Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Zeca Castellar

E-NOT?CIAS

ASPAS

INTERNET EM CRISE?

"Super11 diz na Justiça que deve mesmo a ex-funcionários", copyright Cidade Biz (www.cidadebiz.com.br), 14/03/01

"Em gesto que surpreendeu os advogados, o empresário Nagib Georges Mimassi, presidente do Super11, assumiu hoje, em audiência na Justiça do Trabalho de SP, que sua empresa está mesmo inadimplente com os ex-funcionários. Segundo relato colhido por CidadeBiz, Mimassi teria jogado por terra a tese que vinha sendo sustentada por seus defensores – de que os empregados haviam sido demitidos por justa causa por abandono de emprego e criação de tumulto diante da sede da empresa.

Os fatos alegados teriam ocorrido em setembro do ano passado, quando o provedor encerrou suas atividades de acesso gratuito a Internet.

Na seqüência, ainda no 2?semestre de 2000, o Super11 negociou com o iG a transferência de sua base de usuários, pela qual passou a receber uma remuneração mensal. Por causa deste negócio, advogados de ex-funcionários vinham defendendo em juízo que o iG seria devedor solidário dos encargos trabalhistas devidos pelo Super11.

?A confissão de Nagib, que nos causou surpresa, acelerará o andamento dos processos?, analisa Ana Rita Brandi Lopes, advogada de vários ex- empregados, individualmente e em pequenos grupos. ?Agora economizaremos audiências e chegaremos mais rapidamente a uma sentença final?, completa.

Segundo informa a advogada, já são três as sentenças de 1? instância, desde o início de março, caracterizando o iG como empresa solidária nas ações que ex-empregados do Super11 movem por seus direitos. ?Isso significa que os credores podem escolher qual das duas empresas deve pagar, agilizando a cobrança dos direitos?, explica.

Diz Ana Rita que os recursos impetrados pelos advogados do iG não têm ainda data de julgamento."

"Disseminação de banda larga é lenta na Europa", copyright WebWorld (www.webworld.com.br), 14/03/01

"O uso de Internet cresceu de forma expressiva na Europa, mas o acesso via banda larga ainda é exceção no Velho Mundo. Os últimos dados levantados pela Comissão Européia mostram que o acesso em alta velocidade à Web está apenas em sua fase inicial de disseminação no continente: menos de 8% dos lares da Europa acessam a Internet por meio de cabo, enquanto apenas 1,1% possui conexão ADSL.

No entanto, o total de internautas cresce sem parar. A Comissão Européia revelou que a disseminação do uso de Web nos lares do continente saltou de 18% para 28% entre março e outubro de 2000. Atualmente, cerca de 40% dos 375 milhões de cidadãos europeus já são internautas.

Embora a Comissão Européia tenha apontado uma redução nos preços de serviços de acesso, os custos ainda variam muito entre os diversos países da região."

"Na derrocada das dot-com, o bem no fim vence o mal", copyright Cidade biz (www.cidadebiz.com.br), 14/03/01

"A derrocada das ações de empresas dot-com nas bolsas de valores prenuncia, pelo tom dos noticiários, um período de trevas para a tecnologia, e seus aplicativos, que mais revolucionou as comunicações e a gestão dos negócios nos últimos cem anos. Os jornais, sobretudo americanos, usam imagens fortes para descrever o drama de um mercado como o da bolsa eletrônica Nasdaq que em apenas um ano já perdeu 60% de sua valorização máxima – numa queima de riqueza aparente estimada em mais de 5 trilhões de dólares somente nos Estados Unidos. A imprensa fala em ?rios de sangue?, o noticiário das TVs apresenta entrevistas com cidadãos comuns gritando: ?Vendam, vendam enquanto é tempo?. Nada mais histérico, nada mais falso portanto.

A débâcle é a maior desde o crack da Bolsa de Nova York, em 1987. Mas ao contrário do ocorrido treze anos atrás a fúria vendedora é setorial, castigando mais que qualquer outra as áreas de hardware de informática, telecomunicações, softwares e todo o tipo de dot-com. O contraste entre os dois grandes mercados – o eletrônico Nasdaq, dominado por firmas de tecnologia, e o tradicional Wall Street da Bolsa de Nova York, onde lideram as companhias até há pouca classificadas de ?velha economia? – acusa a natureza do preconceito. É o investidor fugindo do sonho que lhe venderam e cedo se transformara em delírio: a promessa de ganhos de 50%, 100% ao ano, num mercado com taxa média histórica de retorno anual de 11,5%.

Muita gente ganhou muito: banqueiros de investimento, investidores institucionais, firmas de private equity e venture capital, fundadores de empresas criadas artificialmente apenas para faturar em cima da enorme liquidez da economia americana. Estes ficaram ricos. A primeira leva de empresas procuradas pelos banqueiros de investimento americano para transformar seus produtos (PCs, roteadores, softwares) em ouro em pó foram as pioneiras de tecnologia – tipo Microsot, Compaq, Oracle. Suas ações ficaram caras, e o capital financeiro foi atrás de sua clientela de ponta. Normalmente empresas de serviços em rede, como as antigas American Online, Monster.com e outras.

O mal acaba

Todos se moviam por uma tese acadêmica, anarquista na origem, de que a rede mundial, sinônimo de Web, iria transformar o mundo, libertaria as pessoas, condenaria ao anacronismo dinossauros da velha economia, como GM, GE, bancos e tudo o que batia ponto na vetusta bolsa de Wall Street. Às novas, reservaram um novo clube, a bolsa virtual Nasdaq – na verdade nem tão nova assim tendo até vivido a primeira crise do petróleo, quando despencou 59,9% entre 1973 e 1974, tanto quanto agora. Como se vê: não há mal que nunca acabe.

Mas não há bem que sempre dure. As firmas da primeira onda da web bem ou mal transitavam também pela velha economia (peço licença para continuar empregando essa terminologia falsa, apenas para simplificação do raciocínio). Tinham (e têm) produtos reais, comprados em loja de tijolo e concreto, vendiam (e vendem) serviços necessários e demandados – aliás, crescentemente demandados, como tecnologias de rede, acesso em banda larga, digitalização e compressão de sinais etc. O mal se introduz nesse circuito quando a ambição se torna desmedida, e muda das garagens de jovens entusiastas do Vale do Silício para as salas dos ?garotos de Wall Street? – aquela alegre meninada recém-egressa de MBA e sedentas por fazer seu primeiro milhão de dólares antes de completarem 25 anos.

Tratava-se agora de ganhar não apenas na gerência de um IPO, quando uma empresa vende parte de suas ações no mercado e passa a cotá-las em bolsas de valores, mas na sua própria gestação. Projetos foram inteiramente criados em bancos de investimento e seus primos private equities e venture capital, e depois entregues a pseudo empreendedores para pôr de pé e preparar o início do IPO. Não qualquer empreendedor: gente jovem com cara de nerd e conversa de escovador de bit, mas sobretudo bom de papo e excepcional vendedor. Clones de Bill Gates, enfim, com a sutil diferença de que o fundador da Microsoft é de fato um empreendedor genial e esperto como raposa.

A missão dessa brava gente já era determinada no ato de contratação: seus projetos deveriam perseguir uma taxa interna de retorno anual de no mínimo 40% (compare: o bilionário e competente empresário Abílio Diniz sua a camisa num setor, supermercados, onde a margem sobre vendas gira em torno de 2%).

Estas empresas vocês conhecem. Foram (assim, com o verbo no passado, pois a maioria delas quebrou ou entrou no limbo da concordata) as dog.com, pet.com, pizza.com e um monte de outras bobagens subitamente alçadas à condição de realeza da economia graças ao ponto-com anexo a seus nomes. Vendiam vento, mas o público queria comprar suas ações. E nessa esteira até o pessoal do time sério da tecnologia, como Intel, Cisco e Microsoft, correu atrás da dinheirama.

Papel de bobo

O problema é que a esta altura, meados de 1998, cada vez mais o cidadão comum despertava para a farra da Nasdaq. A imprensa o alimentava com farto material, alardeava as fortunas construídas da noite para o dia, as TVs davam seu testemunho, construindo sites próprios para onde, em breve, diziam os futurologistas contratadas por elas a peso de ouro, iria toda a sua audiência. A revista Money, bíblia das famílias classe média americanas, chegou a estampar uma capa, em fins de 1998, segundo a qual o investidor temeroso, aquele que olhava desconfiado para a falta de lógica da pirâmide acionária, estava fazendo papel de bobo. A imprensa americana, e seus caudatários no mundo, aqui inclusive, tornara-se perigosamente partidária do mercado altista.

Na próxima terça-feira, dia 20, fará exato um ano da derrocada da Nasdaq. Em clima de último baile da Ilha Fiscal, a CNBC, canal americano de noticiário econômico e de mercados, acumulava até a véspera desse dia D 83 horas de cobertura ininterrupta da Nasdaq, quando o índice da bolsa chegava a inéditos 5000 pontos. Os repórteres e comentaristas do CNBC, arauto das virtudes de Wall Street, empregaram um tom ufanista para descrever o recorde da bolsa eletrônica, comparando-o – segundo lembra, ressentida, uma análise na última edição da revista Red Herring -, como sendo ?um dos mais importantes eventos na história da humanidade?, comparável à ?invenção da imprensa escrita, a descoberta da vacina contra a pólio, o passeio de Neil Armstrong na Lua?. Quebraram a cara.

Naqueles dias, em Nova York, quando o chão já tremia, altos executivos de firmas de investimento continuavam analisando projetos de Internet com a empáfia de sempre. Fosse o que fosse, um site de B2B, e-commerce, de decoração, sexo, qualquer coisa, a pedida era a mesma:

– TIR de 40% ao ano

– Sumário executivo priorizando a abertura de capital, o IPO

– Verba de marketing em destaque e campanha agressiva de publicidade

– Dados sobre page views, unique visitors etc. em profusão.

Mas … E o business plan do projeto? O plano de receitas, o fluxo de caixa? Ora, o fluxo de caixa … Naquela época, bastava que ele desse para chegar até uma primeira emissão privada (normalmente reservada aos clientes VIPs desses bancos) e enfim ao IPO. Aí, era cada um por si. Todos vendiam suas ações, os executivos embolsavam suas opções. E depois é depois. Ocorre que, um dia, o depois tornou-se agora. E deu no que se viu.

Os cinco grandes no cassino das dot-com foram literalmente atropeladas. Nesses doze meses de baixa, as ações da outrora grife maior do mercado, a Yahoo, perderam 92%; Intel, menos 60%; Oracle, menos 75%; Cisco, que alguns julgavam imune à crise, perdeu 76%. Quem menos devolveu seus ganhos foi Microsoft, com perda em doze meses de 53%. As 57 piores performances do índice Standard & Poor 500, no ano passado, são todas de empresas do setor de tecnologia.

O meltdown quase encontrou seu bode expiatório, quando o exame dos mapas de compra e venda de ações enviadas pelas corretoras Ao Securit Exchange Commission revelaram quem abrira as portas do inferno no fatídico dia 20 de março de 2000: a Fidelity, maior gestora de fundos do planeta e sozinha responsável por 15% do total do volume dos negócios nas bolsas americanas. Seus operadores detonaram vendas massiças de até 1 bilhão de dólares, cada, de papéis líderes como Nokia, Nortel e outras.

Só que o candidado a bode não se evadiu do mercado. Trocou apenas de bolsa. Ao tempo em que liquidava posições na Nasdaq, investia outros 1 bilhão de dólares, cada, em papéis da Bolsa de Nova York, como GE e Coca, e 500 milhões, cada, em Bristol Myers Squibb, ExxonMobil e Gillete. Tudo empresa de capa e espada, mas firmes como rocha e competentes em gerar caixa operacional.

Óbvio que alguém sairia na frente. Foi a Fidelity, e como o estouro de manada, todo o resto veio atrás. Rapidinho. E o investidor comum, aquele que faz provisões para pagar sua aposentadoria? Este, como sempre, virou bucha de canhão. Está lá até hoje, esperando o milagre da reversão. Que virá. Mas nunca a ponto de resgatar todas as perdas acumuladas nestes doze meses.

A conta é simples. Pegue-se a dot-com mais brilhante, Yahoo. Em 20 de março de 2000, sua ação valia 206 dólares, e a empresa toda, mais de 200 bilhões. Hoje, a Yahoo está com uma valorização de mercado de 11,7 bilhões – quase nada, comparada com seu pico de mercado. Mas muito, muito mais que seus números contábeis poderiam projetar. Com vendas de 1,11 bilhão de dólares e lucro de 70,8 milhões, sua ação é negociada por ainda incríveis 58 vezes o resultado estimado para 2001. Para uma companhia cujo principal produto não deixa de ser uma ferramenta de busca de bancos de dados, faturar 1 bilhão, sendo o grosso em cima de publicidade, é um feito notável. Espantoso é que alguém acreditasse que o delirante cenário anterior fosse correto – e, pior, nunca tivesse fim.

Fim do mundo

Pode estar correndo rios de sangue nas telas de computadores nestes dias, mas o fato é que nada disso é o fim do mundo. É certo que a desaceleração programada da economia americana tem também segurado o desempenho das firmas tradicionais. Mas também é certo que, dos onze setores acompanhados pelo S&P, sete estão se movendo para cima, puxados pelas ações de empresas de energia, transportes saúde. Mais: 61% das ações do S&P ganharam valor no ano passado.

A quanto à Nasdaq? Pelo jeito, ainda tem gordura para queimar, se se cotejar a valorização esperada com o desempenho real das empresas lá negociadas. O que ficou para trás, o recorde de 5000 pontos, talvez jamais seja recuperado, pelo menos não em dois a três anos. Mas a idade das trevas da alta tecnologia é balela de uma imprensa envergonhada, principalmente a especializada, que trocou isenção por torcida justo quando mais o investidor dela precisava.

Os números da Yahoo são saudáveis. Seu desempenho é suficiente para cobrir as operações e remunerar o capital. Milhares de outras empresas exibem o mesmo desempenho. Se se dissocia suas contas do movimento bolsístico de suas ações, o que se percebe é que Internet é um negocião. E que veio para ficar, e, sim, mudar o jeito de fazer negócios. E, a seu modo, mudar para melhor o mundo. Ainda há start ups recebendo financiamentos de investidores que querem olhar o fluxo de caixa, conferir a competência dos gestores, testar as hipóteses de mercado dos produtos oferecidos. É assim que sempre deveria ter sido. Quem fez a lição de casa ou corrigiu-se e a fez a tempo vai sobreviver. Sem IPO, provavelmente. Mas para que servem as empresas, afinal?"

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