Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Um livro comovente sobre o Estadão

LUNETA GIRATÓRIA

E Paulo Moreira Leite cutuca a gestão de Augusto Nunes em Época

Ricardo A. Setti (*)

1.
Registrando a história
? Belo e comovente o recém-lançado
livro Retrato de uma Redação, projeto editorial de Aluízio
Falcão e de Patrícia Maria Mesquita, que, em 168 páginas
sobretudo de fotos, mas também de depoimentos, mostra as diferentes redações
em que funcionou o Estado de S.Paulo e muitos dos protagonistas que ajudaram
a fazer os quase 127 anos de história do jornal.

Desde os vetustos senhores que escreviam a mão no final do século 19 até a atual geração que toca o Estadão, centenas de jornalistas de todos os tipos e matizes ficaram registrados no livro, vencendo, de certa forma, o efêmero que é essencial ao nosso métier ? produzir a cada dia uma edição que, por relevante que seja, tem sua duração medida em horas. O livro tem a decência de não discriminar ninguém, inclusive jornalistas que, hoje, são personae non gratae na casa, mas exerceram um papel em sua trajetória. No final, em homenagem inédita, estão, em ordem alfabética, todos os jornalistas que, de 1875 até hoje, trabalharam no Estadão. Nesses primeiros dias pós-lançamento, e antes de ir às livrarias, Retrato de uma Redação está sendo vendido pelo telefone (11) 3088-9344 por R$ 100,00.

2. Bela
aventura
? No livro, entre muitos bons depoimentos, o de Augusto
Nunes, grande diretor e reformador do jornal entre 1988 e 1991. Dois trechos:


"Quem entra na sede do Estadão sucumbe à sensação de que as coisas são permanentes e sai convencido de que o mundo não vai acabar. Pouco importa o endereço, o tamanho do edifício ou seus contornos arquitetônicos. Conheci essa sensação aos 20 anos, quando meu amigo Darci Higobassi levou-me ao prédio da Major Quedinho para começar a trabalhar como repórter."

(…)

"A sensação de passear pela História tornou a
emocionar-me em 1988: quase quarentão, voltei ao jornal, agora instalado
na Marginal do Tietê, para dirigir a redação numa inesquecível
temporada de mudanças. Em ritmo de montanha-russa, o jornal incorporou
a informatização, inventou cadernos, introduziu o uso de fotos
em cores e lançou a edição de segunda-feira (precedida
pelo trabalho aos domingos, ressalvavam os jornalistas). Não sei
se foram os meus melhores anos: otimista vocacional, sempre acho que os
melhores estão por chegar. Mas foi, decididamente, a minha mais bela
aventura."


3. Cutucando
? Por falar em Augusto Nunes, volta e meia o atual diretor de redação
de Época, Paulo Moreira Leite, estabelece comparações
entre sua gestão e a de Augusto, que o precedeu no posto. Na Época
que está nas bancas, por exemplo, a "Carta do Editor" de Moreira
Leite, a certa altura, faz referência "à equipe que desde
outubro [do ano passado] começou a fazer de Época uma
publicação voltada para assuntos relevantes e atuais, conquistando
um novo espaço no mercado e junto aos leitores". De vez em quando
Moreira Leite também cutuca diretamente a líder do mercado, Veja,
fazendo comparações entre a qualidade das duas revistas.

Augusto por enquanto deixou de apontar para Moreira Leite sua cortante espada de laser. Veja também tem evitado responder ? provavelmente porque continua com circulação paga mais de duas vezes superior à de Época.

4. Um
tom acima
? Jornalista sólido e de vistosa trajetória
na imprensa escrita, Boris Casoy conseguiu já maduro ser sucesso também
em outro meio, a televisão. Criou seu estilo opinativo ? "isto é
uma vergonha" ? e ocupa seu espaço. Mas às vezes exagera.
Será que a troca de acusações entre Ciro Gomes e José
Serra tem tido, mesmo, o nível de "lata de lixo" e de "esgoto",
como reclamou Boris um dia desses?

5.
Coisa feia
? Medonha e preconceituosa a ilustração
que acompanhou dois artigos de sábado (30/8) sobre taxa de juros na página
A 3 da Folha de S.Paulo: o ilustrador lançou mão de uma
figura sinistramente semelhante àquelas com as quais a propaganda nazista
na Alemanha procurava caracterizar os judeus.

6.
Mas ponto para
? … a Folha de S. Paulo em outro assunto:
sua oportuna introdução de duas novidades nas pesquisas de intenção
de voto este ano que lhe permitiram farejar, antes de todo mundo, a mudança
dramática nas intenções de voto de Ciro Gomes e José
Serra. As duas novidades são o chamado "rastreamento" (pesquisa
de opinião feita só com eleitores possuidores de telefones fixos)
e o Índice de Aprovação de Propaganda (IAP), questionário
específico que mede o quanto o eleitor gostou ou não dos programas
do horário eleitoral.

O rastreamento não é comparável às pesquisas normais do Datafolha porque não é representativo do universo dos eleitores ? mas apenas dos cerca de 54% deles que têm telefone. Sua utilidade, conforme diz a Folha, "é antecipar possíveis tendências causadas pela influência do horário eleitoral". Pois bem, na terça-feira (27/8), o jornal registrou que "…o IAP de Serra (21,2%) chama a atenção por ser superior à sua intenção de voto, que variou de 17% a 18% no rastreamento". Ou seja, havia um contingente de eleitores que preferiam o programa de Serra mas ainda se declaravam indecisos ou tinham a intenção de votar em outro candidato ? e estavam prestes a virar. À noite, foram divulgadas as pesquisas da Vox Populi e do Ibope que mostraram o forte encurtamento da distância Ciro-Serra.

Pena que o título da matéria da Folha falava não deste assunto, mas de Lula…

7.
Até que enfim
? Demorou, mas os grandes veículos finalmente
passaram a chamar a atriz Patrícia Pillar de "mulher" do presidenciável
Ciro Gomes.

8.
Pelo controle remoto
? Sensacional a novidade introduzida pela Sky,
serviço de televisão via satélite de que é sócia
a Globo: tal como na internet, só que com qualidade infinitamente melhor
nos vídeos, o assinante pode assistir quando quiser, a um toque do controle
remoto, aos telejornais e programas transmitidos pela Globonews. E ainda tem
à sua disposição, como nos sites, as últimas notícias
e informações como indicadores econômicos e financeiros.
A convergência de meios, que já existia na internet, chega agora
à TV no Brasil.

9.
Pauta que falta
? Ele está disputando com chances de vitória
a eleição para governador de Alagoas. Onde é que estão
as grandes reportagens ? ou, pelo menos, a grande reportagem ?, com bastidores
e tudo o mais, sobre a campanha do ex-presidente Fernando Collor?

10.
Lead histórico
? Você é dos que ainda gostam
de um bom lead? Então vamos lembrar um, antológico. Eleições
americanas de 1968, em plena ebulição daqueles incandescentes
anos 1960. Do lado democrata, o candidato é o vice-presidente Hubert
Humphrey ? simpaticíssima flor do liberalismo que, porém, carrega
nas costas a cruz de uma guerra sendo perdida no Vietnã por obra e graça
do presidente Lyndon Johnson. Do lado republicano, o ex-vice-presidente Richard
Nixon, figura cinzenta, rancoroso e vingativo, com passado de anticomunista
e feroz perseguidor de liberais quando deputado e senador.

Nixon já tentara a Presidência em 1960, sendo derrotado por John Kennedy pela diferença de um fiapo. Depois, fez um esforço desesperado para voltar à tona concorrendo ao governo da Califórnia, em 1962. Perdeu de novo para um democrata, jurou desaparecer da vida pública e fez célebre declaração aos jornalistas: "Vocês não vão ter mais um Richard Nixon para espezinhar".

Pois bem, terminadas as apurações naquela noite de novembro de 1968, Richard Nixon ? sim, ele mesmo ? é eleito presidente. O grande James Reston, no New York Times, sapeca no dia seguinte: "Foi a maior ressurreição desde Lázaro".

(*) Jornalista