Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Atletas cubanos
>>Sarney é convocado

O destino de Renan

O Conselho de Ética do Senado foi ligeiro em aprovar o relatório que recomenda o julgamento de Renan Calheiros.

Mas demorou cem dias para se reunir.

A imprensa ainda não explicou o que estaria por trás dessa súbita urgência.

Ouça o comentário de Alberto Dines.

Dines:

– Por acaso, estavam com a faca no pescoço os membros das duas comissões do Senado que ontem votaram  pela cassação  de Renan Calheiros? Estavam acuados pela  ‘imprensa golpista’ os senadores do PT que votaram contra um aliado tão importante do governo? Prestar atenção ao clamor da sociedade não é prova de submissão à mídia. É prova de consciência, decência, senso de justiça. Esta tentativa de diabolizar a imprensa justamente quando ela consegue comprovar malfeitorias só serve aos malfeitores. O presidente do Senado foi primeiramente acusado pela Veja, dez  dias depois desmascarado numa reportagem do Jornal Nacional e em seguida denunciado novamente por Veja em outros ilícitos. A reação do senador Renan não foi muito diferente da reação daqueles que passam o dia inventando teorias sobre os ‘complôs da mídia’: armou uma CPI para intimidar a Editora Abril que edita Veja. Esqueceu o senador que ameaças à imprensa só a fortalecem.

Luciano:

Atletas cubanos

O caso dos atletas cubanos que ensaiaram uma fuga para a Alemanha e foram mandados de volta está outra vez no noticiário.

Segundo o Estado de S.Paulo, uma comissão de deputados vai a Havana para verificar se eles estão sendo bem tratados pelo governo de Fidel Castro.

A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara decidiu ontem mandar três representantes para conversar com os boxeadores Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, que foram localizados pela polícia após haverem escapado durante os Jogos Panamericanos e enviados de volta a Cuba.

Os deputados querem saber se a deportação dos atletas ocorreu dentro da lei e se eles estão sofrendo represálias.

Ainda a CPMF

Na semana em que o julgamento de Renan Calheiros coloca em risco a integridade da sua bancada no Congresso, o governo se empenha em aprovar a prorrogação da CPMF.

Ontem, segundo os jornais, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, afirmou que, se o tributo for extinto, o governo terá de refazer toda a proposta de orçamento para 2008, sem garantias de cumprimento das metas na política social.

Os jornais ainda não fizeram essa relação, mas é exatamente nesse ponto que a oposição pretende apertar: enquanto o governo pede a manutenção do recurso, a oposição diz que o governo precisa gastar menos.

O presidente Lula, que montou sua popularidade na eficiência da política econômica e nos programas sociais, anunciou ontem a ampliação do programa Pró-Jovem, que agora pretende alcançar mais de 4 milhões de excluídos na faixa etária de 15 a 29 anos.

Os jornais divulgam o anúncio do programa com destaque para o discurso do presidente, mas ficaram devendo informações sobre o alcance e a relevância da iniciativa.

Para entender

O julgamento de Renan Calheiros, quarta-feira da semana que vem, será o grande teste para a política de alianças adotada pelo Partido dos Trabalhadores desde seu primeiro mandato.

Até aqui, a estratégia de distribuição do poder, que é legítima mas se torna perigosa quando os parceiros não são confiáveis, deu ao governo uma folgada maioria no Congresso.

Mas a grande colcha de retalhos que sobreviveu até mesmo ao escândalo chamado de mensalão ameaça se desmanchar.

Esse é o cenário que está nos jornais de hoje, em declarações, cálculos e opiniões.

Muito além da pensão

Renan Calheiros tem sido um aliado eficiente na presidência do Senado.

Mas sua insistência em se agarrar ao cargo, tentando até o último minuto o voto secreto no Conselho de Ética, acabou criando condições para o surgimento de novas denúncias.

Algumas delas ameaçam manchar outros personagens.

O governo não tem interesse em sofrer novos ataques.

Os senadores não querem a imprensa investigando suas vidas.

De tanto se debater, Renan Calheiros acabou levantando mais poeira contra si.

Além da acusação de ter usado um lobista da empreiteira Mendes Júnior para pagar pensão à sua ex-amante Mônica Veloso – inicialmente a única acusação a que teria de responder – agora ele precisa explicar a compra de emissoras de rádio e até um possível esquema de lavagem de dinheiro.

O caso ficou muito mais complicado do que o fato de ter caído em tentação.

O homem não é apenas ‘bicho besta’, como disse sua mulher, ao explicar a fraqueza do marido.

Agora ele também é suspeito de corrupção em larga escala.

Sarney é convocado

Os próximos dias vão exigir extrema atenção dos jornalistas.

Pelas contas que a imprensa faz hoje, Renan Calheiros tem o apoio de 46 senadores, contra 35 que votariam pela sua cassação.

Os que defendem a saída do presidente do Senado precisam de 41 votos para ter a maioria absoluta.

Renan vai usar todos os recursos para manter seus aliados.

E ele já demonstrou que entre esses recursos está a chantagem.

O governo convocou uma velha raposa política para ajudar a desatar o nó.

José Sarney entra em campo para compor uma saída.

Primeiro, ele tentará salvar o mandato de Renan de modo convincente, para evitar que a opinião pública fique com a impressão de que tudo terminou em pizza.

Se não for possível salvar Renan e a reputação do Senado, sacrifica-se Renan e Sarney teria como tarefa adicional salvar a aliança governista.

A cassação de Renan Calheiros pode levar insegurança a muitos parlamentares que hoje apóiam o governo Lula.

Sarney foi convocado para ocupar a presidência do Senado, no caso da saída de Renan.

O governo precisa do velho cacique para garantir a manutenção da maioria no Congresso.

Divergências

Os jornais vasculharam o Senado após a votação no Conselho de Ética, ontem de manhã, e na Comissão de Constituição e Justiça , à tarde.

Mas o resultado da colheita é desigual: o Globo diz que Renan Calheiros está otimista e insinua até que ele vai retomar as ameaças contra outros parlamentares para somar votos a seu favor.

O Estado de S.Paulo, ao contrário, afirma que o presidente do Senado confidenciou a amigos que está pensando em renunciar.

A Folha observa que a estratégia de Renan seria entregar a presidência do Senado a José Sarney, um nome aceito até pela oposição, para escapar de cassação.

Se a votação fosse hoje, concordam os jornais, Renan teria condições de escapar de perder o mandato.

Mas o próprio acusado considera que sua situação vai piorar nos próximos dias.

Ele sabe que a imprensa não vai dar trégua.