Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um diagnóstico da prática e do ensino de Jornalismo

FÓRUM DE JORNALISMO

Entre 29 e 31 março, em São Paulo, o Fórum dos Cursos de Jornalismo reuniu-se na Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero em torno do tema central "Cursos de Jornalismo avaliam o mercado".

A abertura do evento deu-se com a conferência "Globalização e mídia", proferida pelo professor Octávio Ianni (Unicamp). Em seguida, os participantes reuniram-se em cinco grupos de trabalho, cada qual dedicado a um subtema, com os respectivos cooordenadores, todos professores: "Capital estrangeiro e oligopolização da mídia" (José Arbex Junior); "Valores e princípios da prática jornalística" (Francisco Bicudo); "Democratização das comunicações" (Hamilton Octávio de Souza); "Formação do jornalista e a regulamentação da profissão" (Marco Antonio Araújo); "Sistemas de avaliação dos cursos de jornalismo" (José Salvador Faro).

Nesta página e nas seguintes, os relatórios produzidos pelos grupos de trabalho.

para ler o documento final aprovado em 31/3/02 pela plenária do Fórum dos Cursos de Jornalismo, publicado na edição 166 (3/4/02) deste Observatório.

 

Após um debate polêmico sobre a participação do capital estrangeiro na mídia brasileira, detectou-se que a mesma está sendo vítima do próprio neoliberalismo que defende, mas que não é discutido nos meios de comunicação.

A informação transforma-se em espetáculo, e o entretenimento limita o espaço da reflexão e da crítica. A censura não é declarada, mas a imprensa omite e manipula dados da realidade.

Nossa sociedade compra a imagem: um tênis da Nike para uma pessoa que ganha R$180,00 por mês é o passaporte idealizado para que ela participe do sistema de consumo, do ritual, da estética globalizada. Adotando a sedução através de filmagens com bonitas cores e efeitos, o telejornal passa a ser uma peça de propaganda dotada de tecnologia para promover ideais do governo, como campanhas de guerra, incitação do ódio e proibição da exaltação de sentimentos humanistas em relação aos inimigos. Existe uma aliança entre os grandes conglomerados ligados ao Estado capitalista e a mídia oligopolizada.

Percebemos um crescente abandono das culturas locais em beneficio da cultura transnacional norte-americana, gerando uma pasteurização do comportamento da massa mundial.

O bem público deve vir antes do interesse das empresas, o que não significa democracia, mas aumenta o padrão de qualidade das informações. A liberdade de imprensa não pode significar liberdade das empresas. Deve, ao contrário, representar a garantia de expressão das necessidades do povo.

Com a entrada do capital internacional, não teremos somente 30% de participação externa, pois não há proporção entre capital estrangeiro e nacional. Será dado, certamente, um aval para todo o tipo de articulação secreta, já que a vigilância fiscal brasileira passa primeiramente pela hegemonia norte-americana. Quem controla a mídia está no Congresso Nacional.

Este ambiente torna-se propício para a existência de uma oligopolização da imprensa. O grande poder político-econômico desses conglomerados, que detêm capital maior que o PIB de muitos países, torna a concorrência desleal de tal forma a absorver as empresas locais, eliminando postos de trabalho e gerando o desemprego estrutural. O problema só se agrava, pelo fato de o Brasil não possuir uma defesa do consumidor forte, pronta para exercer a justiça.

Isso já ocorreu nos próprios Estados Unidos: nos anos 80, cinqüenta grupos controlavam a mídia. Dez anos depois, vinte e dois grupos concentravam esse poder, e 90% das cidades possuíam apenas um jornal.

A atuação das agências de notícias internacionais e a entrada do capital estrangeiro vão provocar a redução dos jornalistas-correspondentes, pois, certamente os novos "donos da mídia" não vão querer ser investigados e criticados.

Vale lembrar que já estamos sendo controlados pelos estrangeiros. Houve um incêndio na Nestlé, por exemplo, no qual dois bombeiros morreram, mas não foi divulgado para que a mídia não perdesse anunciante.

Historicamente, o Brasil já entrou no capitalismo com excesso de subordinação e dependência, pois vinha de uma economia escravocrata que importava tecnologia. Ainda hoje, não há uma equipe de governo preocupada com a independência tecnológica, e um país não se desenvolve sem ela.

Estamos voltando a ser colônia, pois destruímos a iniciativa de um projeto nacional formulado nos anos 30, na ditadura Vargas, que não foi até agora reformulado ou substituído. O Brasil não tem um projeto nacional soberano e independente.

Se o Estado não fornece educação, não há consumo de mídia. Apenas 7% da população brasileira têm o poder de ler e entender o que está sendo apresentado, o que afasta ainda mais os veículos alternativos da grande massa.

A passividade é o reflexo do que vivemos hoje, não sabemos reagir à cultura e sedução embutidas. Pessoas que não pensam e não estudam, repetem os slogans estampados nos jornais e nas revistas.

A mídia depende da credibilidade da opinião pública. A nossa esfera de atuação é o jornalismo. Devemos apostar em nossa própria formação, no desenvolvimento de um senso crítico e na capacidade de atuação contra o sistema vigente (a ALCA, por exemplo), tratando a informação não somente como um fato, mas um fato enquadrado em seu contexto histórico.