Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Três contas de Maluf para a imprensa cobrar (*)


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O paulistano que lê jornais levou um susto no sábado pela manhã: um temporal causou grandes estragos, duas mortes e interrompeu completamente chegada e partida de aviões no Aeroporto de Guarulhos. Mas esse mesmo paulistano ou paulistana não se lembrava que tivesse chovido ou ventado tanto no dia anterior, sexta-feira. E ele estava certo. A fúria dos céus ocorreu na tarde de quinta-feira. Ora, pergunta o cidadão, se os jornais são diários, por que nada saiu nos jornais de sexta? Essa é uma boa pergunta e tem muito a ver com a forma, o ritmo e os padrões de jornalismo hoje praticados no Brasil.

Acredite se quiser: nada saiu no dia seguinte ao quase furacão simplesmente porque nada saiu no Jornal Nacional, da Rede Globo. E quando o Jornal da Globo, no fim da noite, dedicou ao desastre dois minutos e 50 segundos, os matutinos de São Paulo já estavam rodando. Volto então à pergunta inicial: se nada deram na sexta, por que voltaram ao assunto no sábado?

Simplesmente porque na véspera o Jornal Nacional corrigiu a omissão e dedicou quase quatro minutos, mais precisamente 3 minutos e 50 segundos, a relatar as conseqüências do desastre. Foi o sinal para que os jornalões paulistas, obedientes como cordeirinhos, voltassem a um fato ocorrido 36 horas antes e que no momento devido mereceu pouquíssima atenção.

Considerando que grande parte da imprensa está justamente preocupada com a hegemonia da Rede Globo, ficamos sem saber por que esta submissão à pauta da TV Globo. É assim que se enfrenta o poderoso concorrente? Nunca é demais lembrar que imprensa é um serviço público, não é uma disputa comercial.

(*) Editorial do programa Observatório da Imprensa na TV nº 41 – 9/2/99