Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Videotimismo em gotas

VIDEOJORNALISMO

Angelo de Souza (*)

Quando a primeira prensa de tipos móveis começou a multiplicar a Bíblia, em proveito da difusão da fé cristã, não devem ter faltado aqueles que condenaram o invento por julgar que, ao desestimular a memorização dos textos sagrados, acabaria por afastar o fiel da verdade revelada.

Mas a história ensina que a imprensa criou a necessidade social de alfabetização, assim como, por tabela, a figura do analfabeto. A fotografia não substituiu a pintura, mas levou o figurativismo a uma crise irreversível. A voz do rádio não calou os jornais, as luzes da televisão não apagaram as do cinema, a internet não fechou as bibliotecas. Mas…

A questão não é ser ou não ser otimista, ou pessimista. Toda tecnologia pode ser bem ou mal usada, e não adianta lutar contra ela. Temos, sim, que reivindicar o melhor uso possível ? para a tecnologia e para a humanidade.

A melhor parceria

É claro que as possibilidades autorais dos equipamentos portáteis devem ser relevadas. Vídeorrepórteres competentes e criativos, como o Nachbin e o Quiroga, merecem nossa admiração. A ficção dos quadrinhos, que acopla poderosas lentes e microfones aos olhos e ouvidos de repórteres futuristas, recria o conceito dos meios como extensões do humano (de McLuhan) e antecipa o que vem por aí ? e que venha logo !

Tampouco se trata de defender corporativismos ou de combater as corporações. Nem perderia o que me resta de razão ao discutir com o professor Brasil o limite da capacidade humana de simultaneamente pensofalar e videoescrever, até de chupar cana e assobiar.

Apenas quis dizer, professor, antes de me retirar da polêmica, que ainda é mais fácil uma emissora comercial "investir" em um multiprofissional ? capaz de pautar-se, reportar, editar, apresentar e varrer o chão, pelo mesmo salário de um + gratificações, se houver ? do que essa mesma emissora apostar em belos trabalhos de autor, que demandam tempo, planejamento, autonomia intelectual etc., seja para o telejornalismo diário ou para especiais de fim de ano, na Rocinha ou no Xingu. É a lógica da redução de custos para a maximização de resultados.

Tudo depende de que resultados se pretende, e de quem depende a obtenção desses resultados. É preciso que o investidor não vise só o lucro, e que o profissional ambicione mais do que o emprego. A propósito, quando será que um e outro pensarão com a mesma cabeça, sem que ninguém ? nem o público ? sejam prejudicados?

Se o otimista mantiver um pé na realidade o pessimista terá o dever da conservar a esperança. A minha é de continuar parceiro de bons jornalistas de imagem, com os quais aprendi a escrever melhor do que sei filmar.

(*) Jornalista e professor da UFPA

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