Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Washington Novaes: “Jornalismo espetáculo não leva a sério questão ambiental”

O eixo São Paulo-Rio-Brasília está para a imprensa brasileira como Londres-Paris-Nova York para o circuito Elisabeth Arden da diplomacia internacional. Washington Novaes vive há 15 anos fora desse eixo, num sítio em Goiânia. Um dos pouquíssimos colunistas que sabe o que escreve quando se trata de meio ambiente, ele dirige o Instituto Dom Fernando, indiretamente vinculado à Universidade Católica de Goiás.

A entidade promove projetos de desenvolvimento sustentável em bairros de Goiânia, incluindo a criação de uma horta comunitária, de uma escola de circo para crianças de rua, de uma usina de reciclagem e de cursos de formação profissional, sempre de olho na geração de renda e na autogestão.

Se por um lado está fora do circuito bitolado das redações, por outro, morando no Brasil Central, Novaes está no olho do furacão de um tema quente: as hidrovias que integram o Plano Brasil em Ação do presidente FHC. “A cobertura sobre as hidrovias (Araguaia-Tocantins, Paraná-Paraguai, Tocantins) é muito fraca e não consegue visualizar as questões que há por trás”, analisa o jornalista, que hoje tem espaço cativo no Globo Ecologia, no Jornal de Brasília e n?O Estado de S. Paulo.

“Há todo um modelo econômico voltado para os padrões de consumo dos países ricos, que condicionam esses investimentos”. Novaes lembra que o Brasil decidiu produzir e exportar grãos, que a Europa já não planta pelo alto custo ambiental que tais culturas representam.

“O primeiro Estudo de Impacto Ambiental da hidrovia do Araguaia que foi apresentado reconhecia que não há, hoje, um só pólo importante de produção de soja no seu curso.” Isso significa que a hidrovia virá antes dos grãos, não o contrário. Ele questiona o interesse de se abrir uma hidrovia numa bacia que não tem mais de meio metro de água durante a metade seca do ano.

“Um estudo feito por dezenas de pesquisadores na porção pantaneira da Hidrovia Paraná-Paraguai mostra que esta não é a melhor alternativa para a região nem no aspecto social, nem no econômico e nem no ambiental”, afirma Novaes, indicando o ecoturismo como uma solução mais adequada.

Ele atribui as deficiências da cobertura do tema a uma variedade de problemas, sobretudo a formação e as informações insuficientes. “A questão ambiental é muito ameaçadora para todos, a começar pelo repórter, que tem de mudar sua visão de mundo e conhecer uma grande variedade de assuntos”.

“Se a imprensa resolvesse levar a sério a questão ambiental, teria que mudar toda a cobertura, deixando o modelo hollywoodiano de jornalismo espetáculo”. Mesmo assim, ele é otimista. “Os fatos acabam por empurrá-la para uma melhor cobertura e ela avança. A contragosto, mas avança”.

Basta ver a cobertura dada para a reunião de Kyoto sobre mudanças climáticas globais, promovida neste início de dezembro. Vários jornais deram páginas inteiras para o assunto. “Vivemos um momento dramático, inclusive para o cidadão, porque o nível da consciência cresce, mas o imobilismo institucional e social continua grande”, conclui.

Washington Novaes -novaes@internetional.com.br