Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

>>Boa safra de anúncios
>>Reabilitando Hipólito

Boa safra de anúncios

A Folha de S.Paulo reproduz parcialmente um estudo da consultoria ZenithOptmedia, pertencente ao grupo francês Publicis, informando que a receita publicitária dos jornais brasileiros deve crescer 11,8% neste ano.

O tema, já abordado neste Observatório no último dia 15, precisa ser analisado no contexto das mudanças que acontecem nos meios de comunicação desde o advento da Internet, e que se aceleram a partir do desenvolvimento das chamadas redes sociais.
 
A previsão de aumento do faturamento dos jornais também deve ser entendida como parte do crescimento do bolo publicitário em geral.

No entanto, os diários de papel devem ter um aumento de faturamento menor, em termos porcentuais, comparativamente aos outros meios.

O gráfico geral do setor publicado pela Folha nesta sexta-feira, com os números desde 1998 e previsões até 2012, mostra que os gastos com publicidade tendem a acompanhar o desempenho da economia.

Há um ponto fora da curva em 2009, quando os investimentos dos anunciantes cresceram 1% no Brasil enquanto o PIB tinha um desempenho de 0,2% negativo.

Mas os dados não revelam a tendência que se consolida internamente, com a internet obtendo cada vez maiores fatias do bolo  publicitário e perspectivas nada otimistas para a mídia impressa.
 
Além disso, a reportagem da Folha deixa de lado o aspecto histórico do trabalho da ZenithOptimedia, que permite observar o comportamento do setor no longo prazo.

O jornal não informa, por exemplo, que o crescimento da publicidade nos diários de papel também é efeito do lançamento ou renovação de dezenas de novos títulos em todo o Brasil, ocorrido nos últimos anos, principalmente de jornais chamados “populares”, destinados à nova classe média nascida da melhoria das condições de vida da população mais pobre.


Também entraram em cena novos protagonistas, como o grupo luso-brasileiro Ongoing, que lançou o jornal de economia e negócios Brasil Econômico e consolida a compra de O Dia no Rio de Janeiro.
 
O aumento da receita de publicidade nos jornais, ainda que a reboque do momento de euforia dos anunciantes, deve ser comemorado.

Mas os números não autorizam os jornais a deixar de lado o desafio de assegurar o futuro da mídia tradicional diante da concorrência dos novos meios.
 
Reabilitando Hipólito

Alberto Dines:

– O dia 21 de Abril ganhou este ano mais um significado: além de lembrar a execução de Tiradentes, mártir da nossa independência, a morte de Tancredo Neves, mártir da legalidade e  além de festejar os 50 anos da criação de Brasília, a data tem um significado secreto: acabou o embargo ao nome de Hipólito da Costa no venerando Estadão. É verdade: o jornalão paulistano, paladino da luta contra a censura, não gostava da figura do patriarca da imprensa brasileira e, por isso, o mantinha numa espécie de quarentena.

Hipólito da Costa não existia, não podia ser citado. Nesta quarta-feira, o nome de Hipólito de Costa foi resgatado galantemente pela historiadora Isabel Lustosa na Página Dois do Estadão porque foi um dos primeiros a vocalizar no seu Correio Braziliense, ainda em 1813, a necessidade de transferir a capital da então colônia portuguesa do Rio para o interior do país.

E porque razão estava Hipólito da Costa – o pai do jornalismo livre – na “lista negra” de um intransigente defensor das liberdades como o Estado de S. Paulo? É evidente que não se tratava de uma antipatia pessoal: Hipólito da Costa jamais escreveu uma linha contra o jornalão, aliás fundado 83 anos depois do seu mensário. O Estadão não gostava de Hipólito da Costa simplesmente porque foi maçom e na condição de maçom foi preso pela inquisição lisboeta.

Assim, lembrar Hipólito da Costa significava lembrar a penosa censura eclesiástica que tanto atrasou a nossa entrada na Era de Gutenberg e nosso desenvolvimento cultural e intelectual. É possível que, vivo, Hipólito fosse hoje um fiel leitor do Estadão, mas como representa a luta contra o  obscurantismo clerical, pagou retrospectivamente pelo pecado de acreditar no livre arbítrio e na liberdade individual. Nossa imprensa finalmente recupera a sua história e seus personagens. A Opus Dei deve estar muito preocupada. LINK PARA O ARTIGO