Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Tragédia no mar e lembrança de Paulo Francis

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ACIDENTE NA P-36

Não temos jornalistas especializados em petróleo ? essa é a verdade. Cobrimos as catástrofes petrolíferas como cobrimos um desastre ferroviário. Mas a Petrobras é uma das maiores empresas do mundo, a maior do Brasil, o petróleo é vital, qualquer alteração nas atividades da gigante impacta diretamente na economia brasileira. Sua sede é no Rio e sua operação extrativa concentra-se quase que exclusivamente na bacia de Campos, norte fluminense, a duas horas de vôo de São Paulo.

A cobertura jornalística do que ocorreu na P-36, a maior plataforma marítima do mundo, tem sido intensa, devidamente enfatizada, mas é convencional (dentro do que se espera de uma cobertura desta natureza). A exceção foi providenciada por Época (edição 148, 19/3).

Ao relembrar com minúcias os antecedentes comerciais e legais da fatídica P-36 ? e que tiveram ampla divulgação ao longo do último ano ? a revista só fez ressaltar a deficiência acima apontada. Durante três dias a mídia concentrou-se nos elementos dramáticos do episódio, reproduziu releases, ouviu técnicos, sindicatos etc. Esqueceu-se de examinar os demais aspectos, inclusive os policiais e políticos relacionados com a compra da maior plataforma do mundo, reflexo claro do que aconteceu na Petrobras entre 1992 a 1999.

As fraudes aparentemente não estão relacionadas com as causas da tragédia. Mas ao longo de 7 anos a estatal manteve-se como um feudo intocado pela imprensa, pelos sucessivos governos (Itamar e FHC) e respectivas oposições.

O único jornalista que ousou tocar na danosa administração de Joel Rennó (o antecessor do atual presidente da estatal, Henri Phillipe Reichstul), foi Paulo Francis. Isso nos últimos meses de sua vida. Mas Francis não era repórter, era polemista, com horror a detalhes. Não usou as informações a que tivera acesso, ficou na cruzada contra a imoralidade.

Como represália, foi ameaçado de um processo que deveria correr na Justiça americana que, como sabemos, é veloz e extremamente rigorosa em matéria de indenizações. Francis ficou seriamente preocupado, retraiu-se. Foi uma de suas angústias, se não a maior, quando foi fulminado por um enfarte em 2 de fevereiro de 1997.

Sem citar Paulo Francis, Época faz uma justa homenagem ao jornalista.

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