Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Valor Econômico

QUALIDADE NA TV

FUTEBOL

"RedeTV! pode ficar fora da transmissão de jogos", copyright Valor Econômico, 12/02/01

"Na tarde desta sexta-feira, executivos da Rede Globo e Rede TV! estiveram reunidos para decidir sobre a manutenção do acordo de aquisição dos direitos de transmissão dos jogos da Campeonato Paulista, Copa do Brasil, Copa dos Campeões e Brasileirão.

No fim do ano passado, RedeTV! comprou os direitos da Globo, para replicar os jogos. No entanto, até agora, a emissora novata não teria conseguido atrair número suficiente de anunciantes para tornar a exibição dos jogos comercialmente rentável para a emissora.

Rumores de que a RedeTV! não teria quitado a primeira parcela prevista do contrato no prazo determinado, foram negados pelos representantes da empresa. Também foram rebatidas informações sobre a falta de estrutura técnica e pessoal capacitado para realizar a transmissão dos eventos esportivos.

Durante o encontro, a Rede TV! fez algumas propostas que, até últimas informações, seriam avaliadas pela TV Globo. A decisão sairia hoje.

Até o início da noite de sexta-feira, porém, algumas fontes davam conta de que a RedeTV! teria sido descartada e que a Globo estaria atrás de outras interessadas. Com isso, a TV Bandeirantes seria apontada como uma possibilidade.

Em dezembro, quando fechou o acordo com a TV Globo, Marcelo Carvalho, e vice-presidente da RedeTV!de televisão brasileira, disse em entrevista exclusiva ao Valorque aquela teria sido a maior batalha na televisão brasileira.

Com o negócio, ele previa grandes mudanças para a emissora, tanto em relação ao mercado publicitário quanto ao público. Na época, Carvalho sonhava com 180 jogos e mais de 4,5 mil inserções publicitárias, além da possibilidade de atrair e fidelizar um novo público para o canal. ‘Hoje somos fruto do zapping, amanhã seremos do hábito’, profetizava."

PORTO DOS MILAGRES

"Universo baiano para consumo na TV", copyright Valor Econômico, 13/02/01

"Num país predominantemente católico como o Brasil, novela que traz elementos do candomblé faz sucesso. Na nova novela das oito da TV Globo, ‘Porto dos Milagres’, de Agnaldo Silva e Ricardo Linhares, o orixá mais famoso, Iemanjá, é um dos protagonistas da trama, ao lado dos personagens de Marcos Palmeira e Flávia Alessandra. A história é inspirada no romance ‘Mar Morto’, do baiano Jorge Amado.

Elemento comum em novelas de Agnaldo Silva (autor de ‘Tieta’) e que também era explorado por Dias Gomes, o candomblé aparece fundido com o catolicismo – nosso sincretismo religioso. No primeiro capítulo, o personagem de Maurício Mattar, o pescador Frederico, pede a benção à Iemanjá. Seu amigo Leôncio (Tuca Andrada) se aproxima, toca a imagem do orixá e faz o sinal da cruz.

Mas por que ícones da baianidade como o negro, a capoeira, o candomblé e os pescadores – sempre bonitos e sensuais nas novelas – chamam tanto a atenção de um público em sua maioria católico e ainda um tanto preconceituoso em relação ao negro e às religiões africanas?

Segundo o sociólogo Reginaldo Prandi, autor de ‘Mitologia dos Orixás’ (Cia. das Letras), a admiração existe à medida em que o preconceito permanece. ‘O preconceito se manifesta conforme o público acha bonito, exótico, embora não queira fazer parte daquele universo’, explica. ‘É para ser consumido.’

Mas ao contrário do que possa parecer, o sociólogo acredita que se por um lado a novela estimula o consumo do exótico, por outro fornece dados para legitimar essas características socialmente. ‘As pessoas acabam se acostumando aos nomes dos orixás, por exemplo, e aquilo passa a fazer parte da vida delas.’ Que o diga Iemanjá, que é cultuada durante as festas de ano-novo até mesmo por quem nunca ouviu falar em Oxóssi, orixá da caça e um dos filhos da Rainha do Mar. Até na novela metade do elenco é filha de Iemanjá.

Prandi, que está preparando um livro sobre a presença dos orixás na música brasileira no século XX, diz estar achando a novela ótima. ‘Vai alavancar a venda do meu livro’, diz, rindo.

Quanto aos atores, a curiosidade sobre o assunto e a intimidade de alguns deles com o candomblé é notável. Marcos Palmeira, que vive Guma, pescador protegido de Iemanjá, porém filho de Oxóssi, conta que ainda não foi a um terreiro, mas tem vontade de conferir. Quanto ao fato de as pessoas gostarem de novelas desse tipo, diz: ‘Faz parte das contradições do povo brasileiro’. Como Prandi, ele acredita que as novelas contribuem para acabar com o preconceito.

Já Zezé Motta, que sempre telefona para Mãe Stella, na Bahia, para pedir conselhos, foi além: ‘Fiz uma oferenda a Oxum, que é meu orixá, para poder viver uma filha de Iemanjá na novela.’ Ela vai viver uma mãe-de-santo meio trambiqueira. ‘O lado bom é que ela não é mãe-de-santo 24 horas, ela tem uma vida fora do terreiro.’ Quanto à vida real, Zezé acredita que as pessoas que não têm intimidade com as religiões afro-americanas têm ‘medo da palavra macumba’.

Mais que colocar traços religiosos, a novela conta com uma atmosfera mística, que faz jus aos milagres do nome da novela e que é um traço marcante nas obras de Agnaldo Silva.

Tem até quem acredite que o fato de a novela ter essa característica fez com que acontecessem milagres na vida real. É o caso da novata Bárbara Borges, que vai viver Luiza, filha de pescadores. Ela já tinha feito vários testes para TV, mas algo lhe dizia que ‘esse ia dar certo’, conta."

Volta ao índice

Qualidade na TV – texto anterior

Mande-nos seu comentário