Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>A batalha da imprensa
>>O futuro passa rápido

A batalha da imprensa

A disputa eleitoral se transformou em guerra aberta, e o campo de batalha é a imprensa.

Nos jornais de hoje, com destaque para o Estado de S.Paulo, manifestações de ambos os lados tentam atrair a atenção dos eleitores.

Mas é preciso lembrar que quem vai levar a notícia desses acontecimentos ao público é a imprensa, e a imprensa já escolheu um dos lados.

Essa escolha fica ainda mais explícita na edição do Estadão desta quarta-feira, na qual a manifestação oposicionista ocupa quase uma página inteira, com apenas uma referência – e negativa – ao ato de protesto contra a imprensa, convocado por entidades que apóiam o governo para esta quinta-feira em São Paulo.
 
Há de tudo nos comentários escolhidos pelo jornal para dar alguma relevância ao manifesto oposicionista, desde alertas contra supostas tendências autoritárias do governo até acaloradas denúncias de cerceamento da liberdade de imprensa.

O texto do manifesto, assinado por intelectuais, artistas e juristas, repete declarações que vêm sendo publicadas pelos grandes jornais há algumas semanas, como a afirmação de que a democracia brasileira está sendo “assombrada” pelo autoritarismo.

E reclama ainda que o atual governo tenta “reescrever a História” ao desmerecer as ações de governos anteriores.
 
Em clima de absoluta liberdade, os jornais reclamam de ameaças à liberdade, como se declarações em tom de campanha eleitoral devessem ser levadas ao pé da letra.

Em entrevista ao mesmo Estadão, no domingo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que anda marginalizado na campanha de seu partido, declarou não acreditar que seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, tenha pendores ditatoriais.

Mas o ato de lançamento do movimento oposicionista, marcado para as históricas arcadas do Largo de São Francisco, também em São Paulo, leva o solene título de “Manifesto em Defesa da Democracia”, com o anunciado objetivo de “brecar a marcha para o autoritarismo”.
 
Em clima de absoluta liberdade, os manifestantes vão fazer seus discursos, que a televisão e o rádio vão amplificar e os jornais irão sacramentar no dia seguinte.

O factóide vai para a lista dos eventos destes tempos de campanha, quando a verdade some da praça e é substituída pela opinião mais conveniente.

No final da semana, nova pesquisa de intenção de voto vai mostrar se a coisa funcionou.
 
O futuro passa rápido

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

– No campo da internet, o debate sobre o futuro é uma discussão de ontem. As novas funcionalidades e os aplicativos disponíveis crescem em volume e qualidade, a um ritmo exponencial, configurando um desafio imenso para quem se dispuser a acompanhar esse desenvolvimento em tempo real. E nós, os utilizadores dessa tecnologia, vimos nos rendendo à velocidade deste avanço ao fazer da rede uma ferramenta do dia a dia. Nela nos informamos, pesquisamos, nos comunicamos, lemos… Lemos, mesmo? Isto é, nos concentramos o suficiente para repetir, no monitor de um computador, a mesma experiência de imersão e concentração suscitada pela leitura de um livro?

O professor americano Nicholas Carr, do MIT, acha que não. E deixa isso claro em seu último livro, a ser lançado em breve no Brasil. Em entrevista concedida a Marcelo Leite, da Folha da S.Paulo, publicada na edição de anteontem do jornal, Carr manifesta tanta preocupação com o que chama de “tecnologias de tela” que chega a recomendar alguma restrição do uso da internet nas escolas. Para ele, “as pessoas começam a usar a tela como sua ferramenta principal de leitura, não a página impressa”.


Carr considera “um erro” confundir qualidade do ensino com o tempo que os alunos passam ao computador. Diz ele, abre aspas: “É preciso dar tempo e ênfase, no ensino, para desenvolver a capacidade de prestar atenção em uma única coisa, em vez de mover sua atenção entre diversas coisas. Isso é essencial para certos tipos de pensamento crítico e conceitual”, fecha aspas.

O professor manifesta seu temor pela possibilidade de as crianças de hoje, ao conviverem em idades cada vez mais precoces com o mundo digital, serem impedidas de desenvolver habilidades mentais mais contemplativas e que requeiram uma atenção maior. Aquelas necessárias à leitura de um livro, por exemplo.

De todo modo, este é um processo ainda em curso, no qual todos estamos inseridos e que requer nossa atenção crítica para avançar. Não se trata de voltar atrás. Mesmo porque, se você, leitor e ouvinte, tem mais de nove anos de idade, então você é também uma pessoa do século passado.