Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

UOL noticia "morte" de Mário Covas

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BARRIGA

Luiz Antonio Magalhães

No final da tarde de terça-feira (13/02), o Palácio dos Bandeirantes foi avisado que uma página na internet noticiava o falecimento do governador Mário Covas. O material estaria hospedado no Universo Online (UOL), provedor cujos principais acionistas são os grupos Folha e Abril (veja ao lado a reprodução da página).

Mary Zaidan, assessora imprensa de Covas, digitou um endereço que lhe foi passado por telefone e acessou o material. Em seguida, telefonou para Teresa Rangel, gerente geral de produtos editoriais do UOL. "Solicitei que a página fosse retirada do ar, o que foi feito imediatamente. Não sei por quanto tempo permaneceu disponível", relata Mary.

De acordo com a assessora do governador, um jornalista da Bahia chegou a telefonar para checar a veracidade da informação. Outros ligaram para confirmar se o UOL tinha mesmo noticiado a morte do governador.

Versão do UOL

A assessoria de imprensa do UOL afirmou a este Observador que "a página nunca esteve no ar". É realmente possível que o material "de gaveta" sobre Mário Covas não estivesse ativo, isto é, passível de ser acessado por intermédio de "links" dispostos em qualquer das páginas do provedor. Mas estava "no ar", ou seja, disponível para ser visualizado por quem digitasse no software de navegação o endereço <http://www.uol.com.br/ultnot/assuntododia/index12.shl>

Em geral, é remota a chance de alguém chegar a uma página na web digitando um endereço (o chamado URL, universal resource location). Neste caso, porém, as chances não eram tão pequenas assim. Suponhamos que um internauta tivesse navegado dias antes e visitado a página "Assunto do Dia" que tratou do acidente de Herbert Vianna. O endereço desta página – que continua "no ar", mas está "inativa"–, é <http://www.uol.com.br/ultnot/assuntododia/index13.shl>. Ora, a única coisa diferente em relação à página onde esteve o obituário de Covas é o número 13 no lugar de 12.

Assim, se alguém anotou o URL da página de Herbert e, no dia 13 de fevereiro, quis rever o material, mas digitou por engano o número 12 no lugar de 13, deu de cara com a notícia da morte do governador de São Paulo.

Mary Zaidan não concorda com a versão oficial do provedor de que a página nunca esteve no ar: "Pode ser que não estivesse facilmente acessível, mas que estava no ar, estava. Tanto é que eu mesma acessei e imprimi a página", afirma.

Prática comum

Redigir, atualizar e manter em arquivo biografias de personalidades são práticas muito comuns no jornalismo. No The New York Times, por exemplo, há profissionais com a função específica de manter em dia as biografias e cuidar das notas fúnebres do jornal, que por sinal têm muito mais importância e destaque do que as similares brasileiras.

A morte é inevitável, não tem hora e, sendo assim, é natural que os principais grupos de comunicação tenham prontos os obituários de dezenas de políticos, artistas, intelectuais, esportistas etc. Evidentemente, é preciso ter muito cuidado com esse tipo de arquivo.

Mary Zaidan avalia que o UOL teve uma atitude correta ao retirar prontamente o material do ar e que o episódio foi fruto de um "descuido". "A assessoria de imprensa do UOL nos telefonou no dia seguinte para saber se havia alguma repercussão e para pedir desculpas em nome do Caio [Túlio Costa, diretor do Universo Online]. Em nenhum momento pedi que fosse feita uma correção", diz a assessora do governador Mário Covas.

Diante de uma "barriga" deste tamanho, nem precisava.

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