Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>A queda do muro de Nova York
>>O ministro falante

A queda do muro de Nova York


Os jornais brasileiros dão grande destaque ao movimento conservador dos investidores internacionais, que retiraram ativos das bolsas de valores, e no dizer de um colunista da Folha de S.Paulo, voltam a colocar o dinheiro embaixo do colchão.


O Globo anuncia em manchete que Brasil e Rússia perdem mais com a fuga dos investidores, que buscam lugares mais seguros para seu dinheiro.


Mas nenhum deles descreve o que pôde ser testemunhado por quem estava nas ruas do distrito financeiro da Nova York nesta segunda-feira, 12 de setembro de 2008.


Para quem andava por Wall Street na segunda-feira, o clima era de fim de mundo, com multidões aglomeradas diantes dos painéis eletrônicos da Bolsa de Nova York e das corretoras, e disputando impressos produzidos às pressas e distribuídos de mão em mão.


A impressão que se tem é que os jornais relatam apenas o que aparece nas telas dos sites de análise financeira, e se esquecem de observar o mundo real.



O prêmio Nobel de Economia Josef Stiglitz, entrevistado na edição de hoje pelo Estado de S.Paulo, afirma que a queda de Wall Street significa para o fundamentalismo de mercado o que representou a queda do muro de Berlim para as economias socialistas do Leste Europeu, em 9 de novembro de 1989.


Para os distraídos, interessante lembrar que wall street quer dizer a rua do muro.


Mas a imprensa ainda se nega a admitir que a atual crise financeira pode significar muito mais do que uma turbulência passageira.



O Globo é o único a destacar na primeira página o significado histórico da estatização, pelo governo americano, da empresa de seguros AIG, questionando se a decisão do Banco Central americano de nacionalizar grandes empresas do setor financeiro não seria a inauguração do socialismo do século XXI.


Interessante lembrar que, no dia 31 de julho passado, quando o presidente venezuelano Hugo Chavez anunciou a compra do Banco da Venezuela para transformá-lo numa espécie de Caixa Econômica Federal, para financiar projetos sociais, a imprensa procurou desmoralizá-lo, afirmando que ele promovia o retrocesso da Venezuela ao socialismo.


Quando o governo Bush usa dinheiro público para salvar empresas privadas, está agindo em defesa da economia global. 


Diversos analistas, não apenas na imprensa brasileira, destacam movimentos que consideram sinais de insanidade do mercado, como o aumento de mais de 9% na cotação do dólar-ouro na Bolsa Mercantil de Nova York.


Mas os elementos de uma análise mais profunda do que acontece com a economia globalizada ainda não permitem ao leitor não especializado e não contaminado por pressupostos ideológicos entender o estado do mundo.


A imprensa pode fazer melhor.


O ministro falante


O ministro da Defesa, Nélson Jobim, leva preocupações aos jornais ao defender, na CPI dos grampos telefônicos, o fim do sigilo da fonte na atividade jornalística.


Jobim sugeriu aos deputados que prestem atenção ‘não apenas no interceptador ilícito, mas também no vazador de informações’.


Se não fechar as duas pontas, vai continuara acontecendo o que está acontecendo, disse o ministro.



Ao colocar em discussão se o sigilo da fonte deve ser absoluto ou se pode ser relativizado em casos constitucionais, o ministro da Defesa atinge no âmago o que os jornalistas consideram o princípio da liberdade de informação.


É nesse pressuposto que se fundamenta a confiança da sociedade na atividade jornalística, uma vez que, sem a declaração da origem de uma informação, a credibilidade da notícia depende apenas de quem a veicula, o que pode diferenciar um jornalista de um mero fofoqueiro.



Jobim observa que já houve casos em que o STF relativizou direitos constitucionais e insinuou que jornalistas podem usar o preceito da liberdade de expressão para agir com irresponsabilidade.


Claro que o mesmo pode ser dito sobre advogados, economistas, médicos e muitos outros campos profissionais, mas o tema em questão era o vazamento, pela imprensa, de informações obtidas através de grampos ilegais.


Interessante observar que a Associação Nacional de Jornais considerou tão grave a declaração que pediu tempo para reffletir sobre a resposta, mas a Federação Nacional dos Jornalistas saiu rapidamente em defesa do princípio constitucional.