Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

The Economist põe a mídia com cara de palhaço

Alberto Dines

 

É considerado o melhor semanário de língua inglesa. Tem o mais refinado texto, postura elegante, a melhor cobertura internacional. Sobretudo, sabe separar opinião de informação.

Mas a matéria sobre a crise do jornalismo da edição de 4-10 de julho é um modelo de ambigüidade e faz parte da angulação conservadora da revista. A aposta na livre iniciativa e na desregulamentação absoluta da imprensa levam The Economist (e grande parte da mídia brasileira), a recusar uma visão crítica mais rigorosa. Ao contrário do que acontece com o liberal New York Times, que sempre vai mais fundo quando trata da mídia.

Mesmo assim, as criticas que o semanário formula diretamente ou as que insinua indiretamente (como a capa), assim como alguns dos méritos esfarrapados com que tenta contrabalançar um quadro lamentável, representam o mais grave diagnóstico sobre o estado da mídia já publicado pela grande imprensa internacional.

As constatações iniciais do editorial (leader, p. 13) são arrasadoras:

Na Era da Globalização, o noticiário é mais paroquial do que nos tempos do telegrafo.

Na Era da Informação os jornais que estavam repletos de notícias sobre política e economia hoje estão tomados de esporte e estrelas. E isto vale para os grandes jornais ingleses como para a TV americana.

Não adianta dizer que a culpa é dos leitores ou telespectadores. Notícia não é mercadoria como outra qualquer.

Os cidadãos aprendem algo sobre como são governados pelo que lêem nos jornais ou vêem na TV. E se não tiveram da mídia uma opinião inteligente sobre o governo não se pode ter uma democracia saudável.

Uma nova categoria de informação está suplantando os temas essenciais: é o que os americanos designam como “noticiário de serviço” (saúde, comportamento, bem-estar, etc).E se o leitor achar que tudo isso é muito idiota pode recorrer ao Economist.

Já a matéria informativa está centrada nos aspectos econômicos da indústria da informação. Ficam evidentes, porém, algumas colocações críticas:

Jornalismo era um ofício, agora é uma operação industrial.

Em outras indústrias, os concorrentes procuram diferenciar-se. No caso do jornalismo, as empresas tendem a investir nas matérias que já estão fazendo sucesso.

O caso Monica Lewinsky representou um grande prejuízo para a imagem da imprensa americana (os editores do Economist esqueceram que eles próprios chegaram a insinuar em matéria de capa que Clinton deveria renunciar. Ver abaixo remissão para “Midiagate: dez dias que abalaram o jornalismo americano”).

Não existe mal nenhum em tratar a notícia como um produto comercial. Mas ela deve merecer um tratamento especial porque contém ingredientes como confiança e decência, que podem se deteriorar facilmente.

Nenhuma destas críticas à mídia é estranha aos leitores deste OBSERVATÓRIO. Mas os editores do Economist poderiam ser mais explícitos diante da incrível sucessão de falhas sistêmicas da mídia internacional.

O Jornal do Brasil (domingo, 12/7/98, p. 18, chamada na capa) saiu-se melhor: em matéria de página inteira preparada pela correspondente em Washington faz uma radiografia muito rigorosa do estado da imprensa: “O jornalismo põe a mão na consciência”.

 

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