Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Veja faz 30 anos querendo ser o Pasquim

O SEMANÁRIO DA EDITORA ABRIL completa nos próximos dias 30 anos de existência. Mas ultimamente anda comportando-se como se tivesse apenas um.

O erro de informação na matéria dos remédios falsificados pode acontecer nas melhores famílias. A empresa assumiu imediatamente sua responsabilidade através de anúncios pagos nos principais jornais do pais. Deu satisfações às autoridades, aos anunciantes e à sociedade de forma cabal e inequívoca. A mesma postura da empresa não foi acompanhada pela revista na edição seguinte. Como se fossem entidades distintas.

Depois veio o furo furado no caso do “maníaco do parque”. Para antecipar-se em apenas 12 horas ao resto da mídia a revista cometeu uma irregularidade na obtenção da confissão do (então) suspeito que acabou gerando uma investigação da OAB (veja edição anterior). Além de um inusitado movimento de repulsa nos meios profissionais pelo método empregado para obter a informação.

Na onda deste mesmo caso veio a sumária demissão do seu crítico de mídia, Eugênio Bucci (ver abaixo remissão para Caso Bucci).

E, para coroar a série, a capa da edição de 26/8/98 em que a revista resolveu fazer uma brincadeira editorial comparando Clinton com o serial killer de S. Paulo. No visual e no texto (com uma tirada política para agradar aqueles que condenaram a reação americana aos ataques terroristas na África) tentou-se forçar uma semelhança entre um assassino confesso de dez mulheres e um homem público que, no máximo, pode ser acusado de comportar-se irresponsavelmente.

A manipulação caberia num jornal de humor e sátira. No velho Pasquim ficaria ótima. No mais importante semanário brasileiro, o quinto em circulação no mundo, é inadmissível.

Quem o disse (na edição seguinte) e com todas as letras, foi o leitor Evandro Paes dos Reis:

“…Usar a capa de Veja para fazer tipo de insinuação não está à altura de uma revista desse porte e conceito.” (Ver Caderno do Leitor.)

 

NO INTERVALO DOS JOGOS era aquele carnaval de “abobrinhas” e irrelevâncias, magnificadas pela repetição e pelo “jornalismo de saturação”. No dia seguinte aos jogos, era o óbvio (com as raras e honrosas exceções de alguns comentaristas abalizados). E no grande dia, o grande vexame, todos comeram mosca: ninguém, até hoje, conseguiu contar exatamente o que aconteceu na concentração e no vestiário antes da partida final.

Distorções numa cobertura esportiva, mesmo num Mundial de futebol, não afetam os resultados, no máximo mexem com as emoções dos leitores/telespectadores. Distorções na cobertura de um pleito, numa sociedade que ainda não assimilou inteiramente as normas democráticas, podem comprometer os próprios resultados do pleito.

Com o pretexto de isenção e imparcialidade e, para contrabalançar os horários de propaganda “gratuita” no rádio e na TV, a mídia impressa criou o seu próprio carnaval. Ampliam-se as insignificâncias, criam-se pseudofatos (os famosos factóides), e até confere-se relevância política às matérias produzidas pelos marqueteiros nos seus comerciais. É a inversão total dos mais simples preceitos jornalísticos.

E quando chega a próxima rodada de sondagens de opinião utilizam-se os números teoricamente transitórios como se fossem sentenças definitivas.

A Folha insiste no cacoete de fazer barulho. O seu caderno Eleições, em si, é uma aberração (lembra muito o caderno da Copa) porque tira do primeiro caderno sua matéria-prima mais nobre: o andamento do processo eleitoral. E ao empurrá-lo para um suplemento colorido e festivo, conseguiu o milagre de separar política de eleições. E para preencher o espaço diário, informação que merecia nota de uma coluna, no caderno, é ampliada indevidamente.

Exatamente nesta seção saiu, a dia 26 de agosto, a infelicíssima denúncia, suíte de uma bobajada investigativa da Rede Bandeirantes, sobre as transações do candidato Lula para comprar o seu apartamento. O pedido de direito de resposta agora corre no STF e, naturalmente, converte-se em matéria de primeira página (edições de 1 e 2/9/98).

No caderno “Eleições” saiu no domingo 30/8 um espantoso título, abertamente opinativo, que contradiz frontalmente a respectiva matéria: “Covas admite até mentiras”. O jornal teve que engolir um desmentido no seu “Painel de Leitores” e uma confissão de culpa no “Erramos”. Juntos, não ocupam ¼ do espaço da notícia original.

E porque é o jornal mais inclinado ao reconhecimento dos seus erros, a Folha conseguiu produzir um feito extraordinário: o canto direito da página três (onde saem as cartas dos leitores e as erratas) converteu-se em leitura obrigatória para o selecionado número de leitores que buscam a veracidade. (Ver Caderno do Leitor).

Nesta “midiacracia” da Era da Informação já se pode vislumbrar uma nova constatação: a lisura do processo eleitoral compreende principalmente a lisura da imprensa que o acompanha.

 

PORQUE A DIREÇÃO DA RECORD terminou com suas apresentações ao vivo e porque o censurou por ter levado numa delas um membro do primeiro escalão federal, o apresentador Ratinho transferiu-se para o SBT.

Já no decorrer da entrevista concedida por Ratinho à nova casa anunciando sua transferência, os índices de audiência dispararam. O resto da mídia exultou. Ratinho agora é prócer político. Tudo em nome da luta contra a Rede Globo.

 

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