nos dez Estados, de acordo com os dados do IVC de outubro.

A segunda fase do Anúncio Brasil traz, ainda, outra novidade, além da campanha publicitária criada pela Talent Biz, de Júlio Ribeiro: a opção de veiculação de anúncios em uma página. Antes, existiam apenas os formatos 8 colunas por 28 centímetros e página dupla. Assim, dentro dos três formatos, os anunciantes terão duas possibilidades de cobertura geográfica: a primeira abrangendo os cinco jornais que deram início ao projeto e a segunda, os dez jornais, ou seja a veiculação somada aos cinco novos participante..

O Anúncio Brasil foi desenhado exclusivamente para indústrias dos segmentos de cosméticos, higiene pessoal, informática, automobilístico, moda (vestuário, calçados, adereços e moda íntima), farmacêutico, alimentício, bebidas, higiene e limpeza, eletroeletrônicos, linha branca, governo federal ( Ministérios e Secretarias), indústria de base (metalúrgicas e siderúrgicas) e empresas pontocom.

Segundo o diretor de Publicidade do Estado, Marcos Nogueira de Sá, o projeto representa, antes de mais nada, um esforço para trazer ao jornal anúncios que tradicionalmente estavam em revistas, nos fins de semana. Com veiculação aos domingos, o Anúncio Brasil, diz Sá, tem reafirmado o meio jornal como vital em estratégias de lançamentos de produtos e anúncios institucionais. Sá exemplifica com os resultados do próprio Anúncio Brasil em sua primeira fase, com cinco grandes jornais: foram 60 anúncios resultantes de 13 operações, o que representou mais de R$ 3 milhões de receita para o meio jornal. Os anunciantes, destaca Sá, foram dos segmentos de alimentação, aviação e empresas pontocom, que tradicionalmente não faziam uso de jornais, dando preferência a revistas.

Executivos dos cinco jornais participantes endossam o sucesso da iniciativa e esperam que, agora, com uma rede de dez jornais, o Anúncio Brasil ganhe ainda mais fôlego, ampliando a receita para o meio. Para Cristiano Nygaard, diretor-geral da rede jornais RBS, grupo que edita Zero Hora, as facilidades do Anúncio Brasil – uma única autorização, uma única fatura, um único material e agilidade e cobertura do meio jornal – ?são os diferenciais para os anunciantes que optam pelo produto.?

Já o diretor de Mercado da Infoglobo, empresa que edita O Globo, Paulo Eboli, diz que o ingresso de mais cinco jornais consolida a marca nacional do produto. ?O que já era bom, ficou melhor.? Os executivos de todos os jornais são unânimes em destacar essas qualidades do Anúncio Brasil, que tem contribuído para a receita do meio, que investiu pesado em equipamentos de última geração que garantem uma impressão de qualidade."