Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Zuenir Ventura

PRÊMIO ESSO 2001

"O país que deu no jornal", copyright O Globo, 23/12/01

"Ajulgar pelos prêmios Embratel e Esso, de cujos júris participei para escolher os melhores trabalhos jornalísticos deste ano, pode-se concluir sem autocomplacência que a nossa imprensa até que vai bem. Sob vários aspectos, vai melhor do que o país que ela procurou expressar ou refletir. De fato, nada de grave ou importante ocorrido em 2001 deixou de ser registrado por jornais, revistas, rádios e TVs brasileiros – registrado, apurado, investigado e publicado. Acho que apareceram aí todas as nossas mazelas.

O Brasil que sai dessas matérias é o país que mandou para casa dois senadores envolvidos em fraude; que escancarou os podres de nossa maior entidade filantrópica; que revelou como o Exército, em plena era FH, usa métodos de inteligência próprios da ditadura; que denunciou a existência de US$ 200 milhões em contas ilegais de Maluf num paraíso fiscal; que destampou a caixa preta de Eurico Miranda e do futebol; que escandalizou Minas ao contabilizar os salários milionários de seus deputados estaduais; que mostrou como os bandidos mantêm numa penitenciária de São Paulo um variado shopping center ou como apregoam e vendem livremente cocaína e maconha em feiras livres no Rio. O Brasil dessas reportagens é em suma o país do contrabando, da corrupção, das drogas e da maracutaia. Mas também o país em que a imprensa se empenha em denunciar tudo isso.

Ao Prêmio Esso, o mais tradicional do país, que lançou esta semana a sua 46 edição, concorreram cerca de mil trabalhos e ao III Prêmio Embratel, realizado em setembro, uns 600. Na Comissão de Premiação do Esso (Carlos Heitor Cony, Cícero Sandroni, William Waack, Claudio Thomas e eu), tivemos que analisar apenas os finalistas, uns 40 que outra comissão havia selecionado. Premiar um trabalho em cada uma das doze categorias – reportagem, fotografia, projeto gráfico, primeira página etc. (para telejornalismo, houve um júri especial) – foi tão difícil que em alguns casos a escolha poderia ter sido feita por sorteio. Qualquer um merecia ganhar.

A leitura dessas reportagens longe do calor da hora dá a sensação, tão comum entre os leitores, de que ?não adianta?: a imprensa fala e tudo continua na mesma. Mas muitas vezes é o contrário: parece que o país tem jeito e bem ou mal está melhorando. Quem poderia imaginar que ACM tivesse que renunciar ao Senado? E tudo começou com uma reportagem na revista ?IstoÉ? de Andrei Meireles, Mino Pedrosa, Mário Simas, Isabela Abdala, Sônia Filgueiras e Ricardo Miranda, justamente a que ganhou agora o Prêmio Esso de Jornalismo, como já havia ganho o de Reportagem da Embratel.

Se não fosse a série investigativa de Chico Otávio e Rubens Valente, a Legião da Boa Vontade ainda estaria arrecadando mais de R$ 200 milhões por ano de seus dois milhões de doadores, que financiavam a vida de opulência e mordomias do diretor-presidente da entidade. Se não fosse o empenho dos repórteres do ?Estado de Minas? – Marcelo Rocha, Maria Heloísa, Alessandra Mollo e mais sete colegas – que conquistaram o Prêmio Esso da região Centro-Oeste, os deputados mineiros ainda estariam ganhando R$ 60 mil por mês cada um.

Você, caro leitor, talvez tenha suas justas queixas da imprensa e ache, como Balzac, que ?se ela não existisse, não deveria ser inventada?. Tudo bem, mas já que foi, vamos aproveitar. É provável que sem ela as coisas estivessem piores. Há uma série de acontecimentos importantes dos quais você não teria tomado conhecimento se não fossem os repórteres. Por exemplo, você sabia:

Que US$ 5 bilhões deixam de ser tributados anualmente porque 75% dos contêineres que chegam aos portos e aeroportos brasileiros não passam por qualquer fiscalização alfandegária? Que madeireiros e traficantes peruanos estão invadindo a fronteira oeste do Brasil? Que o Alto Solimões está ameaçado de caos social por causa dos narcotraficantes? Que na Amazônia jovens soldados brasileiros morrem de medo de enfrentar na fronteira os guerrilheiros colombianos? Que as ferrovias nordestinas foram abandonadas após a privatização? Que o contrabando de fósseis nos estados do Nordeste representa um negócio anual de R$ 7 milhões? Que o repórter paranaense Mauro König foi espancado quase até a morte, quando apurava como são maltratados meninos recrutados irregularmente no Brasil para o serviço militar no Paraguai? Que nas casas de detenção de norte a sul do país o Estado está criando verdadeiras escolas do crime para menores?

Não li todos os trabalhos inscritos e assim não sei se a gente teria mil razões para acreditar na imprensa. Mas umas 40 a gente tem, isso tem. Há outra instituição que fez a sua parte: o Ministério Público. Muitas vezes, jornalistas e procuradores trabalharam juntos. Isso foi bom, mas pode ser ruim. Bom, porque essa aliança é natural: há uma convergência de interesses públicos que une as duas forças. Ruim, ou pelo menos perigoso, se o jornalismo achar que deve ser não só pautado pelos procuradores, como monitorado por eles. Seria muito nocivo para a democracia se as duas instituições confundissem seus papéis. Há males que saem do bem."

"E o prêmio vai para…", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 28/12/01

"A festa do Prêmio Esso – a qual compareci pela primeira vez, e provavelmente última depois desta coluna – foi 10: boa comida, música legal, pessoal na beca… Gostei tanto que resolvi também distribuir prêmios aqui neste desvalioso espaço, tendo como base o tradicional Esso.

Então, os prêmios vão para…

Grande Prêmio Saia Justa – Barbada para Ricardo Boechat, indicado quando ainda estava no Globo e que quase não compareceu ao Sofitel Rio Palace. Atendeu à turma do deixa-disso e foi, mas que agradeceu somente a seus companheiros de premiação, Chico Otávio e Bernardo de La Peña. Para completar a glória, recebeu uma ovação com som de desagravo quando se dirigia ao palco.

Troféu Macaulay Culkin – Também para Boechat, que teve o nome esquecido pela apresentadora na hora do anúncio dos finalistas da categoria Informação Econômica. Como disse um sábio da platéia, ?foi sem querer, mas ninguém vai acreditar…?.

Grande Prêmio Nélson Rodrigues – Vai para Tim Lopes, um grande repórter que virou um grande produtor. Ao conceder a ele o Prêmio Especial de Telejornalismo, o júri reconheceu o óbvio ululante: assim como o repórter é a alma de um jornal ou revista, o produtor é a alma do telejornalismo. A cara bonita tem seu valor, mas não é a essência (que bom, né, Zé Reis?). A vitória de Tim é ainda mais importante nessa hora em que a Band diz querer transformar produtor em repórter – mas como se o produtor já é repórter?

Grande Prêmio Ben-Hur – Obviamente para o grande Chico Otávio, maior vencedor da noite, com três Essos. Tenho 99,9% de certeza de que é recorde histórico.

Grande Prêmio Vasco da Gama (ou São Caetano, tô escrevendo antes do jogo) – Para O Dia. Tudo bem, faz parte perder o Criação Gráfica para o Cláudio Duarte e a Marília Martins, que realizaram um belo trabalho (embora o branco já tivesse sido usado daquela maneira outras vezes pelo próprio Globo), mas o ?Apaga, Brasil!? era mesmo bem melhor que o trabalho do Diário da Borborema. E olha que fiquei feliz pela vitória de um nordestino num Prêmio Esso Nacional.

Prêmio Puf, o Ursinho – Para o Alberto César Araújo, da Crítica, do Amazonas, vencedor do Esso de Fotografia. Ganhou chuva de aplausos pelo seu esforço para não se debulhar em lágrimas ao receber o prêmio. Menção honrosa pra Chico Otávio e seu agradecimento à mulher, Raquel.

Troféu Sergei Eisenstein – Empate. Vai também para Alberto César Araújo, que contou sobre a falta de organização da categoria no Amazonas, e para o conterrâneo Jamildo Melo, do Jornal do Commercio, que lembrou os ferroviários jogados fora durante o processo de privatização das ferrovias brasileiras.

Comenda da Face Rubra – Para Andréa Michel, da Folha de São Paulo, que, além de se recusar a falar, ainda saiu correndo do palco como se fosse a hora de largar e mil chefes de reportagem a perseguissem para mais uma apuraçãozinha.

Troféu Beicinho – Para a direção do Estado de Minas, que impediu a equipe vencedora de ir buscar o prêmio da Regional Centro-Oeste por que achava que merecia o de Jornalismo.

Prêmio Bruce Willis – Para o bravo colega Mauri König, do Estado do Paraná, que apanhou mais que boi ladrão da polícia paraguaia ao fazer a matéria que ganhou o Regional Sul (ficou com cerca de cem hematomas pelo corpo), mas apareceu na cerimônia inteiraço, graças a Deus.

Grande Prêmio Glorinha Khalil – Para Wander Luiz Silva, da Época, chiquerésimo em seu blazer preto sobre camisa fúcsia, complementados pelos óculos pretos retangulares e o brincão na orelha direita.

Grande Prêmio Judy Garland – Para Flávia Oliveira. Arrasou no vestido e ao chamar ao palco parte da equipe que produziu o Retratos do Rio.

Troféu Rincão Gaúcho – Para o pianista que ficou tocando durante o jantar sem que ninguém lhe prestasse atenção. Uma pena, pois o cara é bom. Fiquei pensando o que ele faria com um piano de verdade, já que aquela pianola eletrônica tem um som sofrível.

Prêmio Fã de Carteirinha – Para o operador do projetor, que por duas vezes creditou as matérias finalistas de outros jornais ao Globo (um veículo era da Região Norte!).

Prêmio Milton Santos – Para quem botou Minas no Centro-Oeste.

Prêmio Copag – Para os pobres dos diretores da Esso, que subiam ao palco para entregar os canudos com os diplomas e tirar fotos, e depois ficavam lá em cima sem saber o que fazer.

Comenda do Polichinelo – Para os organizadores. Um monte de gente sabia quem tinha vencido o quê antes de os envelopes serem abertos. Perde a graça, né?

Grande Prêmio Crise de Identidade – Para mim mesmo por ter ouvido trocentas reclamações por estar escrevendo uma coluna sem graça, ?muito séria, parece de negócios?. Agora, ficou legal, meu povo?

Picadinho

Superpoderosa – Marlene Matos realmente não quer saber: vai à luta em qualquer campo. Depois de adentrar ao gramados esportes, acertando contratos com atletas (Roger, do Fluzão; Dida, o goleiro; Athirson, e Daniele Hipólito, entre outros), Dona Marlene se juntou à sua favorita Xuxa, à Ana Maria Braga e a Luciano Huck e está disputando um concessão de TV em Piracicaba (SP). Na concorrência, a AXLM Televisão Ltda, enfrenta 21 outras empresas, entre elas a Sistema TV Paulista Ltda., de Gugu Liberato, e a TV Studios Jaraguá S/C Ltda., que tem como sócios Cintia Abravanel, filha de Sílvio Santos, e José Roberto Maluf, vice-presidente do SBT.

No ar – A Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU) está estruturando uma rede de intercâmbio e distribuição de programas produzidos pelas entidades de ensino superior a ela filiadas. O objetivo é difundir as produções em nível nacional e facilitar a programação dos canais universitários de TV e das emissoras educativas, culturais e comunitárias sem fins lucrativos do país. A Rede de Intercâmbio de Televisão Universitária (Ritu) é uma iniciativa pioneira no segmento de TV universitária e entrará em operação ano que vem. A idéia é estimular as trocas de programas e fazer com que as grades de programação apresentem um painel nacional da produção audiovisual universitária. Mais informações no site da ABTU.

Jogo duro – A Rede Record foi condenada pelo juiz Marco Antônio Fleury Alvarenga, da 23? Vara Cível do Fórum João Mendes, em São Paulo, a pagar indenização de R$ 1 milhão ao ex-juiz da Vara da Infância e Juventude de Jundiaí, Luiz Beethoven Giffoni Ferreira, acusado, em outubro de 99, no programa ?Leão Livre?, de participar de um esquema de adoção e tráfico de crianças para o exterior. A emissora, que pela sentença deverá publicar um pedido de desculpas ao juiz Beethoven em todos os grandes jornais do país, já recorreu."