Os Observadores
ra uma vez uma “novela” medonha com acesso liberado no site do Universo Online. Chamava-se “Abuso Sexual”. Anunciava-se assim, no início de fevereiro de 1998:
“Primeira novela gay brasileira. Produzida pelo Mix Brasil, com roteiro de Stevan Lekitsch, conta a história de um homem fascinado por menores e é baseada em fatos reais“.
No cabeçalho da página propriamente dita, havia uma atenuação da verossimilhança:
“Esta história foi baseada em fatos reais, porém nenhum dos nomes, acontecimentos, ou pessoas aqui descritos são verdadeiros. Foram criados apenas para efeito dramático e narrativo.”
Qualquer militante lúcido da causa homossexual ou da liberdade de expressão há de convir que uma manifestação kitsch de pedofilia, ilustrada com fotos de crianças, não é o melhor caminho para defender coisa nenhuma. É fria.
Do texto da “novela”, redigido num idioma sensivelmente inferior ao do veterano Carlos Zéfiro:
“[O garoto Felipe] Tirou a roupa e ficou só de sunga. Comecei a tratar ele como um aluno, como se eu estivesse dando aulas de natação a ele. Enquanto ensinava algumas braçadas, roçava em seu membro que foi crescendo. Quando estava no ponto, puxei-o pela lateral da sunga, e mandei bala.” Etc. Esse trecho é o mais “literário”. É daí para baixo.
O Universo Online é uma associação da Folha com o Grupo Abril, que publica a revista Claudia, que, em seu número de fevereiro, meritoriamente aborda o assunto sob a mesma rubrica, “Abuso Sexual”, mas, claro, em sentido contrário.
Parece até piada, mas uma das recomendações dadas por Claudia sobre “como prevenir” é a seguinte:
“O Universo Online (http://www.uol.com.br) dá dicas de softwares que permitem aos pais ter controle sobre o que o seu filho vê na Internet“.
Faltou dizer: Mas fornece também, sem nenhum embaraço, uma historinha em que garotos (o personagem mais novo tem 8 anos) são submetidos aos desejos de um protagonista homossexual pedófilo.
Alertado por este OBSERVATÓRIO a respeito do conteúdo e das ilustrações, o Universo Online primeiro bloqueou as fotografias.
Em seguida, mudou de posição o aviso “Quer controlar o que seu filho vê?”. (Estava no canto direito, perdido. Ficou mais evidente. Em compensação, agora são duas as novelas da MixBrasil. Veja como ficou a tela.) Entretanto, a pessoa entra no “Abuso Sexual”, vê o que tem para ver, e depois descobre, eventualmente, que é possível bloquear aquilo (pagando pelo software). Se for um pai, a situação ainda é cogitável. Se for um filho… E o Universo Online tem diversos endereços dirigidos a crianças. Será que toda criança é monitorada pelos pais ou mestres na hora de entrar na rede? A recíproca é mais provável: que o pai de família mediano peça ajuda ao filho para descobrir o que é a Internet.
Seria conveniente que o Universo Online tomasse juízo e conferisse o que põe na rede.
Nada a ver com censura, ou hipocrisia burguesa. Como dizia Paulo Emílio Salles Gomes, a moral é uma corda esticada: a burguesia passa por cima, o povo passa por baixo e a classe média bate com os peitos e volta.
É questão de ter juízo, mesmo, ou, mais sofisticadamente, discernimento.
O Universo Online não deve hipotecar sua confiabilidade ao desejo de ser “o maior”.