Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>A nova potência do petróleo
>>Ainda CPMF

A nova potência do petróleo

Os jornais balançaram entre o ufanismo e a desconfiança, ao noticiar hoje a descoberta, pela Petrobrás, de um novo campo de petróleo da Bacia de Santos.


A Folha de S.Paulo, que estabeleceu a medida “mega” para tudo que é muito grande, chama a nova jazida de “megacampo”.


No fim, os leitores ficam mesmo com a versão da Petrobras, divulgada pela ministra Dilma Roussef: trata-se de uma descoberta que pode colocar o Brasil no clube dos exportadores de petróleo. O Brasil salta da 24a. para a 9a. posição entre os maiores detentores de petróleo do mundo.

O Estado de S.Paulo parece o mais contido entre os três grandes diários, e talvez por isso mesmo a leitura de seu relato passa uma convicção ainda maior sobre a importância da descoberta.


O Globo é o menos afirmativo. Dá todos os números superlativos da descoberta, mas não assume como informação concreta, anotando que tudo se trata de “declarações” do governo.


Além disso, o jornal carioca afirma, na primeira página, que outras descobertas anunciadas anteriormente pela Petrobrás não se confirmaram ou se revelaram menores do que o esperado.


Entre o “megacampo” da Folha e as desconfianças do Globo, brilha a frase de um governador, citada pelo jornal paulista: “O presidente Lula não nasceu virado para a lua – ele nasceu na lua”.

“Furo” da Gazeta


A rigor, a notícia de hoje dos jornais só é nova nos detalhes. Há pouco mais de dois anos, em setembro de 2005, a repórter da Gazeta Mercantil Sabrina Lorenzi produziu uma reportagem sobre o potencial da jazida de Santos que trazia basicamente todas as informações sobre a importância da descoberta anunciada ontem.


A reportagem foi antecedida de outras revelações feitas pela repórter ainda em maio de 2005, sobre o potencial de gás e petróleo da região, e publicadas também no Jornal do Brasil.

Os jornais destacam o fato de o presidente Lula ter escolhido a ministra Dilma Roussef, chefe da Casa Civil, para fazer o anúncio da descoberta.


Como Dilma não é ministra de Minas e Energia nem presidente da Petrobrás, e como ela tem sido citada como possível candidata à sucessão do presidente Lula em 2010, a imprensa observa que a intenção foi dar um cunho político à notícia.


E capitalizar para o futuro o patrimônio de ufanismo que ela carrega.

A imprensa de chuteiras


Faltaram apenas três assinaturas, e a CPI que iria investigar crimes financeiros no mundo do futebol acabou sendo arquivada.


Um diretor da Confederação Brasileira de Futebol, com um crachá cedido pela Mesa Diretora da Câmara, teve acesso direto aos parlamentares e no final ainda usou o microfone para anunciar o sucesso do seu lobby.


Muitos se renderam ao argumento de que uma CPI poderia colocar em risco a realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014.


O congresso foi desmoralizado, mas sobra também para a imprensa.

Dines:


– Ontem à tarde o Congresso foi novamente desmoralizado, desta vez pelo lobby da CBF: a CPI mista para investigar as ligações do Coríntians com a MSI não conseguiu o número regimental de assinaturas para ser instalada. Mais de 105 deputados retiraram seus nomes. Pergunta-se: isso aconteceu de repente, num passe de mágica? Não houve indícios da conspiração nos dias anteriores? Os repórteres que cobrem o Congresso não perceberam a intensa movimentação em todos os partidos e nas mais importantes bancadas estaduais para armar a vergonhosa virada e enterrar a CPI? Neste caso, para que serve uma imprensa incapaz de antecipar tendências e que só consegue noticiar o que já é irremediável? A verdade é que apenas duas semanas depois da solene escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014 rasgaram-se as fantasias. O trailer de ontem  dá uma idéia do que vai acontecer no país do futebol nos próximos sete anos. Ricardo Teixeira foi coroado ontem como vice-rei do Brasil. Com a conivência da mídia e, sobretudo, a eletrônica. E quando a mídia se junta aos políticos é melhor seguir a receita de Marta Suplicy: relaxar e gozar.

Ainda a CPMF


Quem imaginava que a novela da CPMF estava chegando ao final, pode sentar-se diante da televisão e esperar.


Depois de haver perdido o contato com a cúpula do PSDB, que negociava em nome de governadores e prefeitos tucanos, o Executivo fez as contas e resolveu jogar na retranca, com o se diz no jargão do futebol.

Basicamente, o governo volta-se para os 51 senadores da sua base parlamentar e exige fidelidade.


Afinal, é hora de cobrar pelas muitas verbas concedidas, pelo loteamento da máquina pública e por outros favores.

Em outra frente, o Executivo ainda conta com o interesse dos governadores em pressionar suas bancadas para que contribuam com votos para a prorrogação da CPMF.


Alguns deles consideram a receita produzida pelo tributo fundamental para seus projetos de governo.

É o caso da gaúcha Yeda Crusius, cuja adminstração patina em dificuldades financeiras.


Mas também é o caso do paulista José Serra e do mineiro Aécio Neves.


Serra está concluindo seu Plano Pluruanual, que deve ser enviado à Assembléia Legislativa até o fim deste mês.


Sem a CPMF, seus planos de investir pesado nas regiões metropolitanas podem ficar comprometidos.


Aécio Neves está ocupado com uma reforma adminstrativa e acaba de efetivar 98 mil servidores contratados sem concurso público.


Na queda de braço com a oposição, o governo federal tem um trunfo pesado: se a CPMF não for prorrogada até 2011, o prejuízo será dividido com os Estados e municípios.

Os estrategistas políticos do Executivo chegaram à conclusão de que erraram ao negociar primeiro com a oposição.


O governo contava que já tinha sua bancada nas mãos e se dedicou a convencer os oposicionistas mais ligados aos governadores.


Tarde demais, acabou descobrindo que o apetite da larga e diversificada base parlamentar cultivada à custa de agrados e emendas no Orçamento nunca se satisfaz.

Agora o Executivo tem dois problemas: precisa driblar a Comissão de Constituição e Justiça, que ameaça barrar o projeto antes de entrar em votação, e ainda tem que garantir uma margem segura de votos para levá-lo ao plenário.


O governo agora fala grosso. Fala em fechar questão.


Mas, viciado em barganhas, é obrigado a carregar no bolso do colete uma nova reserva de mimos.


A frase do falecido deputado Roberto Cardoso Alves saiu do folclore político e foi para os anais do Congresso. A regra em Brasilia segue a mesma: é dando que se recebe.