Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>A busca da verdade e as manobras
>>Depoimentos sobre Herzog

A busca da verdade e as manobras


Um efeito negativo a evitar na acareação entre o secretário do presidente Lula, Gilberto Carvalho, e os irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, marcada para daqui a pouco na CPI dos Bingos, é que se confunda luta político-partidária com empenho em se aproximar da verdade. Todos os direitos devem ser respeitados. E não se pode receber acriticamente o que diz o juiz preso João Carlos da Rocha Mattos. Ele está preso, condenado por vender sentenças. Não é exatamente um depoente de reputação ilibada.


Mas o país perderá se a investigação sobre a morte de Celso Daniel não chegar a um patamar mínimo de conclusões sólidas. A mídia não pode se enganar nessa questão.


A contaminação do conflito


A imprensa precisa tomar cuidado para não servir à retórica da escalada entre o PT, o PSDB e o PFL. O ambiente político parlamentar começa a ficar contaminado por manifestações extremistas. Vestir com uma farda nazista a fotografia do senador Jorge Bornhausen é brincar com fogo. É caso de polícia, e urgente.


Depoimentos sobre Herzog


O editor do Observatório da Imprensa online, Luiz Egypto, destaca o esforço para recuperar a memória dos acontecimentos que levaram à morte de Vladimir Herzog.


Egypto:


– O destaque do Observatório na web é um especial sobre os 30 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado sob tortura no DOI-Codi de São Paulo, em 25 de outubro de 1975.


Em parceria com o Instituto Museu da Pessoa, organização que administra um museu virtual de histórias de vida, o Observatório montou o projeto “Herzog Hoje” para registrar e divulgar histórias dos personagens daqueles dias de chumbo. Os primeiros resultados estão disponíveis em nosso site. São depoimentos de jornalistas que relatam em que circunstâncias viveram aqueles momentos de medo e de morte.


Mas o mais relevante dos testemunhos não são a dor e o sofrimento que revelam: o mais importante são os desdobramentos que a morte de Herzog suscitou. O papel do Sindicato dos Jornalistas na negação da hipótese oficial de suicídio e o ato ecumênico pelo sétimo dia da morte de Vlado foram marcos importantes na luta pela redemocratização do país. Herzog é exemplo vivo de como o passado aponta o futuro.


Vlado na televisão


O programa de ontem à noite do Observatório da Imprensa na televisão foi um debate de alta qualidade sobre a morte de Herzog. Não é possível aqui reproduzir todas as coisas importantes ditas pelos participantes: Alberto Dines, João Batista de Andrade, Luiz Garcia e Paulo Markun, além do depoimento de Zuenir Ventura.


O cineasta João Batista de Andrade disse que na época, e recentemente, ao filmar o documentário Vlado, 30 anos depois, que está nos cinemas, constatou que o homem da rua muitas vezes não tem idéia do significado das notícias que ocupam a mídia. E alertou para o risco de que a imprensa não consiga transmitir à população o essencial.


O programa será reprisado no próximo sábado, às oito da noite, na TV-E do Rio de Janeiro e em outras emissoras.


A TV Cultura exibiu ontem à noite uma programação de alta qualidade jornalística e uma homenagem comovente a Herzog, seu antigo diretor.


Concessões questionadas


O Projor, entidade mantenedora dos Observatórios da Imprensa, entregou ontem ao vice-procurador geral da República Roberto Monteiro Gurgel Santos uma representação em que oferece o resultado de uma pesquisa dirigida pelo jornalista Venício de Lima sobre propriedade indevida de canais de rádio e televisão por parlamentares federais.


O vice-procurador Gurgel disse que o assunto provavelmente será encaminhado à Procuradoria da República no Distrito Federal, por envolver o Congresso Nacional, mas que, dada a relevância do tema e sua complexidade, os órgãos superiores da Procuradoria se envolverão no desenho de uma estratégia de ação.


A advogada Taís Gasparian, que ajuda o Projor a encaminhar o assunto na esfera jurídica, esteve na audiência.


Epidemia de pânico


O Estado de S. Paulo desta quarta-feira, 26 de outubro, reforça em editorial advertência da Veja desta semana contra uma epidemia de pânico sem ligação com as ameaças concretas da gripe aviária. Seria esperar demais da imprensa, e não apenas da brasileira, que se mantivesse firmemente numa linha de equilíbrio. Mas quem tem mais responsabilidade precisa dar o tom da seriedade. Pânico só vai atrapalhar as medidas preventivas e, muito pior, a eventual adoção de um plano para enfrentar uma pandemia que chegue ao país.