Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>Antes tarde do que nunca
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Antes tarde do que nunca

A chamada grande imprensa finalmente despertou para o risco de ser contrabandeada para dentro da legislação a reabertura dos bingos e dos cassinos de máquinas caça-níqueis. Quase em cima da hora, uma vez que os agentes da jogatina no Congresso Nacional se movimentam com agilidade e contam com apoios importantes. O próprio líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, tem contribuido para dar regime de urgência ao projeto que propõe legalizar o jogo.
 
Nesta terça-feira, data em que o lobby da jogatina planejou juntar esforços para empurrar o projeto dentro da pauta de votações, os jornais finalmente resolvem atentar para o assunto.

Até então, o tema vinha sendo abordado em notas curtas e em comentários de alguns colunistas.

Ainda assim, a imprensa vem tangida por um grupo de trabalho coordenado pelo Ministério da Justiça, que divulgou um documento enviado à Câmara, no qual alerta os deputados para o fato de que a aprovação de uma lei que libera os bingos beneficiaria grupos criminosos.
 
O texto desmonta os principais argumentos dos defensores da jogatina, entre os quais se destaca o sindicalista e deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, cujo currículo recomenda uma atenção especial da sociedade.

Para começo de conversa, diz o documento, a proposta de transfeir recursos financeiros dos bingos para a saúde não pode ser cumprida porque seria inconstitucional.

Segundo o Ministério da Justiça, o Estado não teria condições de  fiscalizar o jogo e conter a “sanha lucrativa da criminalidade organizada”.
 
Em outras páginas dos jornais, noticia-se que o consumo de crack já se estende por 95% das cidades brasileiras, sendo que apenas 15% delas têm alguma estrutura para atendimento dos dependentes.

A epidemia da droga devastadora agora é nacional.

O governo federal não parece ter uma estratégia para combatê-la e a tendência é que a situação se torne ainda mais grave nos próximos anos.

A imprensa parece não enxergar a conexão entre fenômenos aparentemente distantes, mas cuja interrelação já foi devidamente demonstrada por especialistas: quando atacados em uma de suas fontes de renda, os investidores do crime organizado buscam assegurar o resultado financeiro em outra área, sempre além dos limites da lei.
 
Com a guerra declarada aos pontos de droga nas favelas do Rio de Janeiro, o negócio se diversifica e se espalha por todo o País. Com a droga sob cerco, o dinheiro do crime busca uma saída legal, através da jogatina.

Ainda que tarde, menos mal que os jornais comecem a dar mais atenção para os movimentos da bancada de aluguel no Congresso Nacional.
 
Observatório na TV

A Folha de S.Paulo acompanha com interesse e noticia, nesta terça-feira, a definição da norma ISO 26000, que deve se tornar a principal referência de responsabilidade social nas empresas e outras organizações.

Foram cerca de oito anos de debates que envolveram 450 especialistas de 90 países e 40 entidades internacionais.

A nova norma deve juntar e consolidar um emaranhado de acordos, tratados e manifestações de boas intenções, formando um conjunto de diretrizes para que a responsabilidade social possa ser adotada como parte das estratégias de negócios.
 
Essa definição deixa para o passado a velha prática da filantropia, baseada no princípio caridoso da boa vontade, que costumam mover fortunas em direção aos menos favorecidos, mas não tem sido capaz de produzir mudanças significativas e duradouras no cenário de desigualdades sociais.

Em agosto, o fundador da Microsoft, Bill Gates, juntou-se ao investidor Warren Buffett e ambos convenceram 40 bilionários americanos a doar pelo menos metade de sua riqueza à caridade.

Outras iniciativas, como a do financista George Soros, injetam bilhões de dólares em instituições filantrópicas ou de defesa de direitos civis.
 
No Brasil, essa prática segue muito restrita, e pode ser estimulada com o advento da norma ISO 26000.

Supõe-se que a corrupção, ou a notícia da corrupção, que espalha a insegurança sobre a destinação de recursos doados a boas causas, seja um importante empecilho.
 
O Observatório da Imprensa na TV vai discutir nesta terça-feira como a mídia pode contribuir para incentivar a prática da filantropia, ou, em termos mais atualizados, da responsabilidade social.

Às 10 da noite na TV-Brasil, em rede nacional. Em São Paulo, canal 4 da NET e 181 da TVA.