Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Útil, necessário, mas limitado

O provão que se anuncia em 1998 aos graduados em jornalismo chegará em boa hora. São três as razões que alego para apoiar a iniciativa: primeiro, porque já é tempo dos cursos de graduação submeterem-se, eles também, a algum tipo de avaliação externa. Esta experiência tem-se mostrado frutífera nos cursos de pós-graduação e deve ser repetida no nível anterior, o de formação profissional. Segundo, permitirá que haja transparência entre os diversos segmentos envolvidos no comércio do conhecimento (administradores, docentes e discentes). Terceiro, terá a virtude de abalar, em certa medida, a auto-estima de quem engana com a falta de docentes preparados, currículos desestruturados, carência de equipamentos e projetos acadêmicos eficazes.

O debate, ao meu ver, deverá centralizar-se menos na necessidade e validade de uma avaliação externa aos cursos de graduação em Jornalismo e mais no mérito do que avaliar.

Conseqüentemente, pondero que tal exame só terá o direito de incluir o previsto em sua estrutura curricular mínima, desconsiderando os conteúdos flexíveis e opcionais. Em decorrência, surge, ao meu ver, o dilema básico: o que enfatizar? Se dará ênfase à aplicação prática dos conhecimentos (redação de notícia para jornal, de textos de revista, de leads radiofônicos, edição e revisão de textos, tratamento de imagem e som, etc.), ou se desejará um enfoque mais acadêmico, enfatizando o jornalismo como área de conhecimento?

A solução de tal dilema deverá, ao meu ver, ser encontrada no balanceamento destes dois elementos constitutivos.

Tal encaminhamento não equivale a dizer que tais conhecimentos sob exame são os mínimos necessários à formação de um jornalista no limiar do novo século. O debate, nestes termos, focaria outro tema, o do currículo, e incluiria uma séria e penosa reflexão sobre a pedagogia do ensino de jornalismo.

Em outras palavras, só se pode avaliar o que se pede. Esta é a regra número um de qualquer sistema de avaliação. E o que se pedirá, ao meu ver, por esta limitação operacional, será certamente muito pouco, a não ser que se encontre uma forma de se ampliar os conteúdos a serem incluídos no provão sem que isso signifique uma armadilha inesperada e injusta aos alunos.

Certamente, o resultado do exame animará o debate sobre a regulamentação profissional. Confesso-me enfastiado por tal debate e prefiro concentrar-me sobre o aperfeiçoamento do ensino desta área profissional e desta área do conhecimento. O exame terá alguma virtude se for capaz de denunciar com evidências adicionais o que já se sabe por instinto: à semelhança de qualquer outra área, há no ensino do jornalismo fragilidades a serem superadas.

O que se impõe aqui também é esforço no aperfeiçoamento da docência profissionalizante e de seu suporte teórico humanístico. O provão, por sua limitação operacional inevitável, como descrito acima, não proporá o debate que se torna decisivo no fim dos anos 90: quem é o jornalista do fim de século no Brasil, e qual a bagagem que se lhe exige para cumprir a função social que sua velha-nova identidade demandará?

O provão servirá como instrumento precário, limitado mas útil para se avaliar os cursos de graduação em jornalismo. Não permitirá nitidez total. Apontará pistas e desafiará a área a aprofundar sua reflexão sobre os pontos assinalados e decisivos ao meu ver: definição de propósitos (identidade), o decorrente currículo, sua equipagem (material e pedagógica) e as ações pedagógicas que se imporão no futuro para que o país tenha jornalistas competentes.

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