Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Universidades federais: dois meses na pauta, nenhuma informação

V.G.

 

D

ois meses de greves nas Universidades Federais. Sem exceção, apenas jornalismo declaratório, nenhuma informação apurada. Em movimentos anteriores, havia o silêncio da imprensa. Desta vez sabemos o que o ministro fala, o que o secretário do ensino superior fala, o que alguns reitores falam, o que a Andes (sindicato nacional dos professores) e a Fasubra (sindicato nacional dos servidores) falam.

Informações e números contraditórias são expostos como se isso fosse bom jornalismo: afinal, todos os lados foram ouvidos.

Nenhuma investigação. Um pouco de esforço, os jornalistas encontrariam centros de excelência em pesquisa em petição de miséria; outro tanto, veriam empreguismo, clientelismo e fisiologismo da pior espécie.

O pensamento do governo para as Universidades está exposto, com todas as letras, no livro-entrevista de Roberto Pompeu de Toledo com o presidente Fernando Henrique. As entrevistas foram realizadas no ano passado. Todas as propostas que o ministro Paulo Renato Souza apresentava agora aos grevistas foram, quando não expostas claramente, como o Plano de Incentivo à Docência, já bem insinuadas.

Mas tudo é resumido nos números e em comparações de coisas as vezes incomparáveis.

Uma mesma universidade pode ter um Hospital exemplar e um curso de jornalismo perdulário. Resumir a realidade de 52 instituições em contraposições de números de autoridades e sindicatos é abandonar o cidadão num cipoal de informações cruas, sem nexo, descontextualizadas. É desinformação.

A discussão da autonomia universitária, do ensino pago, do papel do ensino universitário público hoje, tudo isso ficou ausente dos jornais. A greve tem mais de dois meses e a grande reportagem sobre a realidade do ensino superior público brasileiro ainda está por ser feita.

Agora teremos greve com provão. É uma oportunidade imperdível para a prática de bom jornalismo.