Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

TV na internet e o futuro dos noticiários

TELEJORNALISMO ONLINE

Antonio Brasil (*)

"A universidade brasileira não deveria se restringir a pesquisar o passado. Ela tem um compromisso com o presente e um dever de apontar novos caminhos para o futuro." Esta declaração em tom de cobrança por parte do professor Nilson Lage, da UFSC, proferida durante o Fórum de Professores de Jornalismo, realizado recentemente em Porto Alegre, demanda uma reflexão e uma resposta por parte de todos aqueles que ainda acreditam nas instituições publicas de ensino superior em nosso país.

E foi exatamente pensando no futuro das nossas universidades e dos nossos noticiários de televisão que a Faculdade de Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a UERJ, se dispôs a realizar o Segundo Seminário de Telejornalismo Online no dia 14 de maio, às 10h30, no Auditório 11, com entrada franca e transmissão ao vivo pela internet (ver programa e inscrições em <www.telejornalismo.com/tjuerj>). Em vez de insistirmos nas criticas ao meio televisivo e principalmente em relação ao segmento jornalístico, procuramos buscar alternativas para evitar o que muitos consideram inevitável: a decadência, o esvaziamento e o envelhecimento dos nossos telejornais.

As novas tecnologias podem oferecer grandes possibilidades para a melhoria da qualidade do nosso jornalismo, mas em relação à televisão as questões a serem discutidas ainda são extremamente controvertidas. Entre as opções de uma revolução digital do meio e uma migração total para a internet, deveria caber aos nossos pesquisadores acadêmicos a possibilidade de enriquecer uma discussão que tende a ser prioritariamente voltada às exigências de mercado ou aos limites da tecnologia. Telejornalismo Online pode vir a ser mais uma alternativa viável para a divulgação de noticias com mais qualidade, de forma mais democrática e interativa, mas precisamos ter cuidado. Existem muitas promessas e poucas pesquisas mais aprofundadas. Em relação ao futuro do nosso jornalismo, e principalmente em relação à televisão, vivemos sempre ao sabor de decisões autoritárias e intempestivas.

A universidade brasileira dificilmente é considerada um interlocutor sério e capaz nas questões relacionadas ao futuro. As críticas ferozes, as constantes disputas internas e a escassez de soluções práticas comprometem um diálogo mais produtivo com outros setores da sociedade. Isolada, a universidade brasileira se comunica pouco e mal. A maioria das palestras ou debates realizados durante nossos seminários ou fóruns costuma ser essencialmente saudosista, idealiza o passado, condena o presente e despreza o futuro. Deve ser muito difícil ser jovem numa época em que tantos criticam um presente em plena fase de transição de valores. Bom mesmo deve ter sido o passado. Mesmo que nele tenhamos convivido com uma ditadura de direita, outra de esquerda, e que tenhamos deixado como única herança para esses mesmos jovens… deixa pra lá!

Mas foi pensando em indicar algumas das possibilidades para um futuro melhor que convidamos pesquisadores como o professor-doutor John Pavlik, do Laboratório de Novas Tecnologias (Media Lab) de uma das mais importantes escolas de Jornalismo do mundo, a Universidade de Colúmbia, em Nova York. Ele vai apresentar suas últimas pesquisas relacionadas à tecnologia que deve ser utilizada pelo jornalista do futuro. Para aqueles que não conseguem imaginar como seria possível fazer jornalismo hoje em dia sem recursos essenciais como o computador, internet ou celular, o professor Pavlik responde com um novo paradigma e uma proposta instigante: a imersão dos noticiários pelos novos recursos oferecidos pela "realidade virtual". Em vez de simplesmente testemunhar e reportar sobre os fatos, o próximo desafio dos jornalistas seria trazer o telespectador ou telenauta para o local onde a noticia esta acontecendo com todas as suas sensações, impressões e informações. Câmeras de 360 graus e muita informática criam alternativas para as câmeras tradicionais ou para as polemicas câmeras ocultas. A idéia e estimular a participação e a interação do telespectador dentro da própria noticia. Aumentar a qualidade dos noticiários resgatando alguns dos valores fundamentais da mediação presencial do jornalista. Nesta nova proposta, o jornalismo se inspira no passado em busca de um maior rigor com uma qualidade que foi perdida numa longa trajetória de erros e acertos, mas que hoje se confunde com as promessas da ficção científica.

Definir o que é "melhor"

Estas são algumas das questões a serem discutidas num seminário voltado para o presente e o futuro dos nossos telejornais. Internet pode ser um recurso que auxilia o bom jornalismo de televisão tanto na pesquisa como na geração de imagens com os já tão comentados videofones. Eles vêm sendo utilizados com grande sucesso no conflito no Afeganistão para produzir um telejornalismo mais econômico e eficiente. As novas tecnologias nos cercam por todos os lados. Mas elas também podem representar a criação de um meio completamente novo, apontando para mais uma migração dos noticiários. Assim como um dia o rádio foi superado pela televisão como principal meio de comunicação de massa, talvez estejamos presenciando uma nova "viagem" das noticias ao navegarem para a internet. Trata-se de um tema polêmico que certamente será discutido de forma apaixonada pelos participantes de mais um seminário de Telejornalismo Online na UERJ.

Alem do professor Pavlik, teremos o privilégio de contar com a presença de jornalistas e pesquisadores destacados no meio, como Gabriel Priolli, diretor de um dos melhores programas da televisão brasileira, o Vitrine, da TV Cultura de São Paulo. Lá eles utilizam de forma sistemática os mais novos recursos da internet para criar uma interatividade e uma cumplicidade com um público participante e exigente. Ele vai estar acompanhado por Marcelo Tas, apresentador do mesmo Vitrine, com longa carreira numa televisão alternativa e inteligente e um dos pioneiros na divulgação da rede em nosso pais.

Os professores-doutores Nilson Lage, da UFSC, e Sebastião Squirra, da UMESP, são por demais conhecidos por todos aqueles que se interessam por telejornalismo no Brasil. Ambos possuem longa e extensa experiência na reflexão e produção acadêmicas sobre o telejornalismo e, agora, sobre as novas tecnologias. Também contaremos com a experiência do jornalista e pesquisador Leonardo Moura, que vai falar sobre a importância da interatividade em televisões como o canal GNT. O programa se encerra com uma palestra sobre os novos recursos digitais para a viabilização de uma televisão na internet, com André Tácito, da Apple.

A idéia e reunir representantes de setores distintos da sociedade brasileira e internacional que tenham em comum o interesse em discutir as opções que estão sendo oferecidas pelas novas tecnologias para a produção de um jornalismo melhor. Discursos que insistem em dizer aos mais jovens que tudo está perdido e que o passado era mais verde e mais maravilhoso não contribuem para a solução do problema. Todos queremos um "jornalismo melhor", mas definir o que seria este "melhor" é, sem dúvida, mais um ótimo tema para ser discutido durante o seminário.

(*) Jornalista, coordenador de televisão do Laboratório de TV, da UERJ, e doutorando em Ciência da Informação pelo convenio IBICT/UFRJ