Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um milhão de desculpas

CRISE NO NEW YORK TIMES

Um milhão de desculpas. É o que pediu Jayson Blair após receber a notícia de que Raines e Boyd estavam deixando o Times. Ele acordou às 11 da manhã do dia 5/5. Tomou seu estabilizador de humor e ligou o computador. Dali em minutos saberia das demissões pelo e-mail de um produtor da CNN.

O humor do jovem Blair, de acordo com reportagem de Daryl Khan e Rocco Parascandola [Newsday, 5/6], está completamente oposto ao que exibira em algumas entrevistas publicadas anteriormente. Nelas, o ex-repórter parecia se divertir com seu papel de macular a reputação de um dos jornais mais poderosos do mundo, gabando-se da facilidade com que conseguiu fazê-lo.

“Sei que disse um monte de coisas dolorosas desde que tudo começou, e gostaria de poder retirar parte delas”, disse Blair. “Eu não deveria ter falado até ter tempo de refletir sobre o que houve”. Ao ver a foto de Raines e Boyd num sítio, disse: “Fiquei encarando a imagem e fiquei triste. Principalmente por eles, mas também por todas as minhas atitudes no jornal”.

Blair foi muito criticado nos grupos de discussão de jornalistas por propor um livro em que chamaria o Times de seu “senhor escravo.”

 

A notícia das demissões de Raines e Boyd acabaram ofuscando as mudanças que o Times já está promovendo em relação às datelines (crédito e procedência da apuração). E não são as únicas. Mais uma vez, o erro do jornalão mexeu com concorrentes igualmente prestigiosos.

Como aponta o Newsday [3/6/], o Times, de alguns dias para cá, passou a publicar com mais assiduidade os nomes de colaboradores. A porta-voz Catherine Mathis explica que o diário não mudou oficialmente sua política nessa questão, mas os editores resolveram individualmente indicar com mais clareza quem faz as matérias.

Joe Strupp, da Editor & Publisher [2/6/03], consultou grandes diários americanos e apontou mudanças em alguns deles. O Miami Herald, por exemplo, resolveu que todas as pessoas envolvidas na produção de uma matéria terão seus nomes publicados e que todas as declarações de entrevistados terão referência de origem. Assim, o leitor sempre saberá se o comentário foi conseguido pessoalmente, por telefone, de agências de notícias. As agências também serão identificadas. O Boston Globe, segundo sua editora Helen Donovan, já indicava todos os responsáveis pelas reportagens, mas transformou esse procedimento em norma formal.

De acordo com Strupp, a maioria dos editores concorda no que se refere a bylines (crédito de autor) e datelines (indicação de procedência). Somente o responsável pela maior parte da matéria aparece como autor. A procedência só é utilizada se o repórter efetivamente esteve no lugar a que se refere seu texto. Com relação à citação de colaboradores, as opiniões divergem. O Chicago Tribune menciona somente quem contribuiu substancialmente para a notícia. Já o Baltimore Sun, segundo seu editor Tony Barbieri, dá crédito a qualquer pessoa que tenha participado, mesmo que suas informações não sejam utilizadas.

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