Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Turbo-jornalismo na rede

E-NOTÍCIAS

NORUEGA

O estranho Harald Hauge, jornalista e co-fundador da Nettavisen.no, primeiro serviço de notícias online da Noruega, aposta que à medida que cada vez mais noruegueses aderem à internet, os jornais impressos podem rapidamente transformar-se em relíquia do passado.

Apenas quatro anos após seu lançamento por Hauge e seu colega Knut Ivar Skeid, 250 mil noruegueses lêem o Nettavisen todos os dias, sendo que 10% o fazem via palmtops e telefones celulares. Trata-se de um décimo dos 2,4 milhões de internautas do país, e 35% da população adulta do país.

Artigo de Ursula Sautter Bonn [Time Europe, 19/1/01] conta que o segredo do sucesso do Nettavisen é o "turbo-jornalismo". Seus 50 funcionários varrem continuamente a rede peneirando fatos e eventos que merecem publicação.

"Trabalhamos mais como uma estação de rádio do que como um veículo impresso por estarmos inteiramente voltados à velocidade", afirma Hauge. "Em contraste com diários tradicionais que sempre fornecem as notícias do dia anterior, atualizamos nossas páginas a todo instante." Qualquer semelhança da sentença com o nome do brasileiríssimo Último Segundo não é mera coincidência – é sinal de uma concordância global que se instala cada vez mais intensamente no universo da mídia eletrônica.

Monitorando quais reportagens apresentam maior número de visitas, os editores do jornal online norueguês também podem costurar o conteúdo do sítio aproximando-o dos interesses dos leitores. O grande perigo de adotar tal sistema é dar início a um processo degenerativo no jornalismo.

O jornalista norte-americano James Poniewozik prognosticou certa vez que o jornalismo norte-americano corria o risco de ser modelado conforme o que a maioria quer ler, a partir de "estudos" sobre o número de page views e outros dados de audiência dos sítios noticiosos. Se o Brasil resolvesse, sem grandes surpresas, imitar o primo rico, segundo a lógica de Poniewozik teríamos páginas virtuais recheadas de classificados, economia, fofoca, sangue e sexo. Ao mesmo tempo, seções de noticiário e análise internacional, ciência & tecnologia e (de verdadeira) cultura estariam à míngua, senão já extintas.

Exemplo desse tipo de deformação do jornalismo foi observado em meados do ano passado, na revista eletrônica Salon.com. Adotando o sistema vamos-onde-o-povo-vai-e-o-que-não-servir-jogamos-fora, a publicação virtual eliminou 13 cargos de seus quadros, entre eles o de crítico da mídia e o de editor das seções de livros e viagens.

Não é à toa que James Poniewozik, uma das 13 vítimas da Salon, preocupou-se com o novo sistema de seleção de notícias. "Ciao para música clássica; até mais para Serra Leoa; adeus também à exótica noção de que leitores devem importar-se com qualquer coisa além de seus interesses atuais", afirmou Poniewozik em uma matéria na Time, à época de sua demissão. "A mídia de amanhã será modelada para dar exatamente o que você pede, mas você deve pensar duas vezes se é isso o que realmente quer." (
Beatriz Singer
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