Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Veja encaçapou Jader; faltam os outros

Todos sabiam, ninguém piava. Os bate-bocas entre os senadores Jader Barbalho e ACM, ao longo deste ano, iniciando a disputa pela presidência do Senado, produziram uma série de dossiês, quase todos engrossados com recortes de jornais. A mídia reproduzia os desaforos, tentava "esquentar" os safanões verbais e ficava nisso. Não acreditava nas suas próprias denúncias.

Veja finalmente lembrou-se do seu passado e foi à luta. Às vésperas do 34º aniversário (edições 1672 e 1673), o semanário abriliano investigou a incrível história do senador de 30 milhões de reais com dívida de 8 milhões de reais ao INSS.

Em duas semanas aumentou a distância entre Jader Barbalho e a presidência do Senado. A partir de agora fica difícil entregar a chefia do Poder Legislativo a um político com esta folha corrida.

Um tento, isso é jornalismo investigativo. Nenhum reparo aos procedimentos: as denúncias foram checadas junto ao próprio denunciado que não conseguiu oferecer respostas convincentes. Não se repetiu a praxe jornalística brasileira de primeiro publicar a acusação e, depois, esperar que apareçam as provas.

Em matéria de eqüidistância não se pode dizer o mesmo. O império do arqui-inimigo de Jader, ACM, é ainda maior do que o do senador peemedebista pelo Pará. A fortuna e negócios do pefelista baiano ainda mais impressionantes. E o seu percurso pelas diferentes esferas do poder, embora mais longo do que o de Jader, não é muito diferente.

Jader começou em 1966 como vereador, filho de uma família humilde que mal conseguia recursos para pagar os seus estudos. A carreira política de ACM estende-se por 46 anos em comparação com os 34 do desafeto. Oriundo da classe média alta baiana mas sem vínculos com o mundo de negócios (o pai foi professor de Medicina e o sogro era rico), começou como jornalista, foi funcionário da Assembléia estadual e hoje domina um complexo empresarial com 16 empresas (a maioria na área de comunicação e telecomunicações) que valem muito mais do que os 5 milhões de reais que declara como patrimônio.

Pode ser que neste exato momento (4/11) a equipe de Veja esteja preparando uma devassa na vida empresarial de ACM para mostrar neutralidade na disputa pelo cargo de Vice-Rei do Brasil e demonstrar que não voltou a aninhar-se nos braços do senador baiano – onde esteve ao longo de quase duas décadas conforme insinuou Mário Sérgio Conti, em Notícias do Planalto.

Pode-se imaginar que o semanário esteja investigando igualmente outra success-story do mundo jornalístico-político: a do tertius, José Sarney (PMDB-AP), também cogitado para candidar-se à presidência do Senado e cujo perfil/patrimônio não difere do que exibem os dois colegas-concorrentes.

Sarney era um modesto jornalista (nada brilhante, diga-se: este Observador demitiu-o da função de correspondente no Maranhão do Jornal do Brasil, em 1962). Sua carreira política começou junto com a de ACM (em 1954). Seu império jornalístico e incursões empresariais são menores do que os do senador baiano, porém maiores do que o do paraense. A história da conquista da cadeira de senador pelo Amapá é uma das bizarrias do longevo coronelismo político nacional.

Os impérios jornalísticos dos ex-jornalistas Sarney e ACM fizeram-se à sombra das Organizações Globo. A dupla exceção será o duplo defeito que condenou Jader Barbalho à execração pública?

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A quem interessa a fortuna de Jader – Lúcio Flávio Pinto

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