Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Telhado de vidro

Edição de Marinilda Carvalho

O destaque desta edição são as cartas de dois repórteres.

Primeira carta: Paula Pereira, do Estadão, escreve ao OBSERVATÓRIO para criticar artigo do colega Luís Nassif na Folha, sobre o caso da explosão no shopping de Osasco. Nassif diz no artigo – coincidentemente, publicado em nossa seção Entre Aspasque D. Ilka Zanotto, mãe de um dos acusados de responsabilidade na tragédia, teria elogiado a isenção de apuração apenas da Folha e da TV Cultura. Paula afirma que D. Ilka elogiou o Estadão também. Vale a pena ler a longa carta que D. Ilka enviara tempos atrás ao OBSERVATÓRIO, que reitera o que Nassif diz.

Segunda carta: a resposta de Nassif, que dá nova dimensão ao episódio.

O assunto é delicado. Estamos aguardando manifestação de D. Ilka para posteriores esclarecimentos. No pé desta página, o leitor encontrará links para o artigo de Nassif e a primeira carta de D. Ilka ao O.I..

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Clique sobre o texto sublinhado para ler a íntegra.

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Trabalho como repórter no jornal O Estado de S. Paulo e, como tenho participado, desde o inicio, da cobertura sobre a explosão do Osasco Plaza Shopping, sempre recebo informações das vítimas e do shopping a respeito do assunto. Há cerca de dez dias, recebi mais um dossiê de Ilka Marinho de Andrade Zanotto, mãe de Marcelo Zanotto, um dos sete acusados pela explosão. Em seu dossiê, “para não incorrer no mesmo crime de desmoralização gratuita” da qual seu filho teria sido vítima, D. Ilka cita “na grande imprensa paulistana as honrosas exceções da Folha de S. Paulo, de O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde (…), da Gazeta Mercantil, do Diário do Comercio e da Industria, da TV Cultura” etc. Qual não foi minha surpresa ontem, dia 15 de julho, ao ler na coluna do jornalista Luís Nassif, publicada no caderno Dinheiro da Folha, que D. Ilka “ressalva a posição de apenas dois veículos, a TV Cultura e a Folha“, diante do “pesado muro de unanimidade” que teria sido erguido pelo restante da imprensa. Paula Pereira

O dossiê que recebi mencionava Folha e TV Cultura, assim como aquele enviado ao OBSERVATÓRIO. Portanto, pode-se aquilatar quem é leviano na história. Paula me escreveu, informando de um dossiê onde o Estadão é elogiado. Reiterei que no que recebi só havia a Folha e a TV Cultura. Pedi que ela me enviasse via fax, mas até a hora em que saí do meu escritório, logo depois do almoço de sexta [dia 17/7], o fax não havia chegado. De qualquer modo, ela foi informada por mim: reproduzi na coluna estritamente os termos do dossiê recebido. Mesmo assim, ela escreve ao OBSERVATÓRIO desconsiderando completamente o que lhe disse. Luís Nassif

Gostaria de transcrever para a reflexão do nosso Lira Neto e dos leitores trecho, de autoria de Ramalho Ortigão, em As Farpas IX, escrito a propósito da nova lei de imprensa em Portugal, por volta de 1870: “Se nós, particulares, tivéssemos de garantir-nos contra os governos com a mesma segurança com que os governos se acham garantidos contra nós, a primeira obrigação que lhes imporíamos seria a de terem um jornal e de imprimirem nele em cada manhã absolutamente tudo quanto pensassem de nós, para bem e para mal, mas principalmente para mal (?)”. José Rosa Filho

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Tive a oportunidade de ler artigo referente ao assunto extremamente sério sobre veracidade de informações. Acredito que tal fato deva ser amplamente debatido junto à imprensa, especialmente buscando-se uma co-responsabilidade da mesma em fatos em que ocorra desgaste de imagem de setores, pessoas e instituições. Muito se fala a respeito da Lei de Imprensa, mas acredito que este tema mereça um fórum específico de esclarecimento para o público em geral.

Faço parte da diretoria de um grande hospital em São Paulo que há alguns dias viu-se envolvido em uma fofoca jornalística, e acho que tais fatos não podem passar sem o devido registro.
Claudio Lottenberg, Hospital Albert Einstein

A questão da concentração da informação pelos grandes conglomerados transnacionais é uma conseqüência direta do contexto neoliberal.

Atualmente, vivemos um boom de notícias. No entanto, os interesses desses grandes grupos se refletem diretamente no conteúdo das mesmas.

A retórica da “livre concorrência” parece estar produzindo um novo tipo de censura, comandada pelos interesses mercado.

Então me pergunto: onde fica a “imparcialidade” do jornalismo contemporâneo?

Leonardo de Araújo e Mota, sociólogo, Fortaleza

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Buscando na Internet algo relativo à crítica de mídia encontrei essa revista, parabéns. Não sou jornalista, nem trabalho no setor de comunicação, entretanto, é tema que me interessa e preocupa.

Gostaria de participar desse caderno, perguntando: no trabalho do prof. Venício, “O Mapa da Mídia”, não vi citação à Rede Record de Edir Macedo. Será que essa empresa, a Igreja Universal, ainda está tão por baixo, a ponto de o SBT ser citado num trecho do trabalho e a Record não? Seria interessante que a revista atentasse para eles, porque eles não estão para brincadeira…
Salvador Benevides

Resposta do professor Venicio A. de Lima
Que eu saiba a TV Record – ao contrario das outras redes citadas no texto – não está envolvida em nenhuma transação de compra, joint venture ou parceria nas novas áreas abertas no setor de comunicações, a partir da quebra do monopólio do Estado nas telecomunicações.

Se o leitor souber de alguma coisa nessa área, gostaria muito que ele partilhasse a informação conosco.
Venicio A. de Lima, Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política, Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares, Universidade de Brasília

Comentário injusto o do texto “Jornais cobrem jogos de olho na TV”. Todos os que estavam no La Beaujoire de Nantes, no dia de Brasil x Marrocos, viram a discussão entre Dunga e Bebeto, e já não se falava em outra coisa na tribuna de imprensa antes mesmo do encerramento do primeiro tempo. Sem querer minimizar a influência excessiva da televisão na pauta dos jornais (é bom lembrar que estes também pautam, felizmente, a TV), nesse caso a crítica é descabida.
André Fontenelle, editor-executivo de Lance!

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A afirmação de que os jornais chegaram praticamente no mesmo horário no domingo, com a cobertura do jogo Brasil x Chile, não é verdadeira. Sou assinante da Folha de S. Paulo em Recife, e só recebi a edição daquele domingo na segunda-feira. Preferia receber a “morna edição” tradicional do que ficar sem jornal nenhum. O fato serviu como exemplo para mim de que a edição de domingo é fechada na sexta-feira não por “preguiça” das redações, mas por falta de condições técnicas mesmo.
Vânia Carvalho

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Realmente, existe vínculo intransponível entre jornais/Copa/televisão. Não há notícias alheias ao futebol em dia de jogo da Seleção Brasileira. Mas, o pior não é isso. O Pedro Bial, que sempre foi um sujeito excelente, jornalista de qualidade, está exagerando no “caminho poético”. Depois de todos os jogos do Brasil há uma reportagem-poesia, em que suposta literatura romântica é externada em face da performance dos jogadores: fulano “voa”, sicrano “desliza no oceano”, beltrano “é mágico” – daí por diante. Um texto meloso, acompanhado de imagens exclusivas, em câmara lenta. Diabéticos não podem assistir a essa parte do Jornal Nacional e (ou) Fantástico: muito açúcar, de qualidade duvidosa.
Egon Bockmann Moreira.

A campanha presidencial nem começou oficialmente e a imprensa brasileira coloca todo o seu time no campo, mostrando como será o engajamento na campanha de Fernando Henrique Cardoso e candidatos a governos estaduais.

Dá vergonha fazer jornalismo comparado em bancas. Os jornais estão assumindo descaradamente o caráter publicitário de suas coberturas.
Carlos Plácido Teixeira

A câmera subia lentamente, distanciando-se do túmulo, com o fundo musical “Pense em mim”, maior sucesso da dupla caipira, igualzinho ao enterro do Ayrton Senna, em que a câmera se distanciava e ouvíamos o “tema da vitória”, imortalizado pelo corredor. É mole? A Globo criou um “know-how” de coberturas fúnebres! É duro ser brasileiro!
José Roberto

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Parece que a solidariedade, a identificação com a dor alheia, o respeito à privacidade, tudo foi tragado pela soberana mídia e transformado nesta grande arena circense.
Mário Joanoni

Que tal, para evitar este tipo de erro [uso indevido de foto pelo Globo, edição 48 do OBSERVATÓRIO], utilizarmos cada vez mais a prática de o fotografo participar da edição, já que muitas vezes ele nem tem contato com o filme revelado nos jornais e revistas? Vamos fazer uma campanha? Se foto e texto não casam…
Marcos Issa, fotógrafo da agência Argos, São Paulo

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Por acaso o fotógrafo pediu permissão para usar a imagem da garota?

Não? Processo nele ou no jornal!
Marcos Nava

 

Um bom exemplo de lixo é o Fantástico, com uma ridícula apelação melodramática. O seu oposto é o Vitrine, da TV Cultura. Será que se o Vitrine passasse na Globo e o Fantástico na TV Cultura os níveis da audiência permaneceriam os mesmos para os dois programas? Será que o lixo ainda reinaria? Felipe Senna.

Digo colegas por pequena prepotência :-): sou estudante de jornalismo cursando o primeiro ano.

Parabéns pela iniciativa de, literalmente, observar o uso deste mecanismo que é a imprensa. Cada participante possui grande poder nas mãos, portanto, atitudes e iniciativas devem ser cuidadosamente observadas.

Nós – público – agradecemos!!
Leandro Rodrigues

O mais interessante é que certos jornais decretaram que o leitor não gosta de ler. Daí colocarem textos curtíssimos, muitos deles explicando didaticamente o conteúdo de uma foto. A legenda não deveria ser em braille?
Ernani Porto

 

Sim, ainda bem que existe uma publicação como o OBSERVATÓRIO. Gostaria de receber a edição impressa. Sou professor da UFRJ e da Veiga de Almeida, onde coordeno o curso de Jornalismo. Vou tornar o site obrigatório para todos.

Gostaria também de mandar um grande abraço para o Argemiro Ferreira, velho companheiro de redação fora do meu convívio há muitos anos, desde o tempo em que dividíamos a redação com Ivan Alves, Cláudio Bojunga, Nahum Sirotsky, Milton Temer e muitos outros no Jornalismo da TV Educativa.

O serviço que o Observatório presta e incalculável. Estou tentado a imitá-lo na universidade.

Luís Carlos Bittencourt

 

O chamado quarto poder tem muito o que aprender e apreender no mundo, não só no Brasil. Basta lembrar o caso Monica Lewitsky-Clinton, nos EUA; o da a princesa Diana, no Reino Unido; o dos juízes de mãos limpas na Itália, i tak dalhe (etc.), como dizem os russos. Já vi e ouvi o jornalista Alberto Dines falar sobre a necessidade de separar-se o empresário de jornalismo (ou midiatismo, para ser mais atual) do jornalista, antes chamado de repórter. Creio que por aí se poderá vislumbrar o caminho que mais levará ao interesse do leitor ou do televidente. Na Geórgia, no Cáucaso, aprendi o ditado: “Para que serve a estrada se não conduzir à catedral?” Parodiando, poderia dizer: “Para que serve a mídia se não conduzir à democracia?”

Obertal Mantovanelli

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Acompanho quando possível a retransmissão do programa aqui no Ceará. Embora tenha ouvido muitas justificativas sobre o direito de dono de jornal dar opinião, não aceito que isso seja ético, pois a propagação de suas idéias tem a solenidade que acompanha a palavra Editorial. Não é mais ético que quem escreva assine a nota?
Paulo Roberto Gimenes, Fortaleza

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Quando o título excede ou não preenche o espaço definido, bate uma preguiça mental e encontra-se logo uma saída “genial”. Genial como “Banheiro sem ar vira cativeiro de comerciante”. Ou o pobre comerciante morreu sufocado ou então passou alguns dias insatisfeito pela ausência do seu ar-condicionado… Cláudio Gunk

 

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Continuação do Caderno do Leitor

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