Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tempos irreais

REAL TIME

Victor Ribeiro (*)

Não é novidade que o tempo real das páginas noticiosas é a menina dos olhos dos jornais online, das agências e páginas de notícias. No entanto, a maneira como se faz não é proporcional ao grau de importância que estes serviços assumiram para o público.

Muitos erros. Tudo bem, errar é humano. Ainda mais quando o repórter dá um flash e alguém na redação coloca a nota no ar imediatamente. O problema é não assumirem o erro. Talvez por vaidade, muitas páginas não admitem a possibilidade de veicular informações equivocadas. No domingo 11/1, por exemplo, algumas páginas famosas assassinaram um dos desaparecidos no acidente de Jaboticabal (SP). Só para lembrar: um ônibus com 30 apanhadores de laranja foi arrastado pelas águas do Córrego Santa Maria, deixando 8 mortos e 4 desaparecidos.

Às 12h22, a Agência Brasil (ABr) divulgou informação anunciando que os bombeiros teriam encontrado o corpo "de uma mulher, vítima do acidente". O Globo On repetiu a nota no Plantão, às 12h57. Às 13h43 foi a vez de a Agência Estado (AE) distribuir o comunicado aos seus assinantes. Finalmente, às 14h56, a AE informava que, na verdade, o "corpo encontrado por bombeiros era de um cachorro". Muito bem! Desmentiram uma notícia não checada, porém, veiculada. Não deveriam ter veiculado, mas já que o fizeram, pelo menos tiveram a lisura de reparar o erro.

Mais grave foi a postura do Globo On e da ABr, que não desmentiram as notas. É sutil a diferença anatômica entre um animal e uma mulher. Afinal, qual o problema de confundir mulher com cachorra? Aqui no Rio os funkeiros fazem isso e não é de hoje. Será que ninguém procurou saber se a história era válida?

Questionam-se então os critérios usados para noticiar em tempo real. Foi falta de atenção? Será vergonha assumir um erro? Será preguiça de apurar, de checar uma informação que chega, como fez a AE?

Melhor não dar

Um mínimo de apuração não faz mal a ninguém. O problema é que era domingo. Redações vazias. Jornalistas cansados da farra de sábado… Ninguém está muito a fim de apurar, sabe?

Mas o repórter é pago para isso. Fico me perguntando a razão de isso acontecer. Será que não há chefia nas redações aos domingos?

Tenho um professor que diz que esta cultura do "copiar e colar" ainda vai render muito pano pra manga. Ainda vai ter muito erro. E cada equívoco ecoará: será repetido por outros veículos até que se desminta. No entanto, como aconteceu desta vez, corrigir não foi regra, mas exceção. Somente os que tinham assinatura da AE souberam que o corpo encontrado era de um cachorro. Os outros internautas foram lesados em seu direito de acesso à informação, prejudicados pela vaidade de certos repórteres, vaidade de certas empresas.

Já está na hora de agirmos com mais seriedade e respeito ao público. Melhor não dar informação do que dar errado e não voltar atrás.

(*) Estudante de Jornalismo na Universidade Federal Fluminense, integrante da equipe do <www.fazendomedia.com>