Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Ética, a perda que choramos

O texto é de grande valia. Especialmente para os cursos de Direito, Ciências Sociais e Jurídicas, pois constatamos hoje que uma das maiores críticas aos alunos desta área é a falta de análise lógica e crítica da realidade, tomando por base a ausência, exatamente, das matérias apontadas no artigo.

O mais engraçado é o fato de ter sido veiculado na imprensa paulista (Folha de S. Paulo) artigo de um renomado jurista (atualmente diretor de uma universidade) apontando falhas do “Provão”, as quais poderiam ser consideradas de maior relevância não fosse a condição do articulista: defensor da escola que foi avaliada “E” pelo MEC. Com certeza, não fosse o conceito negativo veiculado na imprensa, jamais haveria o reclamo do notável constitucionalista, mas que fala agora como diretor da universidade, e nada mais! Com certeza, sequer o diretor é o responsável pelos conceitos daquela universidade, como podemos observar de uma das causas apontadas pela articulista Vera Silva, no artigo Ética, a perda que todos choramos

Apenas acrescentamos ao artigo um dado. Muitos dos atuais diretores gerais, reitores ou títulos de grande pompa (cujo valor é zero) e mantenedores foram beneficiados justamente pelos responsáveis pelas exclusões de matérias importantes na edição da LDB “ditatorial”. Hoje, vivam os conceitos “D” e “E”!!!!

Incrível mesmo, por outro lado, que a psicóloga tenha observado o que sequer muitos dos atuais donos de escolas e universidades se negam a ver: é preciso pensar! Ocorre que, para pensar na melhora do ensino do Direito, por exemplo, não basta (com o devido respeito) contratar pessoas de reconhecida idoneidade e cultura indiscutível, cuja formação deu-se em época diversa da apontada pela articulista Vera Silva. É preciso deixar de querer emprestar, pura e simplesmente, o nome dessas personalidades, pois, não raras vezes, perdem-se em vaidades inúteis, e noutras são amarrados pela vontade dos apaniguados da antiga “LDB”. Na última hipótese, é verdade, querem fazer o certo, só que melhorar custa caro e os donos das universidades, centros universitários e faculdades pensam manter sua margem de lucro custeada pelo maior imposto já instituído no Brasil: a ignorância do povo, cuja base de cálculo é a educação universitária estragada.

Educação universitária estragada cujo retrato pode-se extrair de um adágio curioso, infiltrado na cabeça de alguns (maioria) empresários do ensino e que certa feita tive oportunidade de ler: “O primeiro na escola, o último na vida.”

Parabéns, Vera Silva, há tempo para que gerações vindouras sejam salvas pela ética, mas vai ser preciso mudar o adágio que acima citei ou torcer para que seus seguidores morram.

Marco Antônio Marcondes Pereira, promotor de Justiça, São Paulo/Capital

Primeiras observações sobre o Provão, ou melhor, sobre a cobertura da imprensa do Rio sobre o Provão: uma das questões do próximo Provão de Jornalismo poderia ser “Escreva uma matéria sobre os resultados do Provão de 98”. Certamente os jornalistas que cobrem esta área no Globo tirariam conceito E.

Na terça, dia 1, o Jornal do Brasil publicou a relação dos cursos do Rio com notas A, B, D e E. Por questões de espaço, não publicaram as notas C, que só saíram no dia seguinte. Já O Globo não publicou os resultados na terça e publicou apenas alguns na quarta-feira. Não se sabe quais foram os critérios para a edição e a seleção das notas: foram publicadas notas de alguns cursos de determinada faculdade e omitidos outros. No dia seguinte, quarta, quando já haveria espaço suficiente, o jornal continuou omitindo dados, também sem qualquer critério. Não foram publicadas as notas A da UFRJ e da Universidade Veiga de Almeida, curiosamente um curso público e outro particular, talvez por motivos diferentes. A nota da UFRJ mostraria que as escolas públicas têm ótimos resultados, apesar dos cortes do governo. E no caso da Veiga de Almeida, que formou a primeira turma em julho deste ano, talvez o jornal estivesse esperando um anúncio da universidade enaltecendo os resultados…

Eduardo Refkalefsky, coordenador do Curso de Jornalismo da UFRJ

xxx

Por pouco a ECO/UFRJ não engrossaria a lista dos cursos de Jornalismo que boicotaram o Provão. Esta era a tendência dos estudantes, que repetiam o discurso de “Provão não prova nada!”. Depois de uma conversa da Coordenação de Curso e da Direção da ECO com os formandos, prevaleceu entre os alunos a idéia de fazer a prova, para valer. Acho isto fundamental por uma série de razões:

1) Se os estudantes da instituição, uma Federal, querem questionar o Provão, acho no mínimo correto tirar um conceito AAA, até para poder dizer “tiramos AAA, mas discordamos radicalmente da forma de avaliação”. Qual a legitimidade de uma crítica de quem tira um conceito baixo? Parece a história da raposa e das uvas, já que não se consegue apanhá-las, é melhor dizer que estão verdes…

2) Por maiores críticas que se possa fazer à Prova – por exemplo, questões que envolvem conceitos puramente classificatórios, como “jornalismo cultural”, que ninguém consegue definir (será que inclui gastronomia?), – é absurdo achar que não avalia nada. Alguém que fica quatro anos numa faculdade, mesmo que não seja um jornalista com formação adequada, pelo menos ouve falar em alguma coisa do tipo jornalismo declaratório.

É o mínimo que se espera. Esta negativa da avaliação parece aquele argumento contra as escolas de Jornalismo, que diz que elas não ajudam em nada, até prejudicam a formação. Um curso precisa ser muito, mas muito ruim mesmo, para que o aluno fique ouvindo os professores e os colegas durante quase meia década e não lembre nem de alguns termos técnicos, como jornalismo declaratório.

Isto levando-se em conta que há pequenas variações de conceitos: eu, por exemplo, chamo de jornalismo-taquígrafo; o professor e editor do jornal Monitor Mercantil, Sérgio Souto, chama de jornalismo-papagaio, que repete a fala do entrevistado; Hélio Fernandes diz que é entrevista-vôlei, em que o repórter levanta para o entrevistado cortar; o professor Victor Gentilli chama de moleque de recados, ACM quer dar uma bronca em José Serra e chama a imprensa para uma coletiva…

3) Formas alternativas de avaliação podem ser encaminhadas, também, e acho que este OBSERVATÓRIO é um bom espaço para debatê-las.

Eduardo Refkalefsky

xxx

Sou estudante de Jornalismo na UnB e recentemente fiz um freela para a sucursal da revista Época aqui em Brasília, para o qual precisei falar com o diretor de avaliação do ensino superior do Inep, Tancredo Maia Filho. Longe de defender o jornal O Globo ou qualquer meio de comunicação, gostaria de esclarecer um ponto que o tal Dr. Tancredo me explicou na entrevista e que achei que seria justo comentar.

A mídia está noticiando indiscriminadamente as médias obtidas no Provão pelas diversas faculdades. Mas pouco é pensado sobre o que essas médias significam. O ensino superior brasileiro é, sim, de baixa qualidade. As médias são baixas, sim, vergonhosas. A qualidade das instalações são, em geral, precárias, principalmente nas universidades públicas. Mas isso são dados absolutos e que ilustram pouco a realidade. Porque, na verdade, o que diz O Globo é verdade. Mudou alguma coisa, mudou muita coisa, se as notas estão melhorando (e estão, segundo o Inep) é porque algo está sendo feito.

Ainda está longe de ser suficiente, mas não basta só dizer que o panorama está ruim (mesmo que realmente ainda esteja ruim), e não o que está sendo feito a respeito.

Essa é minha opinião.

Carolina Nogueira

xxx

A questão do hábito da leitura entre os estudantes universitários realmente é desoladora, e tenho que concordar em gênero, número e grau com os comentários feitos.

Estudo numa faculdade particular, faço curso de Letras e esperava do curso reflexões mais profundas, mas quando um professor tenta fazer isso, os alunos reclamam em peso, porque sentem dificuldade em realizar a leitura e a sua compreensão. Muitas vezes me pergunto se estou errada, pois gostaria que houvesse uma cobrança de leitura muito maior, acredito que deveria ter esperado um pouco mais e entrado numa faculdade federal ou estadual; como não temos essa cobrança no curso que faço, eu mesma seleciono o que é importante para mim em relação ao curso e converso com alguns professores que podem me dar algum respaldo.

Regina C.C. de Oliveira

xxx

Meu nome é Luciana, tenho 20 anos e acabo de concluir o terceiro ano de Jornalismo na Fiam (Faculdades Integradas Alcântara Machado). Com a baixa nota que o ensino recebeu no Provão, espero que as faculdades revejam seus profissionais e a grade curricular.

As faculdades de Comunicação muitas vezes são apenas instituições com fins lucrativos, não avaliam constantemente seus professores, há matérias obrigatórias totalmente dispensáveis, que só servem para levar o aluno à dependência (o que é muito lucrativo). Para ser jornalista não preciso saber em detalhes como planejar uma pesquisa de marketing para um produto. Preciso saber sobre a história da imprensa brasileira, desde o seu início até o presente, preciso saber como funciona a imprensa internacional, quais as diferenças, em que áreas somos melhores e onde temos defeitos.

Fico triste quando os diretores não escutam a opinião dos alunos sobre os professores. Existem “monumentos” nas faculdades que inibem a criatividade, o que para eles é certo não é questionável.

Termino o terceiro ano sabendo que os primeiros dois anos foram quase dispensáveis para minha atual formação. Sinto que perdi muitas horas não aprendendo “coisas” que realmente vão fazer diferença no meu futuro profissional. Tenho muitas críticas a fazer, porém deixo para um outro e-mail. Apenas gostaria de contribuir para um ensino melhor.

Luciana Melara Zachini

xxx

Sou estudante do 6º período de Jornalismo na Fundação de Ensino Superior do Vale do Sapucaí em Pouso Alegre – MG. Embora a faculdade tenha tirado D no que se refere ao corpo docente e E pela dedicação dos professores, os alunos tiraram B. Essa proeza demonstra que ainda existem estudantes interessados em aprender e que embora a faculdade não ofereça estrutura para a formação de bons profissionais, nós alunos ainda estamos tentando superar as dificuldades.

Regiane

 

LEIA TAMBEM

Primeiras observações sobre o Provão

Aos fatos novos, para variar