Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Visão estreita e corporativista

 

André T. Guedes (*)

Até que ponto se deve encarar de modo pejorativo, por exemplo, a fé religiosa que deposita um devoto nas sagradas escrituras da Bíblia, no sermão do padre ou naquela estátua morena da virgem? Sobre que fundamentos se ergue nossa sociedade dita racional? Em que nos favoreceram os estudos sociais ? a sociologia, a antropologia? Sobre o que se firma a crença que depositamos na ciência, supermercado de teorias?

O homem racional, moderno, intelectualmente atualizado, ao sair do café onde, com seus amigos também intelectuais, cumpriu seu obrigatório ritual da happy hour no fim de tarde, reverbera de desprezo quando, na calçada, se depara com a credulidade cega dos pregadores evangelistas.

Há alguns séculos, foi com a condenação de tudo aquilo que não podia ser comprovado, de todo o não-lógico, que a burguesia depôs o ideário medieval e instaurou a ordem liberal, “superior e necessária”. Explodiam as ciências naturais e o homem moderno agora podia “controlar a natureza”. Aquele tal que estudava a sociedade veste a capa branca e neutra do cientista. Os mecanismos produtivos e de repressão ? porque esses sim, e não a sociedade, têm a frieza do que é mecânico ? se desenvolvem gigantescamente.

Mas ao homem do povo, o trabalhador, só lhe exigem a lógica e o raciocínio dos movimentos. A exatidão que conhece refere-se apenas à correspondência entre o que ganha e o que lhe falta para saciar a barriga. Como pode esse, sem oportunidade de estudo, ler no suor do seu braço ou na mancha de graxa da camisa os benefícios que a razão liberal e a ciência trouxeram a humanidade?

Elites e revoluções

Forja-se uma laicização do Estado, mas o indivíduo do povo não tem outra oportunidade de aceitá-lo ? ao Estado ? senão pelo reconhecimento (um reconhecimento que, de fato, não é cego, pois é construído) de uma autoridade erguida pelo medo, e esse medo pela pancada.

O filósofo diz o que é a verdade, o sociólogo relata um estado de coisas. A autoridade do objetivamente comprovável mistura os dois e formata no que agora é algo que o intelectual aprova encantado, com a chance que lhe dão de aprovar alguma coisa e o “indivíduo comum”, o trabalhador, aceita com a resignação o que a Igreja e a pancada lhe impuseram.

Cabem agora, certas reflexões sobre a veiculação do que é hipotético, e da significação que as hipóteses e os métodos científicos têm para o homem do povo. O homem que pensa a maneira de um estranhamento e da fé…

O fato essencial é. O que é conveniência para a mente perturbada e ambiciosa do cientista confunde a maioria e obscurece uma realidade de antagonismo, exploração e “superficialidade neurótica”.

Na mesa de um bar… Todos aqui, um brinde às elites burguesas, aos governos neofascistas, ao populismo que ainda vigora, um brinde ao militarismo e às revoluções que um dia se fizeram! Um brinde ao capitalismo: que com suas mãos de ferro faz do passado o que bem quer! Um brinde à origem da sociedade e à sexualidade feminina!

(*) Aluno da Universidade Estadual de Goiás

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