Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Teoria da conspiração

ZIMBÁBUE

Um repórter e um fotógrafo do Daily News, único veículo independente do Zimbábue, foram detidos sob acusação de seqüestro e tortura. Segundo a polícia, Mduduzi Mathuthu e Grey Chitiga estavam presentes quando militantes do grupo oposicionista Movimento por Mudança Democrática raptaram Ndabezinhle Moyo e o forçaram a confessar que agentes do governo foram responsáveis pela morte de Cain Nkala, líder do partido da situação, em 5/11.

Para o presidente Robert Mugabe, o seqüestro é uma tentativa de implicar seu governo no assassinato de um político importante na ocupação (violenta) das fazendas de brancos no país. O ato faria parte de uma conspiração apoiada pela Inglaterra, que estaria interessada em impedir o plano de redistribuição das terras.

Muchadeyi Masunda, executivo-chefe da Associated Newspapers Zimbabwe, proprietária do Daily News, disse que a detenção provavelmente pretendia evitar a publicação do depoimento de Moyo. As câmeras e os computadores dos jornalistas foram confiscados, e eles não puderam ter acesso a advogados.

O presidente Mugabe não tem poupado esforços para reprimir opiniões dissidentes. Os ataques à mídia estão relacionados ao plano do governo, em prática há 22 meses, de desapropriar milhares de proprietários de terras brancos. Mais de 100 oposicionistas e 10 fazendeiros já foram mortos. As informações são de Michael Hartnack [Associated Press, 19/11/01].

PEOPLE

Ann Moore, a poderosa executiva que controla as revistas People e Time, teve que jogar na defensiva. Na reunião de 15/11 do Columbia Journalism Review, os editores presentes esperavam dela uma avaliação do jornalismo, mas a executiva elogiou o trabalho de sua empresa: "Todas as nossas marcas são simplesmente extraordinárias." Mas quando Ann chamou a People de "a revista mais bem-sucedida do mundo", a reação foi rápida.

"Qual é exatamente sua definição de sucesso?", perguntou o moderador Bill Moyers. "A People tem 35 milhões de leitores" e preço de capa de US$ 2,99, "o mais caro semanário da América", respondeu Ann; este tipo de faturamento, ponderou, é garantia de um produto de qualidade.

Imediatamente, Moyers interpelou Katherine Boo, repórter investigativa do Washington Post que ganhou um Pulitzer no ano passado, com a mesma pergunta. "Minha definição de sucesso é o que o mercado não apóia", replicou Katherine, citando como exemplo uma matéria do Chicago Tribune de 1999 sobre erros na administração da pena de morte; a reportagem provocou a revisão do sistema. Gerald Boyd, editor administrativo do New York Times, acrescentou: "Pode haver pessoas que são loucas pela revista People? eu não sou uma delas".

Em entrevista após o evento, Ann chamou seus críticos de arrogantes. Em relação a Katherine, declarou: "Ela é uma repórter jovem e errou ao nos ver como desimportantes." Segundo Cynthia Cotts [The Village Voice, 21/11/01], Ann sugere que matérias investigativas funcionam porque os jornais que as publicam têm circulação forte e um modelo de negócio que as protegem. "A marca do sucesso para mim é que os leitores estejam tão engajados no que lêem que se mostrem dispostos a pagar. Não entendi por que isto foi ofensivo."