Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Três anos sem Garzón

COLÔMBIA

Uma mensagem publicitária lembrando o assassinato do repórter e humorista Jaime Garzón está sendo transmitida pelas cinco principais emissoras de rádio da Colômbia. A iniciativa ? que coincide com o começo do julgamento dos acusados ? pretende manter o público atento ao desenrolar do caso que levou multidões às ruas três anos atrás e tentar estabelecer um precedente importante na luta contra a impunidade. Nos últimos 10 anos, 40 jornalistas foram mortos no país, e a maioria dos casos permanece sem solução.

O anúncio insiste na importância da liberdade de imprensa para a sociedade: “13 de agosto de 1999 ? 13 de agosto de 2002. Há três anos, o jornalista e humorista Jaime Garzón foi baleado em Bogotá. A vítima era alguém que sabia como nos fazer rir ao mesmo tempo em que nos informava. Desde então, mais de 10 jornalistas foram mortos por querer, como ele, denunciar os que violam nossos direitos. Cada assassinato é um golpe para nossas liberdades. Aceitar que os assassinos de Jaime Garzón permaneçam impunes é aceitar que eles façam isso de novo e de novo. Ao lado do Repórteres sem Fronteiras e Damocles Network, vamos continuar exigindo justiça. Justiça para Jaime Garzón”.

Conta o RSF [12/8/02] que Garzón trabalhava nas emissoras Radionet e Caracol Television e participava da negociação da libertação de pessoas seqüestradas pela Farc, suposto motivo do crime. Segundo o juiz Eduardo Meza, o assassinato foi cometido por Juan Pablo Ortiz Agudelo e Edilberto Antonio (presos desde 2000 e 2001, respectivamente) a mando de Carlos Castaño, líder da organização paramilitar AUC. A imprensa local, no entanto, alega que evidências que sugerem o envolvimento do Exército na morte foram descartadas pelos investigadores. Preocupadas com a denúncia e o andamento do processo, as organizações RSF e Damocles Network entraram como pleiteantes no caso.

 

CRIANÇAS NA MÍDIA

A briga das redes de TV por entrevistas exclusivas foi tão declarada que ganhou espaço na imprensa. O mais recente motivo de conflito foram as adolescentes Tamara Brooks e Jacqueline Marris, seqüestradas e estupradas no começo do mês. Desde que o programa Today, da NBC, foi o único a exibi-las no ar, as acusações de jogo sujo entre os produtores não pararam de surgir.

Conta Elizabeth Jensen [Los Angeles Times, 8/8/02] que mesmo a decisão de dar só uma entrevista foi confirmada por Glenn Scott, tio de Jacqueline, mas questionada pelo dr. Billy Pricer, capelão do departamento de polícia de Los Angeles que tem ajudado as famílias. Segundo Pricer, ele acreditava que haveria outras entrevistas, que foram marcadas num hotel da região. Na última hora, a família foi removida para um outro hotel, onde a NBC tinha reservado quase todos os quartos. ABC e CBS instalaram então as câmeras em área pública, esperando pegar a garotas após a gravação. A pedido das famílias, as redes voltaram ao primeiro hotel com a promessa de que as garotas retornariam, e foram atendidas. Pricer afirma que testemunhou a NBC aconselhando-as a não conceder mais entrevistas, e acabou levando as duas embora em limusines.

A única ação admitida pela NBC foi a de uma jovem produtora do programa que pagou uma calça de US$ 80 para Jacqueline com o cartão da emissora. De acordo com Peter Johnson [USA Today, 7/8], o diretor Jonathan Wald alega que o presente foi dado depois que a entrevista já estava marcada e que foi apenas um ato bem-intencionado da profissional. Ainda assim, ela será suspensa por no mínimo uma semana por ter infringido a política do programa. Wald ressaltou que, embora o cartão de crédito da NBC tenha sido usado, trata-se de um incidente isolado.