Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Apuração sem atrelamento
>>Novas oportunidades

Melhoria do Estado
 
Policiais federais foram o ponto de partida, em 2004, de uma operação que chegou depois aos mais altos escalões da República. Foram citados até agora na Operação Navalha juízes, governadores, ministros, altos funcionários, senadores, deputados, além de empresários e lobistas.
 
A magnitude do processo motivou um esforço de cobertura jornalística diferenciado. É necessário também estudar o destino que tiveram operações desse tipo no passado e como a imprensa contribuiu para aumentar ou não o grau de pressão política democrática em busca de melhorias no funcionamento do Estado brasileiro.
 
Deu no jornal
 
A Transparência Brasil oferece em seu site o serviço Deu no jornal. Utilíssimo para quem quer saber tudo que saiu sobre determinado assunto. No caso, a Operação Navalha. O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, Marcelo Beraba, disse ontem ao Observatório da Imprensa que vai propor formas de colaboração da Abraji com a Transparência para criar uma instância de referência e “amarração” do noticiário sobre o trabalho da Polícia e da Justiça.


Apuração sem atrelamento
 
Alberto Dines comemora o trabalho dos jornais na cobertura da Operação Navalha, mas diz que eles não podem ficar atrelados a declarações de autoridades.
 
Dines:
 
– O jornal impresso vai mesmo acabar? Não parece: aqui no Brasil eles vão bem, obrigado – têm ainda um longo e saudável futuro pela frente. A prova está no comportamento das revistas neste último fim de semana: como a operação “Navalha” da Polícia Federal começou na quinta-feira e as revistas fecham na sexta para serem entregues no sábado, os jornais esbaldaram-se sozinhos durante dois dias seguidos até que aparecessem as revistas com uma cobertura visivelmente deficiente. E no próximo fim de semana, quando forem publicadas as próximas edições das revistas, os jornais já estarão muito mais avançados na cobertura. Os portais de notícias na Internet tiveram um desempenho não muito melhor do que o das revistas – como não dispõem de grandes equipes, contentam-se geralmente em reproduzir o que sai nos jornais. As duas vitórias não conferem aos jornais o título eterno de campeão noticioso. Se ficarem atrelados apenas às declarações das autoridades, esquecidos de avançar nas próprias investigações e na costura de referências a navalha vai ficar apenas nas mãos da Polícia Federal que também tem seus dias de “barbeiro” – basta lembrar que até hoje não indicou a origem do dinheiro do dossiê Vedoin.


DVD para todos
 
O Globo informa hoje que a Polícia Federal produziu um DVD da Operação Navalha, com trilha sonora do filme O Poderoso Chefão. Sugere-se a alguma alma republicana que coloque esse DVD no site de vídeos You Tube, para compartilhamento pelos cidadãos comuns.


Novas oportunidades
 
A imprensa está devendo aos cidadãos um mapa das empresas que são fortes no planejamento e na execução de obras públicas. O espaço deixado pela Gautama, se seus dirigentes vierem a ser condenados pela Justiça, não ficará vazio. Como em outros episódios, esta Operação Navalha vai promover uma rearrumação do mercado. Não se deve perder de vista que, segundo dados da Justiça Eleitoral, embora os bancos tenham aumentado sua participação, ainda são as empreiteiras de obras públicas as principais financiadoras declaradas de campanhas políticas no Brasil.


Dois métodos
 
A Polícia Federal promove operações de altíssima implicação política e social. Os métodos usados são os da espionagem. Em linguagem mais palatável, trabalho de inteligência. Não corre sangue. O assunto, bem ou mal instruído, vai para os tribunais. É um processo que pode ser considerado civilizatório.
 
No Rio de Janeiro, informa hoje o Globo, 207 pessoas morreram em supostos confrontos com a polícia nos dois primeiros meses de 2007. Foi o mais violento início de ano na cidade em uma década. Os métodos são os dos grupos de extermínio. E é rigorosamente impossível desenhar as fronteiras entre legalidade e ilegalidade. O processo, neste caso, é de avanço contínuo da barbárie.


Queixas paraguaias
 
Sejam ou não justas as violentas críticas publicadas na imprensa paraguaia contra a relação estabelecida com o Brasil para a construção e exploração da usina de Itaipu, seria insensatez desconhecer que existe um contencioso entre os dois países. E a melhor maneira de enfrentar esse quadro é jogar luz sobre os problemas. Tarefa na qual a imprensa tem um papel decisivo.