Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Um outro caminho

Não há semelhança alguma, exceto pelos gabinetes que ocupa, entre o governo federal de hoje e aquele que, no início dos anos 70, tornou obrigatório o diploma específico para o exercício da profissão de jornalista. Mas, como os ministros que o antecederam, Paulo Renato de Souza dá a impressão exata de preferir a ação governamental imposta ao diálogo franco e pragmático com o mercado. E assim vai o Ministério da Educação realizar, em 1998, o seu provão para os cursos de Jornalismo do País, autorizados por ele próprio a funcionar. Pretendesse, efetivamente, transformar os cursos em provedores de profissionais competentes, então o caminho seria outro.

Poderia, por exemplo, seguir a trilha inglesa: desde 1952, a Associação dos Jornais, o Sindicato Nacional de Jornalistas e o Instituto de Jornalistas mantêm o Conselho Nacional para Treinamento de Jornalistas, organismo financiado essencialmente pelas empresas a ele filiados. Não há exigência alguma, além dos exames de seleção, para que profissionais cursem os programas da entidade. Mas, a cada ano, sobe o percentual de detentores de diploma superior nos seus cursos: era de 6% em 65, de 53% em 81. Nas redações inglesas, mais de 70% dos profissionais têm curso superior. E, lá, não há exigência de qualquer diploma.

Se ao ministro Paulo Renato não cheirar bem o exemplo inglês, que ele siga o francês: o acesso à profissão é absolutamente livre embora, na prática, privilegie os egressos das sete escolas de jornalismo reconhecidas pela convenção coletiva da categoria. Ainda assim, a grande maioria dos profissionais detém um diploma superior e, como no Brasil, atua em áreas de grande densidade urbana: 62% dos jornalistas franceses trabalham na região de Paris.

Nem Inglaterra, nem França? Então vamos à Alemanha: também não há exigência alguma para o exercício da profissão, embora desde 1913 a Associação Nacional dos Editores de Jornais mantenha um programa de treinamento que dura dois anos, suspenso apenas entre 1933 e 1945 pelo regime nazista. Inglaterra, França e Alemanha, como de resto todos os países desenvolvidos do mundo, acreditam que o jornalismo é uma atividade que deve preocupar a sociedade, não o governo. Basta, neste particular, o exemplo da Emenda norte-americana que decreta a inconstitucionalidade de qualquer legislação sobre imprensa.

Mas, se ainda assim o ministro Paulo Renato não se convencer e optar pela defesa do nacionalismo vesgo, que procure então soluções tupiniquins. E as encontrará nas maiores empresas jornalísticas do País. Como no Estado de S. Paulo.

Desde 1990 O Estado de S. Paulo mantém o Curso Intensivo de Jornalismo Aplicado. Programa aberto a recém formados em jornalismo que, durante três meses, simulam sua atividade profissional na própria empresa. Ao final do curso, reconhecido pela Faculdade de Ciências da Informação da Universidade de Navarra (Espanha), como extensão universitária, todos que por ele passaram integram o Banco Estado de Talentos. Sete anos depois de criado, o programa é avaliado pelo próprio mercado: em todas as grandes redações do Brasil há profissionais treinados por ele. Outros atuam no Exterior, prestando serviços ao Wall Street Journal, em Nova York e à BBC, em Londres. Seu credenciamento pode ser avaliado também pelo conceito no Exterior: entre os estudantes que o freqüentaram como bolsistas, há originários das universidades de Colônia (Alemanha) e Santiago (Chile). E, este ano, o Miami Herald (EUA) envia um repórter seu para o curso. Programas como este podem não render discurso governamental. Em compensação, não custam nada para o governo e valem muito para o mercado. E para os jornalistas.

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