Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Troca de favores em Hollywood

MONITOR DA IMPRENSA

CONFLITO DE INTERESSES

Um veterano do Hollywood Reporter pediu demissão na semana passada em protesto contra a atitude do jornal de não publicar sua matéria, que acusava um colega de aceitar favores da indústria cinematográfica. David Robb, que escrevia para o jornal desde 1992, acusou o colunista social George Christy, do Reporter, de ter recebido créditos de filmes em que não apareceu, e que lhe dão direito a certos benefícios da Associação de Atores de Cinema (Screen Actors Guild).

Christy e o Reporter não quiseram comentar o caso. Robb disse a Howard Kurtz [Washington Post, 27/4/01] que procurou a associação de atores depois de receber uma carta que pedia às companhias de cinema para confirmar os créditos do colunista nos filmes. O diretor Bruce Dow não confirmou uma investigação sobre o caso, mas disse que há um programa que determina quem realmente atua nas produções. Contudo, outro funcionário da entidade, que não quis ser identificado, confirmou que alegações de irregularidade de Christy e dos produtores Brad Kreviy e Steve Stabler estão sendo examinadas, principalmente depois das descobertas de que os três foram processados em 1993 pela associação pelos mesmos motivos.

Christy, que já fez várias pontas no cinema, é uma figura popular e intimidadora na comunidade hollywoodiana; artistas e socialites disputam uma aparição em sua coluna. No entanto, a notícia de ele possa ter feito merchandising em troca de benefícios pessoais não chocou muitas pessoas: o colunista é conhecido por pedir presentes. A chefe de publicidade da NBC, Shirley Powell, chegou a reclamar com seu editor, há alguns anos, por causa do hábito de Christy de cobrar US$ 200 para levar fotógrafos a eventos e premiações. "Era como se estivesse nos cobrando pela cobertura", disse.

NEWSWEEK

O furo era quente: o senador americano Bob Kerrey, militar com Medalha de Honra, presidente da New School University e possível concorrente às eleições presidenciais de 2004, liderou um esquadrão na Guerra do Vietnã que matou mulheres e crianças inocentes. Mesmo assim, disse Howard Kurtz [Washington Post, 26/4/01], a Newsweek se recusou a publicar a matéria, depois de Kerrey decidir não concorrer à Presidência.

O autor da reportagem foi Gregory Vistica, correspondente reconhecido, que acabou levando-a ao New York Times. O jornal revelou na semana passada que depois disso o jornalista passou um ano pesquisando o assunto antes da publicação, prevista para sair no domingo, 29 de abril.

A decisão da revista sugere que um furo deste tipo só interessaria se o acusado fosse um candidato à Presidência, mas não um senador. Mark Whitaker, editor da Newsweek, disse que não quis publicar a história em 1999 porque Kerrey não queria cooperar, e que a decisão dele de não concorrer às eleições não havia interferido.

Na semana passada o militar iniciou uma batelada de entrevistas a importantes jornais e emissoras do país, para dar sua versão da história antes que saísse a matéria do Times no domingo, dia 29. Para não ficar para trás com seu próprio furo de reportagem, o jornal colocou rapidamente a matéria em seu site na quarta-feira [25/4], quando o The Wall Street Journal deu uma página sobre o assunto.

EMPRESAS NA MÍDIA

O governo americano determinou, há cerca de nove meses, que as empresas passassem a divulgar informações da forma mais transparente possível. A intenção era igualar o campo para investidores, preservando a isenção da mídia. No entanto, a medida tem dificultado o trabalho de jornalistas, pois ficou mais difícil conseguir furos de reportagem, disse Stefani Lako Baldwin [Inside, 25/4/01].

Informações antes obtidas com exclusividade agora são abertas ao público e à mídia. Executivos estariam se aproveitando da confusão da Lei de Justa Revelação para esconder dados importantes de repórteres; muitos alegam não poder falar porque a regra não permite entrevistas exclusivas. A Dow Jones & Co. justifica que a falta de isenção, privilegiando um veículo de comunicação ou outro, poderia ter um "impacto devastador no processo de recolhimento de notícias financeiras, e conseqüentemente na disseminação de informações precisas e acuradas para o público investidor".

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