Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Um ombudsman para a BBC

BBC NA BERLINDA

Das muitas medidas que jornalistas e políticos têm sugerido à BBC para sair da lama, a de Alan Rusbridger, editor do Guardian, parece a mais razoável. Ele disse que a corporação deveria seguir o exemplo dos jornais e adotar um ombudsman independente para lidar com reclamações do público, ainda mais agora, com as dificuldades que estão emergindo do inquérito Hutton.

Rusbridger, de acordo com reportagem de Claire Cozens [The Guardian, 17/9], disse que a falta de um julgamento imparcial significa que a BBC não tem conseguido lidar com as reclamações do governo em relação à polêmica reportagem de Andrew Gilligan sobre o dossiê de armas de destruição em massa no Iraque.

“Quanta confusão e quanta tragédia poderiam ter sido evitadas se [o secretário de comunicações de Tony Blair e acusado de distorcer o dossiê] Alastair Campbell pudesse ter feito uma única ligação a um ombudsman independente da BBC, assegurando um esclarecimento rápido da reportagem original de Andrew Gilligan baseada no que falou ou não Kelly?”, disse o editor em discurso no congresso da Organização de Ombudsman de Notícias (ONO), em Istambul.

Rusbridger contou que o Guardian já enfrentou problema semelhante em uma matéria importante sobre a guerra, que também levou a reclamações do governo. “Nossa diferença em relação à BBC foi que Ian [Mayes, editor de leitores do Guardian] fez uma correção no jornal em 24 horas”, afirmou.

O editor previu que essa será a conclusão jornalística mais importante a vir à tona com o inquérito Hutton.

 

O inquérito Hutton do dia 17/9 foi todo “ameaças de pedidos de desculpa”. Além do reconhecimento de erros de Gilligan, Richard Sambrook, chefe de redação da BBC, chegou perto de se desculpar por fazer “pequenos mas potentes erros” na transmissão da reportagem do correspondente da Defesa para o programa Today.

Sambrook disse, segundo Julia Day [The Guardian, 17/9], que, no futuro, quaisquer alegações sérias devem ser repassadas de maneira literal ao público, para evitar novos “escorregões” como o de Gilligan. Sambrook afirmou ainda que as afirmações de Gilligan deveriam ter sido mostradas à Downing Street antes de ir a público e admitiu, para surpresa geral, que advogados não revisaram a reportagem apesar de agora acreditar que deveriam ter revisado.

O chefe de redação reconheceu que as anotações de Gilligan acerca de sua conversa com Kate Wilson, secretária de imprensa do Ministério da Defesa, deixaram a desejar, e que a BBC deve aprender as lições a partir desse caso.

Sambrook foi a terceira testemunha da BBC na semana passada a pedir desculpas, lamentar o ocorrido e admitir que a BBC deveria ter lidado diferentemente com o caso.