Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma feliz combinação

INTERNET & JORNALISMO

"A internet pode salvar as notícias?" A pergunta é o título de artigo de Michael Rogers na Newsweek (5/3/02). O jornalista comenta livro de dois editores do Washington Post ? The news about the news ? que lamenta a precária situação do jornalismo americano. Os autores Leonard Downie Jr. e Robert Kaiser fazem um diagnóstico sombrio: as pressões econômicas atuais sobre o setor estão prejudicando, se não destruindo, a missão do jornalismo.

A pressão começa pelo desejo das grandes empresas midiáticas de maximizar os lucros. Rogers observa que o modelo de mídia patrocinada por anúncios funcionou um bom tempo, e organizações sérias desenvolveram a separação Igreja-Estado para manter a cobertura jornalística livre de influências. No entanto, nas últimas décadas, a indústria publicitária mudou de estratégia: os anúncios hoje são orientados por pesquisas, que apontam o veículo mais identificado com o consumidor desejado pelo fabricante. Isto prejudicou os veículos de interesse geral que, afinal, não podem antecipar que assuntos abordarão no futuro. O resultado: menos verbas para notícias sérias.

E a internet? Hoje, é preciso produzir notícias em todos os meios ? texto, imagem, áudio, vídeo ?, 24 horas por dia, com alta tecnologia, e de graça. Mas a situação vai mudar, acredita Rogers. Com o progresso tecnológico, ele prevê que em cinco anos as notícias de internet se tornarão essenciais na vida do usuário, que estará disposto a pagar pelo acesso. A combinação de interatividade, multimídia e propaganda direcionada farão da rede mundial um dos meios mais eficientes de publicidade, aposta ele.

No futuro, os sítios noticiosos poderão desenvolver um modelo em que o internauta pague pequena taxa ou ceda informações pessoais para receber anúncios dos patrocinadores. Esta noção de público pagante leva a uma questão que a rede mundial não pode resolver, afirma Rogers: "A relutância do jornalismo de se promover." "Jornalistas, obviamente, não devem virar matéria, e Kaiser e Downie condenam nomes famosos por fazerem justamente isso. E promover o próprio jornalismo?", pergunta. Para Rogers, vivendo numa economia em que qualquer produto depende de campanhas multimilionárias, a profissão precisa divulgar seus valores. E a internet oferece instrumentos para a fundação financeira do jornalismo no novo século. "Mas cabe a nós, jornalistas, deixar claro por que merecemos o dinheiro."

MÍDIA DE TECNOLOGIA

Em extenso artigo no New York Times [4/3/02], David Carr pinta um triste quadro do que restou da imprensa especializada em internet e informática. Ele começa relembrando a edição de setembro de 2000 da revista Red Herring, de 552 (!) páginas repletas de anúncios, que trazia na capa um vitorioso Bill Gates e no interior a constatação de que os nerds haviam triunfado. Em comparação, a edição deste mês da mesma revista demonstra, em suas 100 páginas, a decadência deste mundo. "A história de negócios de tecnológica como parte proeminente da cultura americana acabou", avalia John Batelle, ex-presidente da Standard Media International.

O choque da drástica redução de mercado, que resultou na morte de publicações como Industry Standard ? a Bíblia do gênero ? ainda não foi absorvida. Os repórteres de tecnologia, que em muitos casos se sentiam parte do assunto que acompanhavam, tiveram de cobrir uma queda no abismo em que também estavam sendo atirados.

As publicações que restaram apontam os erros do passado e tentam encontrar alguma perspectiva para o futuro. "A revista tem uma missão mais profunda que somente captar o momento", avalia Ned Desmond, editor da Business 2.0. Ele cita a Fast Company, cujo enfoque mais cultural do que tecnológico das mudanças na área tem amenizado seus prejuízos, como exemplo a ser seguido. Alan Webber, co-editor da Fast, concorda: "Nossa missão fundamental é ajudar as pessoas a perceberem o sentido da rápida transformação deste negócio, dando-lhes subsídios para competir e ajudando-as a ver o que vem pela frente."

Na busca por um futuro melhor, as revistas, assim como outras empresas do ramo tecnológico, se agarram a qualquer possibilidade. A Red Harring afirma que um maior uso da banda larga poderia tirar os EUA da recessão. E sugere a criação de um "Plano Marshall" de ajuda do governo à criação de infovias.