Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Vitória da linha-dura

IRÃ

Mahdi Karrubi, presidente do parlamento iraniano, bloqueou dia 17 de junho uma investigação sobre uma emissora estatal de rádio e TV controlada por aiatolás linha-dura. A medida foi um golpe contra os reformistas do país. Karrubi disse que a investigação "contraria as normas internas do parlamento", e cancelou iniciativas semelhantes em instituições sob supervisão direta do líder religioso supremo, Ali Khamenei. Segundo Ali Akbar Dareini [The Associated Press, 17/6/01], a decisão foi uma derrota para os reformistas, ainda eufóricos com a reeleição do presidente Mohamad Khatami, em 8 de junho.

Parlamentares reformistas protestaram. "Qual a utilidade desse parlamento?", perguntou um deles, Elaheh Koolaeeo. Embora as 290 cadeiras do parlamento sejam dominadas por políticos reformistas, Karrubi, ex-conservador que se converteu em reformista, tem apoio de ambas as facções.

O parlamentar Ali Ashgar Hadizadeh disse que a emissora se recusou a prestar contas sobre faturamento publicitário. "Como pode o parlamento aprovar o orçamento para a emissora, mas não questionar seus gastos?", disse Hassan Ramezanianpour.

A linha-dura, que controla judiciário, forças armadas e polícia, no ano passado fechou cerca de 40 publicações ? na maioria, jornais pró-democracia ? e prendeu jornalistas dissidentes e liberais.

As famílias de jornalistas e dissidentes iranianos presos resolveram fazer seu primeiro protesto público para denunciar as detenções. Segundo Afshin Valinejad [The Associated Press, 20/6/01], mais de 50 parentes de ativistas do grupo de oposição Movimento da Liberdade e alguns jornalistas se reuniram no dia 20 de junho em frente ao prédio das Nações Unidas em Teerã, pedindo liberação e tratamento justo para prisioneiros.

"Viemos aqui protestar contra os métodos ilegais e desumanos de tratamento aos que amamos", disse Narges Mohammadi, mulher de Taqi Rahmani, jornalista dissidente que está na prisão.

EGITO

No dia 19 de junho, Mamdouh Mahran, editor do jornal semanal Al Nabaa, foi preso por horrorizar cristãos coptas ao publicar um artigo sobre um escândalo sexual em um mosteiro. As acusações, segundo Ashraf Khalil [The Chicago Tribune, 20/6/01], foram seguidas de protestos de coptas, os quais disseram ser o artigo e as fotos um insulto a sua fé. As imagens mostram um monge excomungado em relação sexual com uma mulher casada num mosteiro copta. O editor foi levado sob custódia no dia 18, submetido a 12 horas de interrogatório e liberado sob fiança no dia seguinte.

Ainda no dia 19, o patriarca copta, papa Shenouda III, disse que processaria o jornal. "Pecados certamente foram cometidos", disse o papa, "mas não no mosteiro". A comunidade copta tem evitado a mídia. Quando o Al Nabaa noticiou o escândalo sexual, despertou a fúria de cristãos por todo o Egito.

Mamdouth Ramzin, advogado copta que cuida dos aspectos legais da igreja, afirmou que "nada menos que o permanente fechamento do Al Nabaa" seria necessário para satisfazer a fúria dos religiosos. Além do ataque ao artigo controverso, o Conselho Superior da Imprensa do Egito condenou o jornal por "infringir as tradições da sociedade, seus valores e sua unidade nacional". Não se sabe ainda se Al Nabaa sobreviverá ao bombardeio, mas Ramzi disse que se o jornal não for fechado "haverá mais confusão."

    
    
                     

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