Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Uma fonte alternativa

INTERNET ? 1

Não importa o quanto o presidente Bush e o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, aleguem que a nova guerra exigirá restrições ao acesso da mídia: o apetite do público por informações confidenciais não mostra sinais de cansaço.

Sridhar Pappu e Gabriel Snyder, em matéria para o The New York Observer (27/9/01), contam que uma nova fonte de informação interna começou a circular dias após os ataques. O sítio Debka.com, sediado em Jerusalém, oferece informações sobre inteligência, diplomacia e forças militares no Oriente Médio de forma bem mais detalhada (e assustadora) do que muitas organizações noticiosas. As matérias quase não fornecem a fonte e a veracidade é difícil de ser avaliada, levando em conta o sigilo em torno dos planos de guerra americanos.

Mas em muitas ocasiões Debka antecipou informações que depois apareceram nos jornais americanos. Em 16 de setembro, o sítio informou que os EUA planejavam uma campanha contra o Iraque. Pouco tempo depois, vazou a informação de que o governo descobrira uma possível ligação de um dos seqüestradores com Saddam Hussein.

Com furos como este, o Debka experimentou um aumento expressivo do número de visitantes ? de 150 mil para 250 mil por semana. Segundo Giora Shamis e Diane Shalem, responsáveis pelo sítio, entre os leitores do Debka estão militares e funcionários de inteligência americanos e correspondentes estrangeiros que cobrem o Oriente Médio.

Outra informação antecipada pelo sítio foi a relutância da Arábia Saudita em permitir que os EUA usem base aérea em seu território como plataforma central de operações, o que poderia adiar o começo da ofensiva americana contra o Afeganistão. Dois dias depois, o New York Times publicou reportagem de capa sobre os problemas que os EUA estão tendo em conseguir permissão para usar a base aérea saudita.

Shamis, que nasceu em Israel e trabalhou como repórter na região nos anos 70 para o The Economist, disse que lançou o sítio por conta da fechada natureza da reportagem de assuntos internacionais. Segundo ele, jornalistas que trabalham nesta área costumam escrever despachos com a mesma linguagem eufemística e cautelosa dos diplomatas que cobrem. A matéria sobre a Arábia Saudita seria um exemplo importante disso. "Com todo o respeito, a frágil e cautelosa abordagem do NY Times sobre as relações EUA-Arábia Saudita não mudou nos últimos 10 anos. Dar dicas e não reportar pode servir a objetivos diplomáticos, mas não satisfaz o leitor informado", afirmou Shamis.

Diane Shalem, que nasceu na Inglaterra, passou muito de sua vida em Israel trabalhando como jornalista também para o The Economist. Ela concorda com a avaliação do sócio, e acha que os leitores se ressentem de jornais que os tratam de maneira condescendente.

Em relação aos avisos das autoridades americanas, que dizem que a revelação de informação pode pôr vidas em risco, Shamis reconhece que recebeu ligações e e-mails apreensivos, mas diz não se preocupar. "Acho que temos experiência suficiente para divulgar informação que não causará mal algum a ninguém", declarou.

    
    
                     

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