Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Um dia de educação, protesto e mudança

PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA

Fernanda Zanuzzi (*)

O segundo Dia pela Democratização da Mídia (www.mediademocracyday.org) será celebrado no próximo
dia 18 de outubro, com atividades em 17 cidades de 11 países.

Criado no ano passado em Toronto, Canadá, o evento e a data
se firmaram como uma oportunidade para que cidadãos, ativistas,
educadores e criadores da mídia de seus países possam
se encontrar para desenvolver e compartilhar estratégias
que visem transformar o sistema concentrado e comercialista da mídia
em algo que informe e fortaleça toda a sociedade.

O Dia pela Democratização da Mídia é apoiado por diversas organizações não-governamentais, entre elas o portal Media Channel (www.mediachannel.org) e a Adbusters (www.adbusters.org).

Em Porto Alegre, as ações estarão concentradas no Fórum Municipal da Juventude, que se reúne de 15 a 20 de outubro, na Usina do Gasômetro, e contará com as seguintes atividades:

15/10 ? Mostra do filme Uma onda no ar, sobre a Rádio Favela, de Belo
Horizonte (Apoio: Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação/Comitê RS)

16/10 ? Oficina "Comunicação É Ação" (Apoio: Centro de Mídia Independente)

18/10 ? Intervenções na Rádio Poste do Evento, com a possibilidade de realização de um debate (Apoio: Centro de Mídia Independente)

Para mais informações, visite a página do movimento <www.mediachannel.org>. Se você ou a sua entidade tiver interesse em promover o Dia Pela Democratização da Mídia na sua comunidade ou cidade, contate faça contato por e-mail com <fezanuzzi@hotmail.com>.

O que é o Dia pela Democratização da Mídia

Seguindo o rastro de movimentos sociais pelo feminismo, justiça racial e ambientalismo nas últimas décadas, os esforços internacionais para democratizar a mídia estão agora se mobilizando para a educação, o protesto e a mudança. A Democratização da Mídia prioriza a diversidade no lugar da monotonia, o controle cidadão no lugar da escolha corporativa, o desenvolvimento cultural no lugar do lucro, e o discurso público no lugar das relações públicas.

O Dia pela Democratização da Mídia é um dia de ação internacional constituído de três eixos:

** Educação ? o entendimento de como a mídia molda o nosso mundo e a democracia

** Protesto ? contra um sistema de mídia baseado na comercialização e na exclusão

** Mudança ? para lutar por reformas que respondam ao interesse público, promovam a diversidade e assegurem a representação e a responsabilidade comunitárias.

Essa agenda cidadã foi abandonada pelos governos e convenientemente deixada de lado pela grande mídia. O Dia pela Democratização da Mídia vai dar vida a essa visão com um dia de educação e protesto, além de um chamamento à mudança a favor dos interesses da população.

O que há de errado com a mídia?

O atual sistema de mídia é controlado por um grupo de, no máximo, 9 megaconglomerados. Isso distorce o conteúdo da mídia mundial, abafa os interesses dos meios de comunicação local e daqueles que não fazem parte do grande jogo. A AOL Time Warner, por exemplo, controla 12 companhias cinematográficas e de televisão, salas de cinema multiplex em 12 países, 29 provedores digitais e a cabo, 24 marcas de livro, 35 revistas, 52 selos de gravadoras, parques temáticos e lojas em 30 países, quatro times esportivos profissionais, duas holdings (AOL US e AOL International) e oito portais de internet [New Internationalist Magazine, www.newint.org, abril/2001].

O controle centralizado da mídia em mãos de corporações poderosas não consegue prover diversidade de pontos de vista, respeitabilidade local e acesso pulverizado de informação de qualidade que o público quer e precisa. A consolidação desse sistema tem efeitos devastadores na mídia que acessamos. Eis alguns exemplos

Jornalismo raso

** A diversidade editorial sofre. Quando os meios de comunicação locais/regionais são adquiridos por grandes conglomerados, o novo regime desemprega a equipe de repórteres locais e abafa a cobertura original com mais cobertura trash (acidentes, crime, notícias de entretenimento), utilizando uma cópia padrão do conteúdo das agências nacionais e internacionais e das empresas controladas pelo mesmo grupo.

** Notícias reais são suprimidas. O número crescente de fusões e aquisições na indústria dos meios de comunicação traz mais poder de barganha a um número cada vez menor de empresas. Os interesses comerciais dessas corporações moldam o conteúdo midiático e freqüentemente filtram notícias legítimas, seja pela censura direta de donos e editores ou por meio de uma autocensura por parte dos jornalistas.

** Na onda das fusões e aquisições, empregados "redundantes" são demitidos e um número menor de jornalistas e de funcionários deve preencher o mesmo espaço na programação, sendo forçados a procurar matérias mais simples de realizar [The Economic Policy Institute, www.epinet.org, 2002 ].

Venda casada e manipulada

** Sob a pretensão de "sinergia", os conglomerados multimídia espalham mensagens promocionais de seus produtos na programação de suas holdings, fazendo-as passar por notícia, coincidências ou novidades geradas de forma independente. Funciona mais ou menos assim: os restaurantes de fast food promovem filmes que aumentam as vendas de discos de pop stars que são favoravelmente criticados em programas de TV que são patrocinados por empresas de telefonia ? e todos estão protegidos sob as asas de um ou dois conglomerados de mídia.

Abandono do interesse público em favor do comercial

** Mesmo usando freqüências de ondas públicas ? no caso do Brasil, concessões do poder público ? e mediando a discussão democrática, as empresas de comunicação encaram poucas obrigações de interesse público. Os meios impressos, de radiodifusão e mesmo online são incapazes de comunicar a ampla maioria dos interesses da comunidade em razão de seu vício em publicidade e dos limites dos interesses de seus donos. As únicas audiências pelas quais essas corporações são verdadeiramente responsáveis são os seus acionistas e anunciantes.

** Rádios e televisões públicas enfrentam cortes em espiral nos fundos de apoio e uma pressão crescente para que se tornem comerciais, uma vez que os políticos adotam a retórica do livre mercado.

Influência imparcial sobre os governos

** Em vez de monitorar o poder das instituições de mídia com uma regulamentação vigorosa, as políticas governamentais seguem seus conselhos e servem seus interesses, excluindo e negligenciando o público. Além de se tornarem um poderoso espaço para o lobbies políticos, não se pode esquecer que os conglomerados controlam as notícias e, com isso, controlam o próprio processo de campanha política. Sem pressão pública e monitoramentos sérios, o dinheiro público escorre pelo ralo, o domínio público da mídia é descartado e a regulamentação evapora [Center for Digital Democracy, www.democraticmedia.org , 2002 ].

Monopólio crescente da mídia eletrônica

** Mas a internet vai nos salvar, certo? Adivinhe, de novo. A internet já está começando a sofrer dos mesmos males que os demais espectros da mídia ? e está enfrentando ameaças ainda piores. As novas tecnologias digitais oferecem a possibilidade de um novo sistema de provedores para a internet, e esse novo sistema já está sendo completamente dominado pelos gigantes da mídia. Como a internet permite um melhor aproveitamento da banda larga (alta velocidade, serviço 24 horas) e o novo mercado cresce cada vez mais, o sistema relativamente aberto e acessível conhecido até agora está se transformando em um ambiente mais fechado e controlado. Enquanto as companhias de cabo e de telefone batalham contra políticas de "acesso aberto", e a TV e a internet se fundem na TV interativa, um novo meio digital está emergindo e ameaçando acabar com a capacidade da internet de promover a criatividade e a diversidade, além de aumentar os custos de acesso para os usuários.

Segredos, segredos

** Se o seu sistema de mídia está com tantos problemas, porque não ouvimos falar dessas questões com mais freqüência? A resposta é óbvia: nós nos informamos através de meios controlados pelos mesmos interesses que se beneficiam da crescente concentração e comercialização da mídia. Essa falta de transparência e abertura permite que decisões políticas e governamentais chave sejam feitas a portas fechadas, enquanto o futuro da nossa mídia é decidido sem que nós nem mesmo saibamos.

(*) Jornalista

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