Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Ainda fora do debate
>>Bicentenário esquecido

Ainda fora do debate

A imprensa brasileira ignorou quase completamente o encontro Sustentável 2008, realizado na semana passada pelo Conselho Empresarial Brasileiro pelo Desenvolvimento Sustentável em Vitória, Espírito Santo.

O evento fez parte de uma série de iniciativas que envolvem algumas das maiores empresas que atuam no País, e que discutem modelos possíveis de desenvolvimento capazes de conciliar a necessidade de lucros da iniciativa privada com a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida da população.

A novidade desse tipo de acontecimento é a presença de empresários e executivos em debates sobre políticas públicas que objetivem induzir o desenvolvimento do País de forma sustentável.

Segundo pesquisa apresentada em uma das sessões pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância, realizada em parceria com o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, a imprensa ainda demonstra baixíssimo interesse sobre o tema.

Em geral, a imprensa brasileira, repetindo atitude da mídia internacional, passou a se interessar mais pela questão ambiental depois da divulgação do relatório da ONU sobre mudanças climáticas, em fevereiro de 2007.

Mas o noticiário continua ignorando a inclusão do tema das carências sociais como parte vinculada às transformações que se impõem ao ambiente de negócios e ao Estado.

É sabido que a imprensa não costuma colocar em debate a validade do sistema econômico, mas deve causar estranheza nos leitores mais atentos o fato de a mídia seguir na retaguarda de assunto tão relevante, quando muitas empresas de variados setores se expõem ao escrutínio dos especialistas.

Se a imprensa desse repercussão ao que se apresenta em eventos como o Sustentável 2008, muito provavelmente a opinião pública também poderia ser mobilizada para acelerar as mudanças necessárias na economia, nos negócios e na política.

Bicentenário esquecido

Ouça o comentário de Alberto Dines:

– Está sendo badalado como o ‘o mais importante evento da indústria jornalística brasileira’. Logo se imagina que o 7º Congresso Brasileiro de Jornais que começa hoje em S. Paulo deverá comemorar os 200 anos da criação da imprensa brasileira apresentando-a como a instituição que impulsionou decisivamente o desenvolvimento cultural e político do país. Nada disso: os 800 inscritos no evento querem discutir como serão os jornais no ano 2020 e como será a ‘Re-construção do Jornal na Era Digital’. O pessoal da indústria jornalística acha que está tudo bem com os jornais de hoje, só está interessado no futuro. Aliás, o que é exatamente a ‘indústria jornalística’? Um conjunto de gráficas onde se imprime qualquer coisa desde que produza lucros? Não era isso que pensava o patriarca da imprensa brasileira, Hipólito da Costa que, em 1808, via o jornalismo como um serviço público. Uma indústria, em teoria, está a serviço de si mesma ou dos seus acionistas. Acontece que na agenda do grandioso evento de hoje e amanhã não está prevista nenhuma menção ao bi-centenário do nosso jornalismo. O ministro da Indústria e Comércio, Miguel Jorge, será o principal orador e na dupla condição de veterano jornalista e autoridade governamental certamente lembrará aos patrocinadores do Congresso que não se pode pensar no futuro, sem rever o passado e entender o presente. O que acontecerá em 2020 depende exclusivamente do desempenho atual. E, no momento, os alegres participantes do 7º Congresso de Jornais estão empenhados apenas em esconder os 200 anos da imprensa. Uma instituição ou uma indústria que desconhece o seu passado condena-se a repetir os erros que cometeu.