Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Valor Econômico

ASPAS

INGLATERRA

"Os jornais, a necessidade de leitores e as eleições", copyright Valor Econômico, 10/05/01

?Foi o Sun que ganhou!?, proclamava o diário mais lido do Reino Unido em manchete de 1992, depois de apoiar os conservadores de John Major e ridicularizar o Partido Trabalhista de Neil Kinnock. Em 1997, o jornal, até então conservador, tornara-se o veículo noticioso do Partido Trabalhista, a agremiação vitoriosa. Portanto, é claro que ?o Sun comandou a virada!? Hoje, o Sun continua totalmente vinculado aos trabalhistas, assim como outros jornais, mais do que em qualquer outra época da história, desde 1945. Isso ajuda a explicar a firme liderança do partido? Aparentemente, não. Pesquisas mostram que os jornais têm pouca influência sobre o voto do eleitorado.

Veja-se a eleição de 1997. A vitória esmagadora do trabalhismo, que pôs fim a 18 anos de predomínio conservador, coincidiu com uma guinada para a esquerda, tanto por parte dos grandes jornais, como dos tablóides. Em 1992, 70% da imprensa, em termos de circulação, apoiava os conservadores de John Major, de acordo com Peter Golding, da Universidade de Loughborough. No final da campanha de 1997, não menos do que 60% da imprensa haviam passado a apoiar o partido de Tony Blair. Na atual eleição, diz Golding, uns dois terços da imprensa estão a favor dos trabalhistas.

Qual seria a razão disso? O forte apoio dado aos trabalhistas recentemente, na imprensa e nas pesquisas, seria simplesmente o reflexo da forma de trabalho preferida dos editores: apoiar quem está ganhando e conservar os leitores.

A mudança de posição do Sun é uma oportunidade para provar essa vinculação. Pippa Norris, da Universidade de Harvard, fez um estudo em que analisou vários levantamentos que mostram como as pessoas normalmente votam, tanto antes, como depois da virada dos jornais. A conclusão foi de que a reorientação do Sun teve pouco impacto sobre a intenção de voto de seus leitores. Não se verificou também nenhum ?indício significativo ou consistente de que os jornais, cuja orientação passou a favorecer os trabalhistas, tenha influenciado os leitores?. Mesmo no longo prazo, o elo entre as preferências eleitorais dos jornais e de seus leitores parece ser muito tênue. Depois de 1945, quando o número de leitores favoráveis aos conservadores superou os que apoiavam os trabalhistas de três para dois, a imprensa apoiou os conservadores em todas as pesquisas, até a deserção de 1997. Mesmo assim, seis governos trabalhistas foram eleitos."

"O teste de Blair", copyright no. (www.no.com.br), 8/06/01

"Em seus editoriais, o ?Times? de Londres, conhecido por seu conservadorismo político, fez grandes esforços por convencer os leitores de que o primeiro-ministro trabalhista Tony Blair merecia um segundo mandato à frente do governo britânico.

Não foi o único. Outros bastiões do conservadorismo na imprensa da Inglaterra, como o ? Financial Times? e a revista ?The Economist?, também declararam apoio a Blair, assim contribuindo em alguma medida para a sua vitória nas urnas. O endosso não refletiu apenas o fato de que o trabalhismo de Blair tem mostrado um rosto que em muitos aspectos até se confunde com o conservadorismo da ex-primeira-ministra Margaret Thatcher. Na eleição anterior, ele se apresentou como candidato de centro-direita, e foi esta a linha que definiu politicamente seu primeiro mandato.

A ?Economist? justificou seu apoio dizendo que é melhor ter no governo ?um herdeiro ambíguo de Margaret Thatcher do que um herdeiro fraco?. Não deixou de fazer restrições ao desempenho dos trabalhistas durante o primeiro mandato de Blair, considerando-o na realidade pouco mais do que medíocre em muitos aspectos. Mas, para grande parte do eleitorado conservador, um governo do candidato do Partido Conservador, William Hague, neste momento seria muito pior do que o dos trabalhistas.

No fim de contas, o que explica a inesperada adesão de setores tradicionalmente antitrabalhistas da Grã-Bretanha ao governo Blair talvez seja a prova dos noves de que todo eleitorado precisa: ele demonstrou competência, pura e simplesmente. É este o dado definitivo. Por cima da retórica inflamada dos palanques, para os governados existem governos bons e governos maus. E o de Blair, independentemente de partidos e de ideologias, sem dúvida passou no teste."

MÉXICO

"Governo mexicano não vai mais entregar prêmios para jornalistas", copyright Folha de S. Paulo / Reuters, 10/06/01

"Voltando as costas a seu passado autoritário, o governo do México disse na última quinta-feira que vai parar de conceder um prêmio anual de jornalismo, deixando a tarefa a cargo da própria imprensa.

?Quero propor que, no futuro, o prêmio seja totalmente autônomo do governo?, disse o ministro do Interior, Santiago Creel, após dar medalhas e diplomas do Prêmio Nacional de Jornalismo a profissionais de imprensa escrita, rádio e TV. Ele sugeriu que a premiação passasse a ser dada pelo Instituto Federal Eleitoral, organismo público autônomo.

Segundo o ministro, o presidente Vicente Fox -cuja eleição, no ano passado, quebrou uma hegemonia de sete décadas de governo do Partido Revolucionário Institucional (PRI)- acredita que, em uma democracia plena, não é correto que o reconhecimento da imprensa seja feita pelas autoridades.

O fato de a imprensa mexicana tornar-se responsável pela premiação, disse Creel, ?vai fortalecer a relação de transparência entre o governo e a mídia?.

A cerimônia de premiação foi realizada no prédio do Arquivo Nacional mexicano, a mesma construção que, no passado, abrigava a notória penitenciária de Lecumberri, onde centenas de ativistas estudantis foram mantidos presos em 1968, após a repressão sangrenta de um movimento pró-democracia, ordenada pelo então presidente do país, Gustavo Diaz Ordaz.

No auge do governo do PRI, nas décadas de 60 e 70, as autoridades frequentemente concediam os prêmios a jornalistas corruptos, em troca de favores feitos pelos magnatas da imprensa da época.

A jornalista de rádio Carmen Aristegui, uma das premiadas na cerimônia da última quinta-feira, disse à platéia, formada por jornalistas e representantes do governo, que, embora ela respeitasse a independência dos juízes encarregados de escolher os ganhadores, já era hora de o governo distanciar-se da premiação.

?O México é o único país onde a organização encarregada do controle político (o Ministério do Interior) concede prêmios a jornalistas?, disse Aristegui. ?Será que é correto que jornalistas, o presidente e a sociedade mantenham esta cerimônia, que não consegue livrar-se do ?mau cheiro? da troca de favores??

Aristegui também disse que não vai aceitar a parte da premiação que é dada em dinheiro. Mais tarde, a jornalista disse à agência de notícias ?Reuters? que vários dos premiados deste ano disseram a Fox, em um almoço de comemoração realizado na semana passada, que o governo deveria terminar seu envolvimento com os prêmios. (Tradução de Clara Allain)"

    
    
                     

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