Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Ética e radiojornalismo

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ARMAZÉM LITERÁRIO

Autores, idéias e tudo o que cabe num livro

RESENHA

Leneide Duarte

Manual de Radiojornalismo: produção, ética e internet, de Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima, Editora Campus, 186 páginas

Um manual de jornalismo que faz uma opção clara e abre com um capítulo sobre ética, promete. Foi assim, falando sobre a conduta ética do profissional de rádio, que Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima resolveram iniciar o Manual de radiojornalismo: produção, ética e internet. Esse trabalho, que revela uma pesquisa minuciosa e bem-feita, deveria servir de bússola para todo profissional de rádio que quer seguir um caminho traçado por quem conhece a rota que leva a um porto seguro, sem se perder nos descaminhos da profissão. O resultado, para quem segue esse guia, é a satisfação do ouvinte-receptor bem informado e a certeza do profissional de ter produzido radiojornalismo de qualidade.

A ética, segundo o manual, é a aplicação pessoal de um conjunto de valores livremente eleitos pelos jornalistas em função de uma finalidade por eles mesmos estabelecida ? e que acreditam ser eficaz. Dois exemplos de conduta ética, numa espécie de "mandamentos" listados pelos autores: "O jornalista só deve dizer a verdade e resistir a todas as pressões que possam desviá-lo desse rumo"; e, "O jornalista não guarda para si informação de interesse público. O compromisso com a verdade e com a sociedade o impede a isso". Parece óbvio, mas esses dois princípios, entre dezenas de outros enunciados no capítulo ética, nem sempre norteiam o radiojornalismo.

Atualmente, com a febre de matérias de denúncia, as emissoras de televisão e de rádio têm abusado do direito de fazer jornalismo investigativo. O manual condena veementemente a gravação de entrevista sem o conhecimento da pessoa. "É uma falsa atividade de jornalismo investigativo. Além de caracterizar invasão de privacidade, essa atitude põe em risco a integridade dos personagens, que são julgados pela opinião pública por frases isoladas ou declarações truncadas fora do contexto dos acontecimentos. Levar gravador escondido e mentir sobre as intenções conduzem o jornalista a falsas apurações."

Parece óbvio que as pessoas de bom senso condenem atitude como essa, mas muita gente aprova esse tipo de jornalismo amplamente praticado no Brasil, sobretudo na TV.

Discussão pertinente

Mas o que é falar de rádio, um veículo tão antigo, em pleno século 21? Os autores mostram que estão antenados nos novos tempos. Eles garantem que o rádio vai se transformar com a revolução do ciberespaço. Antevendo o futuro, os autores dizem que o rádio na web é um dos meios de comunicação integrados em um sistema multimídia em que competem televisão, jornais, revistas, filmes e arquivos produzidos em todos os países do mundo. "E, para isso, o rádio tem que estar apto para produzir não apenas som, mas textos, imagens e dados."

Segundo Barbeiro e Lima, "o rádio caminha para ser inteiramente transmitido via internet". Com isso, garantem, "a informação, instrumento de poder monopolizador por alguns, vai se abrir para todos. O poder terá que encontrar novas formas de se organizar ? sejam elas quais forem ? e graças à nova via será mais democrático… A facilidade proposta pela internet aponta para uma democratização de acesso às comunicações como nunca se registrou na história desde os cuneiformes mesopotâmicos, os hieróglifos egípcios ou os papéis de arroz chineses".

Os jornalistas de todas as mídias, os professores e os estudantes de comunicação saúdam a existência de uma obra que, ao contrário da maioria dos manuais de jornalismo, não se contenta em pôr os pingos nos iis com lições práticas de como entrevistar, como falar no rádio, como produzir uma matéria ou como escrevê-la. O Manual de radiojornalismo de Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo Lima discute a fundo as funções do comunicador de rádio ? que tem muitos pontos em comum com o comunicador de todas as mídias ? e aponta para o futuro do veículo, abrindo uma pertinente discussão da qual o leitor participa com grande interesse.

PEQUENAS LIVRARIAS

American Booksellers Association, grupo que representa cerca de 3 mil livrarias independentes dos Estados Unidos, sofreu sua maior derrota na Justiça americana na quinta-feira, 19 de abril, informou David D. Kirkpatrick [The New York Times, 20/4/01]. Em surpreendente reviravolta, o grupo chegou ao fim de um processo antitruste contra as duas maiores redes de livrarias do país pedindo indenização de valor inferior ao que gastou na batalha judicial.

A organização acusava a Barnes & Noble e a Borders de obterem descontos ilegais e subsídios promocionais das editoras, deixando as lojas menores em desvantagem. A associação desistiu do processo depois que um juiz dispensou grande parte do caso numa audiência preliminar.

A presença dessas livrarias tem diminuído nos últimos 30 anos, com a chegada das superstores, das cadeias de lojas em shoppings e das lojas online. Nos últimos 10 anos, esse segmento caiu de 33% para 15% no mercado. Pequenos empresários acreditavam que o processo poderia reduzir a competição com as grandes redes.

Pelo acordo estabelecido, cada rede de livrarias pagará às independentes 2,35 milhões de dólares. Mesmo assim, o executivo-chefe do grupo, Avin Domnitz, acredita que o julgamento foi uma vitória, pois levou a público práticas de grandes redes que colocam as pequenas lojas em desvantagem. Agora, "muitas delas, senão todas, já pararam", disse Domnitz.

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