Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

>>A declaração da senhora Mantega
>>Discussão ampliada

Os maus exemplos


O Estadão denuncia hoje em reportagem que 18% dos deputados da Comissão de Constituição e Justiça, entre eles, por exemplo, Paulo Maluf, estão sob investigação ou são acusados judicialmente. E o Supremo Tribunal Federal caminha para facilitar a vida de integrantes do Poder Executivo acusados de improbidade.


A declaração da senhora Mantega


Alberto Dines critica declarações da mulher do ministro Guido Mantega, vítima de assaltantes.


Dines:


– “Eles só queriam dinheiro…foram supergentis…são ladrões de galinha… não adianta ficar falando nisso. É preciso que o Brasil melhore a polícia, a economia, para diminuir a pobreza e a violência…” Foi isso, exatamente isso, que Eliane Mantega, mulher do ministro da Fazenda, declarou ao jornal Diário de S. Paulo e o O Globo reproduziu ontem, domingo, com destaque. Mais grave do que o crime em si – assalto a mão armada e seqüestro de três casais com seus filhos, inclusive os Mantega, é esta incrível analise feita por uma psicanalista, teoricamente bem informada, tão próxima do primeiro escalão. Será um atenuante querer só dinheiro quando se comete um crime? O narcotráfico também não quer só dinheiro? Os bandidos que mataram o menino João Hélio não queriam só dinheiro quando roubaram o carro de sua mãe e o liquidaram barbaramente? Se o dono da chácara assaltada se recusasse a buscar dinheiro em São Paulo os bandidos continuariam “supergentis”? A doutora Eliane Mantega não viu as armas, não ouviu ameaças? Ladrão de galinha rouba galinha, minha senhora, não seqüestra gente. A senhora Mantega acha que todas estas histórias sobre violência são factóides, invenção da mídia para vender jornal. “Não gostamos desse escândalo na imprensa, é muito ruim para os nossos filhos e na verdade não aconteceu nada, ficamos todos bem…” Por acaso estão bem os milhões de crianças que vivem aterrorizados pela violência em todo o país? Quem não pode ficar bem é o cidadão comum ao perceber a distância entre governantes e governados, entre a elite e o povão. Num caso como este seria bom convocar Borat, o repórter do Casaquistão. Ele sabe muito bem como lidar com os politicamente corretos e moralmente insensíveis.



Polícia e Justiça, parte do problema


Na discussão sobre criminalidade não se pode perder de vista a situação atual das polícias e da Justiça no Brasil e o conceito que delas faz a população.


Discussão ampliada


Hoje, no jornal Valor, o procurador paulista Marco Vinicio Petrelluzzi, que foi secretário de Segurança Pública no segundo governo de Mario Covas, defende a mudança da execução penal no Brasil – considera inaceitável, por exemplo, a progressão da pena com um sexto do cumprimento da sentença –, mas se manifesta contra novas leis que poderiam promover um ilusório “endurecimento”. Petrelluzzi propõe a unificação das polícias Civil e Militar e defende a federalização da segurança pública. Também no Valor, o professor Fábio Wanderley Reis mostra que é impossível dissociar o debate da criminalidade e da violência das questões sociais. Wanderley Reis critica o rumo tomado pelo assunto nas últimas semanas: “Quem dera que as discussões sobre o que fazer a respeito da violência pudessem restringir-se aos dispositivos legais ou à eficiência policial”.


Força Nacional


Noticia-se na Folha que a Força Nacional de Segurança é acusada de ter torturado presos no Espírito Santo. Não há polícia praticante de violência ilegal que não seja corrupta.


[Leia o que disse a respeito, em debate promovido pelo Observatório da Imprensa, o coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro Jorge da Silva (entretítulo Polícia violenta é Polícia corrupta).]


Contagem macabra


A Folha fez a conta, em reportagem sem grande destaque: nos primeiros 45 dias deste ano, 27 pessoas foram mortas em chacinas na Grande São Paulo.



A Opep de Bush


O jornalista Bruno Blecher, que escreve no Observatório da Imprensa o blogue Agropauta, faz uma advertência em relação ao excesso de otimismo com a vinda ao Brasil do presidente dos Estados Unidos,George W. Bush.


Bruno:


– Está na manchete de ontem do Estadão que o Bush pretende formar no Brasil uma espécie de Opep do etanol. Tudo bem, eu acho que o Brasil tem excelência nessa área, o Brasil tem crescido muito nessa área, dá exemplo para o mundo, mas eu acho que é um pouco de exagero também. Eu acho que a gente precisa ver com um certo ceticismo o que os Estados Unidos pretendem com isso. Primeiro, porque eles têm um lobby muito forte lá do pessoal do milho, que vai impedir que o Brasil exporte etanol sem taxa. Hoje se paga uma taxa parece que de 0,16 centavos de dólar por litro exportado. O que é possível, e eu acho que isso vai acontecer, é que o Brasil consiga exportar uma boa quantidade de etanol via Caribe, onde eles recebem uma espécie de isenção.


[Devido a problemas técnicos, este texto só entrou na rede às 18 horas.]