Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Uma defesa consistente da objetividade jornalística

 

Entrevista de Josenildo Luís Guerra a Victor Gentilli

 

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professor Josenildo Luís Guerra é um jovem pesquisador de jornalismo. É professor de jornalismo na Universidade Federal do Sergipe. No dia 24 de outubro, defendeu na Faculdade de Comunicação da Bahia uma dissertação de mestrado intitulada A Objetividade Jornalística. Trata-se de um estudo teórico surpreendente e original – para dizer o mínimo. Seu orientador foi o professor-doutor Wilson Gomes. Também compuseram a banca os professores Antônio Albino Rubim e Afonso de Albuquerque.

Seu trabalho é todo teórico e – na contracorrente de tudo o que se produziu de reflexão sobre jornalismo – defende a atividade e seus pressupostos básicos: a objetividade, a imparcialidade etc.

A Facom-BA tem produzido uma safra de pesquisas em jornalismo da melhor qualidade. Diversos outros professores e pesquisadores têm produzido estudos na área de jornalismo com qualidade acadêmica inegável.

Quando apresentou parte de seu trabalho no último Congresso da Intercom, em Recife, manteve um debate com o público do GT de Jornalismo invadindo mais de uma hora do tempo de almoço.

Nesta entrevista ao OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, Josenildo, 27 anos, graduado em Jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo, fala sobre sua tese e sua visão de jornalismo.

O.I. – Sua dissertação, contrariamente a toda reflexão acumulada sobre jornalismo, defende o conceito de objetividade. Você poderia explicar como entende esta questão?

Josenildo – Eu considero a objetividade fundamental para o jornalismo por dois motivos. Primeiro, para explicar, do ponto de vista teórico, o trabalho jornalístico; segundo, porque a objetividade se constitui num critério pelo qual tanto profissionais quanto a própria sociedade podem avaliar a qualidade do que se publica nos jornais. No primeiro caso, qual é o papel que o jornalismo se coloca? O jornalismo se coloca o papel de ser o mediador entre os fatos e o público: um fato acontece em Brasília, mas pode ser de interesse de quem está em Porto Alegre e Belém. O jornalista se propõe portanto a reportar, com fidelidade, o essencial desse fato, que diz respeito a pessoas que não o presenciaram diretamente. O conceito que explica essa possibilidade é a objetividade, a propriedade que permite ao discurso dar conta do fato. Ora, é claro que esse conceito é extremamente criticado nas ciências sociais e, especificamente, na teoria do conhecimento de pressupostos construcionistas, que vem desde Kant e do perspectivismo de Nietzsche. Não pretendo entrar nessa discussão, aqui. Mas gostaria de deixar claro que se o jornalismo não for capaz de reportar os fatos, do modo como eles “aconteceram”, a atividade perde razão de existir. Afinal, é isso que o público, o cidadão espera dos jornais: ter contato com a realidade. O jornalismo não é obra de ficção (embora algumas matérias nos façam pensar o contrário!). Sem a objetividade, acho difícil explicar o jornalismo a partir da relação que público e profissionais estabelecem cotidianamente entre si, isto é, tendo os fatos reais como objeto da notícia. No segundo caso, uma vez que a objetividade é o conceito que expressa a possibilidade da notícia reportar o fato, de modo verdadeiro, ela se torna também um parâmetro para que a sociedade cobre dos jornais a verdade sobre os fatos. Sem essa possibilidade, cujas questões a gente tem experimentado em várias ocasiões, ficaríamos impossibilitados de sequer refletir sobre o caso Escola de Base, por exemplo, na medida que não teríamos parâmetros para identificar que informações seriam verdadeiras ou falsas. Sem a objetividade, seria impossível pôr em xeque as informações falsas que circularam sobre o caso e, consequentemente, as reflexões sobre a necessidade de repensarmos a qualidade do nosso jornalismo não teriam sequer surgido.

O.I. – O conceito de verdade não seria mais eficiente? Veja que o oposto de verdade é mentira e o operador da mediação, um sujeito, portanto, toda a sua maneira de reportar uma verdade é subjetiva e não objetiva.

Josenildo – Objetividade é o conceito de verdade, no realismo. O realismo toma o conhecimento como reflexo da realidade. A objetividade é a propriedade que permite ao discurso a possibilidade de ser fiel ao fato, objeto do conhecimento. Assim, o conhecimento verdadeiro no realismo é aquele conhecimento que apreenderia a coisa em si mesma, sem a interferência do sujeito que se propõe conhecê-la. Esse conhecimento que é fiel à coisa tem a propriedade de ser objetivo, logo, no realismo, verdade é objetividade. É claro que desde Kant, pelo menos, já não é possível pensar o conhecimento nesses termos. Afinal, de algum modo, é o próprio sujeito que configura o objeto. Para entrar na segunda parte da pergunta, a mediação, é preciso distinguir dois problemas diferentes aí implicados. Ou seja, o termo “mediação” conforme usado tem dois sentidos. Primeiro, no sentido que me referi na questão anterior, relativo ao papel do jornalista de estar entre os fatos e o público. Trata-se de uma mediação espaço-temporal, isto é, o jornalista reporta para o público os fatos que aconteceram num momento e num lugar diferentes daqueles em que está o público. Um outro sentido de mediação – que deve ser usado com um pouco de cuidado – serial ontológico-existencial. O jornalista, enquanto profissional, realiza aquela mediação espaço-temporal que, por exemplo, um médico, um advogado, um engenheiro, enquanto profissionais, não realizam. Por isso o papel de mediador representa uma especificidade do trabalho jornalístico. Já o outro sentido de “mediação”, a ontológico-existencial, que eu vou usar entre aspas, remete à questão colocada por você, relativa ao papel mediador de um sujeito que se apropria de um objeto, conforme sua condição cultural. Esse segundo sentido, qualquer indivíduo, só pelo fato de viver, já o experimenta. Não é exclusividade do jornalista, como a primeira. Onde eu quero chegar com isso? Essa “segunda mediação” é um fenômeno muito mais profundo, primário, e não é vivida individualmente, mas intersubjetivamente, culturalmente, historicamente, existencialmente, enfim, quantos conceitos houver para expressar que o homem se forma enquanto indivíduo a partir de uma inserção social. Essa inserção é, na verdade, a realização daquela “mediação” a que você se referiu como sendo entre um sujeito e um objeto. Sujeito e objeto se encontram como tais a partir dessa inserção (cultural, histórica, existencial). Ora, essa inserção envolve a todos os indivíduos, permitindo a eles termos comuns a partir dos quais possam se relacionar entre si. Esses termos comuns não implicam projetos comuns, que todos tenham os mesmos gostos, hábitos e valores morais. Expressa que, apesar das diferenças, os indivíduos compartilham um conjunto imenso de conceitos prévios a respeito das coisas com as quais tratam. Enfim, essa discussão pode se alongar muito. Mas Hans George Gadamer trabalha isso de modo muito interessante, na minha opinião, sob o conceito de “tradição”, em Verdad y método, a partir de Heidegger e de seus conceitos de “compreensão” e “círculo hermenêutico”. O fundamental é perceber a distinção entre as duas idéias de mediação mencionadas na pergunta como se fosse uma. A inserção social – histórica, cultural, existencial – não é empecilho para a objetividade, pelo contrário, é essa inserção que objetiva os termos pelos quais os fatos aparecem e, assim, possam ser apreendidos objetivamente. Ou seja, é essa “mediação” que torna possível a mediação espaço-temporal realizada pelo jornalista.

O.I. – Toda o seu trabalho, além disso, mostra a necessidade de uma reflexão teórica sobre jornalismo. Como você vê esta questão?

Josenildo – Imprescindível. Boa parte da produção teórica que se tem sobre jornalismo é muito mais uma reflexão de inspiração político-ideológica do que Teoria do Jornalismo. Ou seja, são teorias da dominação, de construção de hegemonia, enfim, nessa linha, que apenas tomam o jornalismo como objeto. Procuram demonstrar como determinados valores são disseminados junto ao grande público através do trabalho jornalístico. Nesse sentido, a objetividade é tomada como um simulacro, uma simulação de verdade que pretende apenas fazer com que determinados valores, próprios a um segmento, sejam apresentados como universais, como toda expressão da verdade. O que sobra para o jornalismo, portanto, é uma crítica dura, uma prática que dissimula seu verdadeiro papel: o jornalismo se propõe ser uma prática mediadora, mas na verdade seria sujeito de determinados projetos de sociedade. Eu acho que essas teses são equivocadas, porque, no popular, misturam alhos com bugalhos. O problema aí é, primeiro, de natureza metodológica e, segundo, a necessidade de uma produção teórica voltada a entender as especificidades da prática jornalística. Na verdade, essas duas questões andam muito juntas. Em relação às questões de natureza metodológica, os estudos em jornalismo são visitados por conceitos e formulações as mais diversas, que concebem o jornalismo a partir de referencial teórico já pronto, produzido em outras áreas de saber. O jornalismo é uma prática recente, sobretudo no que diz respeito às pesquisas na área, que ainda não tem bem delineado os contornos do que efetivamente possa se tornar um objeto de pesquisa. Por isso essa variedade de abordagens, que acho tendem a diminuir. Consequentemente, também pelo fato do jornalismo ser uma área relativamente nova de pesquisas, com maior intensidade, falta ainda um conjunto de conceitos específicos que permitam estabelecer um tronco comum, mínimo, a partir do qual as pesquisas se detenham no que seja mais próprio ao objeto jornalismo. Para isso, no entanto, acho que as pesquisas devem olhar e respeitar mais o papel que a sociedade e profissionais têm delineado em relação à prática.

O.I. – Uma das mais fortes ênfases, então, do seu trabalho é a vinculação entre teoria e prática?

Josenildo – Sim. Eu digo isso com muita tranqüilidade, apesar de não ter tido vivência em redação. Eu me considero um jornalista-pesquisador, ou seja, jornalista por formação, pesquisador em jornalismo por opção profissional. A pesquisa científica exige uma preparação específica, quanto melhor essa preparação, melhor a qualidade do que se pode produzir. Portanto, a vinculação entre teoria e prática que sustento é no sentido de que as pesquisas devem buscar os conceitos chaves para se entender o jornalismo a partir da experiência que temos de jornalismo. Conceitos prontos, de antemão, nos quais a atividade é enquadrada não servem. Por isso considero fundamental sustentar a idéia de mediação para o jornalismo, porque é essa a experiência que temos no jornalismo contemporâneo – não levo em conta a fase da imprensa política, situada em outro momento histórico. Os jornais reclamam esse papel, através da busca pela credibilidade, e a sociedade cobra isso, por exemplo, quando exige independência dos jornais. Independência por quê? Porque jornal não pode tomar partido. Isso não é imaginação da minha cabeça, a sociedade discute, sobretudo em tempos de eleições, como o que acabamos de passar. Porém, há uma diferenciação entre essa possibilidade existir e os envolvidos, como os profissionais, conseguirem a sua realização efetiva. A partir dessa experiência, então, que conceitos podem ser chamados em causa para explicar a atividade e oferecer recursos para que se possa melhorar a qualidade do jornalismo que se faz? Não conheço as alternativas – viáveis – que boa parte dos trabalhos que se dedicam ao jornalismo, em tom bastante crítico, colocam à disposição dos profissionais de imprensa. Para mim, pesquisas que não abram esse tipo de possibilidade se tornam muito limitadas. E essas alternativas vão começar a aparecer quando se começar de fato a se produzir Teoria do Jornalismo.

O.I. – O ensino de jornalismo no Brasil praticamente ignora a discussão teórica específica – temos teoria apenas para a comunicação – de forma abrangente. Quais, na sua opinião, são os focos prioritários da reflexão teórica sobre jornalismo?

Josenildo – Eu acho que a reflexão teórica sobre jornalismo se dá em duas grandes tendências. A primeira são áreas de saber as mais diversas que se dedicam a pesquisar o jornalismo à luz de suas próprias preocupações. Sociologia, antropologia, análise do discurso, estudos da sociabilidade contemporânea, política etc., levam todo seu arcabouço teórico para aplicar ao jornalismo. São trabalhos que têm sua importância, desde que se atenham aos objetivos e conclusões possíveis às suas respectivas áreas. Ou seja, tomam o jornalismo como objeto, mas não fazem Teoria do Jornalismo. A segunda tendência são trabalhos que podem, efetivamente, vir a constituir uma Teoria do Jornalismo. Nesse sentido, eu identifico, rapidamente, quatro grandes linhas de pesquisa: gêneros e linguagem; ética e legislação; produção da notícia e fundamentos da prática jornalística. Gêneros e linguagem é a linha que se dedica a perceber os formatos e o estilo dos textos jornalísticos. Ética e legislação tem por objeto refletir, à luz da teoria ética e do direito, os princípios que regem a prática jornalística e a legislação sobre imprensa – se deve haver, em que termos, por exemplo, podem ser preocupações de pesquisa. Produção da notícia – uma linha que considero muito pouco pesquisada, se é que há pesquisas nessa área – deve se voltar para o trabalho de produção de notícias (as técnicas de reportagem e edição, as rotinas produtivas, a organização do trabalho nas redações) a fim de aperfeiçoar, melhorar, o trabalho de apuração a apresentação das notícias ao público. Conceitos produzidos pela abordagem do newsmaking – rotinas, valores/notícia, noticiabilidade etc. – podem ser muito esclarecedores nesse sentido, desde que percam um certo ranço sociologizante que apresentam. Precisam ser tomados mais de modo operacional. Por fim, a linha fundamentos da prática jornalística deve se dedicar a um estudo teórico mais especulativo que sustente os pressupostos de uma Teoria do Jornalismo a partir dos quais as demais linhas possam se apoiar. Por exemplo, o conceito de objetividade.

O.I. – De acordo com seus estudos, há uma grande distância entre o – vamos chamar assim -“jornalismo realmente existente” e o “jornalismo como modelo ideal”. Como vê a questão hoje e quais as perspectivas de aproximação?

Josenildo – Eu vejo uma grande distância entre a teoria que se produz sobre o jornalismo e a prática efetiva que a gente experimenta. Isso é uma coisa. O jornalismo como “modelo ideal” – embora eu não desenvolva essa questão, explicitamente – pode ser pensado enquanto princípios normativos que guiam o fazer profissional. Aí entramos na ética, que tem um caráter prescritivo no sentido de indicar as condutas que devem ser tomadas pelos jornalistas para serem considerados profissionais corretos no exercício da profissão. A objetividade aparece então como uma meta a ser atingida, porque é ela que garante ao jornalista estar realizando seu papel de mediador entre os fatos e o público. É ela que garante que o jornalista está falando de fatos da realidade, e não de fatos fictícios, imaginários. Quando o jornalista rompe a fronteira entre realidade e ficção, ele é passível de crítica porque fere um dos princípios éticos fundamentais do jornalismo, ater-se à realidade dos fatos. Por isso, repito, o Caso Escola de Base se tornou referência nos debates sobre a imprensa. Sobretudo porque um erro de jornal, guardadas as devidas proporções, é igual a acidente de avião: depois de acontecido, só resta recolher o que sobrou. No entanto, é fundamental que aprendamos com essas experiências, para evitar que se repitam. Nos Estados Unidos tem havido uma discussão interessante nesse sentido, porque há repórteres “ficcionando” suas matérias, como Stephen Glass, da revista The New Republic, que inventava fontes e fatos deliberadamente. Aliás, existe o tradicional exemplo de Janet Cook, que venceu o prêmio Pulitzer de 1981, com a reportagem “Jimmy’s world”, na qual contava a história de um garoto de oito anos viciado em heroína. Jimmy não existia e ela perdeu o prêmio. Quem faz jornalismo com seriedade deve ter sempre como meta – talvez como “modelo” – a busca pela verdade do que se noticia. Quem faz jornalismo com seriedade e competência atinge a meta.

O.I. – O OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA, entre outras instituições da sociedade civil, desempenha que função neste processo?

Josenildo – Acho que o OBSERVATÓRIO tem dois importantes papéis. Num certo sentido, cumpre um papel fiscalizador, daquele que “observa” e aponta os exageros da imprensa e as omissões, nos muitos casos que passam despercebidos pela cobertura jornalística. Ou seja, o OBSERVATÓRIO expõe os limites, as fragilidades, a insuficiência e a banalidade que muitas vezes estão presentes no nosso noticiário. E faz isso, o que considero meio curioso e meio inovador, sob duas perspectivas: a perspectiva de quem faz a imprensa, afinal, quem ali escreve ou fala (no caso do OBSERVATÓRIO NA TV) são jornalistas; e a perspectiva do leitor, na medida que as críticas feitas são, em boa medida, em defesa de uma informação que permita um melhor exercício da cidadania pelo indivíduo que lê jornais. No caso do OBSERVATÓRIO NA TV, que tem sempre um convidado alheio ao ambiente jornalístico, isso é muito claro. Quando o OBSERVATÓRIO e outras instituições afins fiscalizam, imediatamente estão também cumprindo um outro papel: um papel pedagógico. Ou seja, quando se fiscaliza, se apontam problemas e erros, imediatamente se reafirma uma conduta, um procedimento, um princípio que foi desrespeitado. Assim, nas críticas que faz, o OBSERVATÓRIO reafirma os padrões de um jornalismo que deve ser comprometido com a correta apuração dos fatos, com a independência, entre outros princípios caros à prática jornalística.

O.I. – Que tipo de contribuição suas reflexões poderiam oferecer à pratica corrente e sistemática de “crítica de mídia”?

Josenildo – Na medida em que tento oferecer os pressupostos sobre os quais as críticas podem se fundamentar. Grande parte dos trabalhos sobre jornalismo critica a objetividade. Ora, se a objetividade não é possível, como se pode então afirmar que um jornal mentiu, ou deu uma informação? Como afirmar que as denúncias sobre os proprietários e funcionários da Escola de Base eram infundadas? Quem afirma que alguém mentiu é porque se encontra em condições de esclarecer a mentira dita e sustentar a verdade em relação ao fato em questão. Portanto, o conceito de objetividade é fundamental porque ao mesmo tempo que ele valoriza e enobrece o trabalho da imprensa, ele na mesma proporção eleva sua responsabilidade tanto no sentido de comprovar o que se disse, quanto no sentido de abrir-se às críticas que venham da parte dos interessados e da sociedade civil. O mesmo raciocínio, por exemplo, vale para a imparcialidade. Muitos estudos dizem que a imparcialidade é impossível. Ora, se não existe imparcialidade, como se pode cobrar dos jornais que respeitem o pluralismo político? O meu esforço é no sentido de demonstrar a importância desses conceitos, muito banalizados na academia, para a prática jornalística e demonstrar essas situações paradoxais caso sejam simplesmente descartados. Na medida do possível, eu procuro dar sustentação teórica a eles, no âmbito da instituição jornalística. E isso significa oferecer os pressupostos para uma crítica responsável, por exemplo, como a do OBSERVATÓRIO.

O.I. – Que importância você vê na “crítica de mídia” como atividade didática no ensino de jornalismo?

Josenildo – Primeiramente, aquele papel pedagógico a que me referi acima. Quando se critica, reafirma-se de imediato princípios que foram desrespeitados. Assim, a prática da crítica de mídia no ensino de jornalismo faz o estudante pensar sobre que procedimento tomar, em situações semelhantes, quando estiver trabalhando. Ou seja, ao criticar a forma como determinado repórter cobriu um fato, por exemplo – uma crítica responsável, atenta aos diversos fatores envolvidos, como as condições do trabalho e os termos nos quais a crítica deve ser conduzida, se do ponto de vista ético, se do ponto de vista técnico, enfim, alguns detalhes importantes na hora de fazer uma crítica pertinente – o estudante antecipa uma situação que ele pode vir a experimentar futuramente, quando estiver no mercado de trabalho. Além disso, se as escolas conseguem dar visibilidade a essa crítica, elas prestam um serviço à sociedade, na medida que se tornam pólos “fiscalizadores” da informação publicada. Um terceiro aspecto que vejo é que a crítica de mídia coloca na ordem do dia o debate sobre a qualidade do jornalismo que temos. Isso é importante para as escolas de jornalismo, mas também para os profissionais e para a sociedade de um modo geral. Agora, se me permite, na medida em que o trabalho de crítica se fortalece e se expande – acho que isso é uma tendência – acredito, penso e defendo que as escolas devem também se propor pesquisas acadêmicas que possam suprir as muitas críticas apontadas. Não se tem feito isso. Acho que a universidade tem de se colocar esse desafio. Ver as demandas do mercado, no que diz respeito às carências técnicas, procedimentais, organizacionais, entre outras, e realizar, em parceria com as empresas, por que não?, pesquisas no sentido de suprir essas demandas. Digo realizar pesquisas, não realizar cursos de qualificação profissional, que é outra história. Ficar só nisso dá a impressão que a universidade sabe tudo e o mercado, nada. Não é isso. É pesquisa mesmo: identificar problemas, estudá-los e buscar soluções possíveis.